Em algum momento de minhas incursões nas redes sociais, me deparei com uma polêmica (pois é, mais uma) sobre crianças brincarem na escola. As mães nos comentários debatiam se era válido pagar para uma escola particular deixar os filhos brincando. Quando se trata do Ensino Infantil, até 6 anos, uma boa parte concorda que brincar é importante para o processo de aprendizagem.
Mas, se o assunto é o primeiro ano do Ensino Fundamental e os seguintes, a história muda um pouco e as famílias se questionam se o brincar deveria fazer parte da escola. Bom, deveria. Deve.

Na coluna anterior, eu falei sobre o “brinquedismo estrutural”, um termo que cunhamos no Tempojunto para falarmos do preconceito que existe com relação à brincadeira ser algo de valor, sério e importante para o ser humano – criança ou não.
“Não se brinca em serviço”; “Isso é sério, não é brincadeira”, são frases que colocam na cabeça da gente que aprender e brincar são coisas opostamente diferentes. Especialmente se o objetivo dos pais é que os filhos aprendam a ler, escrever, contar e sejam alunos nota 10.
O cérebro aprende melhor quando está feliz
Em meio à preparação para o novo ano letivo, a neurociência nos revela que quando as crianças se envolvem em atividades lúdicas, ocorre uma interação fascinante em seus cérebros.
Durante a brincadeira, ocorre a liberação de neurotransmissores como a dopamina, colocando o cérebro em estado de atenção e prontidão para aprender. As experiências positivas e alegres durante o brincar tornam o aprendizado mais significativo.
A repetição dos momentos de ludicidade durante as aulas, associando o brincar ao conteúdo escolar, torna-se uma aliada poderosa. A prática de aprender envolvida em sorrisos e diversão estabelece memórias duradouras. Um cérebro feliz é mais focado, tem mais atenção e aprende mais.
Brincar em casa reforça o que foi aprendido na escola
Estudar é importante. Mas em casa, no pós-escola, as crianças precisam ter tempo de brincar e se divertir. Um tempo que hoje é tomando por infinitas horas de estudo, lição de casa, cursos extras e mais estudo, reduz a capacidade de atenção do cérebro.
A magia acontece quando a experiência positiva e alegre do brincar se transforma em memória de longa duração. Essas memórias se tornam tesouros guardados no baú da mente, prontos para serem resgatados quando necessário. É assim que a aprendizagem se torna duradoura e efetiva.
Na prática? Olha nossas dicas de brincadeira que podem, sim, estar na sala de aula do Ensino Fundamental:
- Ao brincarem de jogos que envolvem contagem de peças (truco, buraco ou porco, por exemplo – todos jogos de cartas) ou a resolução de problemas simples, como os jogos de quebra-cabeça, as crianças estimulam áreas relacionadas à matemática. Os desafios lúdicos instigam o raciocínio lógico, contribuindo para uma compreensão mais intuitiva dos conceitos matemáticos.
- Nas brincadeiras voltadas para a língua portuguesa, como jogos de palavras cruzadas, forca, ou jogos de criação de histórias a partir de imagens abstratas, por exemplo, fomentam a elaboração de narrativas (olha a redação se formando aí). Associar as letras de forma descontraída durante as brincadeiras fortalece a alfabetização e expande o vocabulário de maneira natural.
- No campo das ciências, experimentos simples e interativos são a chave para estimular a curiosidade. Brincar de fazer misturas, observar reações químicas com materiais seguros e explorar o ambiente ao ar livre são maneiras eficazes de criar uma conexão entre a diversão e a compreensão dos princípios científicos.
- Já nas aulas de história, jogos de tabuleiro temáticos podem transformar o aprendizado em uma jornada emocionante. Ao vivenciar de forma lúdica momentos históricos, as crianças internalizam os eventos de maneira mais viva e memorável.
Bora abraçarmos mais um ano letivo, lembrando que o brincar não é apenas diversão, mas uma ferramenta poderosa que contribui diretamente para o sucesso escolar. Que cada risada, cada jogo e cada descoberta se transformem em alicerces sólidos para o aprendizado de nossos filhos.