No final de 1997, um incêndio devastador destruiu uma casa na Filadélfia, nos Estados Unidos. Na ocasião, autoridades concluíram que uma bebê de apenas dez dias havia morrido tragicamente no fogo. Nenhum corpo foi encontrado, mas os vestígios no local fizeram com que a pequena Delimar Vera fosse oficialmente declarada morta.
A tragédia abalou Luz Cuevas e Pedro Vera, pais da menina, que jamais imaginaram que sua filha, na verdade, havia sido sequestrada naquela mesma noite. O tempo passou, mas a dor permaneceu. O que ninguém esperava era que, seis anos depois, Luz encontraria sua filha por acaso em uma festa infantil.

A vida como Aaliyah
Durante esses anos, Delimar passou a viver como Aaliyah. Criada por Carolyn Correa, ela acreditava ser apenas mais uma entre os quatro filhos da mulher que considerava sua mãe.
“Eu ia para a escola, tirava fotos em estúdios, fazia audições… Era uma criança sociável e feliz”, relembra Delimar em entrevista à BBC. Nos finais de semana, se apresentava em pequenos shows em casa, ao lado da irmã mais velha, Angelica.
Carolyn trabalhava à noite, então, na prática, quem mais cuidava de Aaliyah eram seus irmãos e um casal de tios. Apesar da ausência de atenção materna constante, a menina dizia amar a mulher que a criou.
O encontro que mudou tudo
Em janeiro de 2004, ao participar de uma festinha, Aaliyah sentiu-se atraída pela presença de uma mulher que não conhecia. Era Luz Cuevas.
“Ela veio até mim dizendo que eu tinha chiclete no cabelo e começou a tirar com força. Arrancou até fios”, conta Delimar. Aquela mulher misteriosa era, na verdade, sua mãe biológica, que ao ver as covinhas da menina, reconheceu imediatamente a filha que nunca acreditou ter perdido.
Luz chegou a ser chamada de louca por não aceitar a versão oficial dos bombeiros, mas no fundo, sempre soube que sua filha ainda estava viva.
O DNA revelou a verdade
Algumas semanas depois do encontro na festa, Carolyn foi intimada a levar a filha a um centro médico, onde uma amostra de DNA foi coletada.
Mas antes disso, tentou sabotar o exame: “Ela borrifava um líquido na minha boca e dizia para eu não engolir. Depois descobri que era a saliva dela”.
O exame, no entanto, confirmou: Aaliyah era mesmo Delimar. O caso ganhou as manchetes internacionais como um milagre moderno, e expôs o crime que havia sido meticulosamente encoberto por seis anos.
A adaptação à nova vida
Após a confirmação da identidade, Delimar foi retirada da casa de Carolyn e acolhida pela verdadeira mãe. Mas esse reencontro não foi fácil.
“Apesar do carinho, eu me sentia uma estranha. Era tudo muito novo. E eu ainda sentia falta da outra família que me criou”, diz.
Carolyn foi condenada a no mínimo 9 anos de prisão. Ela nunca confessou o crime, mas também não se declarou inocente. O cúmplice que ajudou a sequestrar o bebê pela janela, no dia do incêndio, nunca foi identificado.

Adolescência turbulenta e reconexão
Durante a adolescência, Delimar enfrentou sérias dificuldades para se adaptar. Aos 14 anos, foi morar com o pai, mas logo acabou sob custódia do Estado por abandono escolar.
“Li um artigo escrito por um psiquiatra sobre mim. Ele dizia que eu poderia passar por crises profundas na juventude. E foi exatamente isso que aconteceu.”
A relação com a mãe só começou a melhorar quando Delimar se aproximava dos 20 anos. Após conhecer o homem que se tornaria seu marido, reatou com Luz.
Hoje, mãe e filha compartilham um vínculo forte. “Ela virou minha melhor amiga. Ligamos uma para outra só para conversar sobre o dia a dia. Finalmente conseguimos recuperar o tempo perdido.”