Depois de nove meses com um pequeno ser dentro da barriga, é chegada a tão esperada hora: os futuros pais correm para o hospital, a família e os amigos lotam a sala de espera e, depois de algumas horas, estão todos espremidos no vidro do berçário, derretidos pelo bebê. Passado esse momento de euforia, mãe e filho precisam de tempo para começar a se conhecer melhor. É na maternidade que acontecem os primeiros toques e descobertas. Mas só mesmo quando a família vai para casa é que vem a ansiedade e surgem os medos, recheados de dúvidas. Tudo normal! Você não é a primeira mãe a sentir isso e nem será a última. Dá pânico, mesmo, e a gente está aqui para ajudar com o máximo de informação possível.
Experiência de mãe
“Assim que entramos no carro, o bebê começou a chorar e não parava mais. Lembro de ter sentido vontade de chorar também. Paramos numa farmácia para comprar os medicamentos que a médica havia me receitado e, nos quase 20 minutos que ficamos no estacionamento, ele só chorava. Pensei até em voltar ao hospital para saber se tinha alguma coisa errada com ele”. Pânico. Esse foi o começo da história da assistente administrativa Ana Carolina, mãe do João Victor, hoje com 1 ano e 4 meses. Embora essa seja uma cena comum entre as mães e, portanto, natural que assuste um pouco, muitas se sentem culpadas por não entender o motivo de tantas lágrimas ou por ficar com medo a cada nova situação.
Mas é preciso lembrar que isso é natural – e normal. Além da ansiedade e da mistura de emoções, há a preocupação de fazer tudo da melhor maneira possível. Sobre esse assunto, a psicóloga clínica Amanda Lima afirma que é importante deixar claro que a imagem de “mãe perfeita” não existe. Segundo ela, as meninas costumam ser preparadas desde a infância para a maternidade – seja com brincadeiras, desenhos ou atividades. “A criança idealiza esse papel como um modelo de perfeição, tendo que ser doce, amável, serena e disponível o tempo inteiro. Quando a mulher se depara com a realidade, que traz também culpa e medo, acaba se assustando consigo mesma, como se esse sentimento fosse errado”, explica.
Além disso, conseguir estabelecer uma rotina pode levar alguns dias, afinal, trata-se da chegada de um novo membro à família. Membro, aliás, que vai precisar de todos os cuidados durante um bom tempo. Entretanto, não é preciso se preocupar. Em geral, mãe e bebê vão se entendendo aos poucos e logo encontram um ritmo. Algo que pode ajudar bastante nesse processo é o apoio do pai e de familiares próximos. “É importante que eles estejam mais preocupados em cuidar da mulher do que do bebê, pois os primeiros três meses exigem muito da mãe, tanto emocional quanto fisicamente”, diz a psicóloga especialista em casais que tentam engravidar Luciana Leis, filha de Roberto e Dina.
Dedicação de mãe
Aquela imagem da mulher com paninhos no ombro, cabelo despenteado e olheiras de sono não fazem parte apenas dos filmes. De fato, as primeiras semanas podem demandar muita energia e, com isso, as mulheres acabam deixando tudo de lado para cuidar apenas do bebê. “Cada mãe tem um jeito muito particular de lidar com a maternidade. Muitas realmente gostam de se dedicar integralmente à criança, já que esse é o momento em que elas ainda estão fusionadas. Mas é importante arrumar um tempinho para se cuidar, pois isso ajuda a manter a autoestima”, explica Luciana. Entretanto, é comum o desejo de ficar apenas com o recém-nascido e, se é isso mesmo, o tempo individual deve ser respeitado, afinal, “palpites de fora nem sempre ajudam”, afirma.
Por que ele está chorando?
Ouvir um bebê chorar sem parar pode ser desesperador. Mas fique calma (rsrsrs)- , até os 2 ou 3 meses essa é a única forma de comunicação que o bebê vai ter e, em geral, não é motivo de preocupação. A química Josélie Souza lembra como foi essa fase de conhecimento entre ela e o filho Enzo, hoje com 4 meses: “Eu não sabia distinguir se o choro era de fome, cólica, fralda suja ou sono. Acabava ficando perdida”, lembra. Mas o tempo e a experiência ajudam sempre, e logo você passa a entender o motivo das lágrimas e dos gemidos. No começo, procure observar a situação: se já faz algum tempo que ele mamou, se precisa ser trocado ou, talvez, se só quer colo. Por volta da segunda semana de vida, o bebê poderá começar a ficar com o rostinho vermelho e encolher as pernas enquanto chora: são as famosas cólicas intestinais. Aí aquelas velhas técnicas de nossas avós podem ajudar, como as bolsas térmicas e massagens na barriga. Porém, se nada funcionar, converse com o pediatra e lembre-se de nunca dar medicamentos por conta própria.
A amamentação
O assunto que pode assustar. Será que vou ter leite? Vou conseguir amamentar por muito tempo? Vai doer? Amamentar não é fácil, mas esse é um vínculo muito especial entre mãe e bebê e, por isso, toda informação vale a pena. Além de encontrar a posição ideal para que ambos fiquem confortáveis – e nesse caso o uso de um travesseiro como apoio pode ser muito útil – o ambiente deve ser tranquilo e silencioso. “Faça da amamentação um momento prazeroso”, aconselha a neonatologista Sonia Manrique, mãe de Dorival e Rafael.
É claro que alguns problemas podem aparecer, como as conhecidas fissuras nos mamilos, que dificultam a amamentação. Outro empecilho pode ser a produção de leite insuficiente e, aí, entram também questões psicológicas, como no caso da química Josélie, que passou por períodos difíceis durante a gravidez. “Fiquei bastante triste durante a minha gestação com a perda de um familiar mais a impossibilidade de ter a minha mãe ao meu lado nesse momento e os problemas de saúde do meu pai. Foi bem difícil o momento da amamentação. Mas faz parte da vida. Meu filho está perfeito.” De fato, não conseguir amamentar pode ser uma realidade, mas não é preciso se sentir culpada, já que nem sempre as coisas acontecem como queremos ou planejamos. Se isso acontecer, converse com seu médico – ele vai te ajudar a encontrar alternativas saudáveis.
Peça ajuda
Ficar sozinha com o bebê pode gerar alguns medos nas mães que nunca passaram por essa experiência antes. Óbvio. Agora, sem o auxílio das enfermeiras da maternidade, chega o momento de colocar em prática toda aquela teoria dos manuais e aulas pré-parto. A dica é não ter vergonha de pedir ajuda e não dar ouvidos aos palpites de vizinhas e parentes. “O meu marido está sempre cuidando da gente, desde cozinhar até cuidar do bebê. Ele foi muito importante, também na fase de amamentação porque, em geral, as pessoas mais velhas (como nossos pais) já querem introduzir a mamadeira quando percebem que o bebê está chorando demais, e eu não concordava. Ele sempre dizia que eu ia conseguir”, lembra a jornalista Luciana Porfírio, mãe de Artur, hoje com 7 meses. E é isso mesmo. Tem que tentar e escutar lá no fundo do seu coração, porque a gente sabe, mais do que ninguém, o quanto é possível fazer as coisas sozinhas ou pedir ajuda.
Saúde do recém-nascido
Não é neurose dar toda a atenção ao ambiente no qual a criança passará os seus primeiros dias de vida. A dra. Sonia Manrique explica que essa ainda é uma fase de transição para o bebê e que, por isso, precisa ser protegido. “Ele ainda não tem anticorpos suficientes para se defender de bactérias e vírus de maneira eficiente. Embora receba alguns pelo leite materno, ainda precisa tomar diversas vacinas. Se o bebê nasceu prematuro, então, os cuidados devem ser maiores”. Por isso, não é aconselhável sair para passear logo nas primeiras semanas e nem é exagero controlar as visitas. A neonatologista recomenda que os contatos com a criança sejam feitos com cuidado, especialmente no período de outono e inverno. Outra recomendação é levar o bebê todo mês ao pediatra, mesmo que ele não esteja doente. Isso é essencial! É como sabemos se ele está crescendo e se está saudável. Luciana conta que demorou algum tempo para levar o filho ao pediatra por questões do convênio médico, e que isso fez toda a diferença: “Ele chorava muito e não sabíamos que era porque tinha tanta cólica. Depois da orientação correta sobre o que fazer e quais medicamentos usar, ele melhorou até de humor!”
Fique tranquila
“Vocês estão tendo a mais sublime oportunidade: ter um filho e poder demonstrar o seu amor. Faça dessa fase uma das melhores da sua vida.” É esse o conselho da dra. Sonia para as futuras mães que estão muito preocupadas com o que vem pela frente. Cada nova etapa traz desafios e esse – cuidar de uma vida gerada por você – talvez seja o principal deles. Mas não é preciso se desesperar. Certamente, a relação com o bebê vai te mostrar o que fazer em cada situação. Tenha em mente que é a prática que vai valer mais e ela deve ser aproveitada ao máximo, como lembra Ana Carolina. “Antes do meu filho nascer, eu li matérias, blogs, comprei livros… Mas não tem jeito: nada melhor do que a experiência do dia a dia. Pode não parecer, mas o tempo passa rápido, eles crescem e acabam deixando saudades dessa fase”. Então, quando não souber o que fazer, pode dar muito colo!
CONSULTORIA: Amanda Lima, psicóloga clínica; Luciana Leis, psicóloga especialista em casais que tentam engravidar; dra. Sonia Manrique, médica neonatologista