No Brasil, milhões de pessoas convivem com uma condição crônica que afeta diretamente a respiração e, em muitos casos, passa despercebida. A Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), conhecida popularmente como enfisema pulmonar, atinge cerca de 15 milhões de brasileiros, mas apenas 30% dessas pessoas sabem que têm a doença.
Para debater sobre a importância do diagnóstico precoce e ampliar o conhecimento dos profissionais de saúde sobre o tema, a médica Wisia Wedzicha, uma das maiores especialistas do mundo em doenças respiratórias, esteve no Brasil em março, a convite da biofarmacêutica GSK. Durante a iniciativa “DPOC On The Road”, ela visitou centros de referência como o InCor, em São Paulo, a Policlínica Piquet Carneiro da UERJ, no Rio de Janeiro, e o Hospital Júlia Kubitscheck, em Minas Gerais.
Professora no Imperial College, em Londres, e membro do Global Initiative For Chronic Obstructive Lung Disease (GOLD), organização responsável por diretrizes globais sobre a DPOC, a Dra. Wisia reforça um ponto central: “Essa é uma doença muito subdiagnosticada em todo o mundo, porque os sintomas são insidiosos, o que significa que aparecem gradualmente. Além disso, a DPOC começa na vida jovem, mas só causa problemas realmente após os 60 anos. Portanto, é uma doença que é menosprezada.”
O que é a DPOC e por que ela preocupa tanto?
A DPOC é uma doença progressiva que afeta os pulmões e dificulta a respiração. Entre os principais fatores de risco está o tabagismo, inclusive o uso de cigarros eletrônicos. “Em primeiro lugar, parar de fumar. Além disso, precisamos conscientizar que a saúde pulmonar é uma prioridade. Os pulmões são tão preciosos quanto o coração, mas é mais fácil transplantar um coração do que regenerar um pulmão”, alerta a Dra. Wisia, que também faz um alerta sobre os perigos do vaping.
No Brasil, a DPOC é a quinta maior causa de morte e responde por cerca de 40 óbitos diariamente. Os primeiros sinais, como tosse com muco durante os meses mais frios, costumam ser ignorados. Com o tempo, surgem falta de ar e cansaço excessivo ao realizar atividades simples. “Precisamos tratar esses episódios porque sabemos que toda infecção, provavelmente, levará à progressão da doença”, afirma a especialista.
Diagnóstico precoce pode salvar vidas
Para o presidente da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), Dr. Ricardo Amorim, é essencial capacitar os profissionais da atenção primária e oferecer acesso a exames como a espirometria. “Uma coisa muito importante para os pacientes que têm DPOC é a gente treinar a atenção primária e dar acesso à espirometria, para que os profissionais saibam identificar os sintomas. Também é importante fazer campanhas para aumentar a conscientização a respeito da doença”, reforça.
O tratamento tardio da DPOC pode aumentar em até 49% o risco de morte nos dois anos seguintes a uma exacerbação grave – nome dado às crises respiratórias que exigem internação hospitalar.

DPOC e outras doenças: quando o corpo inteiro sente
O impacto da DPOC vai muito além dos pulmões. Segundo o Dr. Ricardo Amorim, há uma forte ligação entre a DPOC e as doenças cardiovasculares, já que ambas compartilham fatores de risco semelhantes. “O tabagismo é um fator de risco comum para ambos os grupos de doenças respiratórias e cardíacas. Pacientes que têm DPOC e que possuem crises constantes morrem mais de doença cardíaca do que o grupo que não exacerba”, explica.
O especialista também destaca outras condições que podem agravar a evolução da DPOC, como obesidade, diabetes, transtornos psiquiátricos e doenças neurológicas. O aspecto emocional é um fator importante na adesão ao tratamento.
A Dra. Wisia concorda e complementa: “As crises têm impacto na qualidade de vida, na hospitalização, na progressão da doença, na mortalidade e nos estados psicológicos também. Sabemos que as exacerbações, particularmente as hospitalizadas, estão associadas a um aumento na quantidade de eventos cardiovasculares.”
A cada ano, o Brasil registra cerca de 125 mil internações por conta da DPOC. Após uma crise grave, o risco de infarto chega a dobrar.
O papel do VSR nas complicações respiratórias
O Vírus Sincicial Respiratório (VSR) tem sido identificado como um dos principais causadores de crises em pessoas com DPOC. Estima-se que ele esteja presente em 10% dos episódios de agravamento da doença. “Pacientes com DPOC geralmente são mais suscetíveis a infecções virais. Originalmente, a importância do VSR foi vista durante as hospitalizações, particularmente, em pacientes idosos frágeis”, comenta a Dra. Wisia.
Ela destaca que, por depender de uma boa resposta imunológica, o VSR representa um grande risco para quem tem imunidade comprometida, como os pacientes com DPOC. “Este é um vírus que depende da resposta imune e, com a imunidade enfraquecida, você tem mais problemas com o VSR”, completa.
Além disso, a infecção por VSR pode levar à pneumonia e inflamações severas nas vias respiratórias, sendo especialmente preocupante em pacientes que já têm doenças pulmonares pré-existentes.
A importância da vacinação
Frente a esse cenário, a vacina contra o VSR é uma ferramenta poderosa para proteger pacientes vulneráveis. Dra. Wisia reforça: “Toda vez que um médico vê um paciente com DPOC, ele deve perguntar sobre suas vacinas. Se eles não tiverem tomado, expliquem que as vacinas têm um perfil de segurança favorável, foram extensivamente testadas e são eficazes.”
Ela acrescenta que manter a estabilidade do quadro clínico é essencial, e prevenir infecções como o VSR faz parte desse cuidado. “Queremos que um paciente seja o mais estável possível, sem crises. O VSR pode levá-los ao hospital e a todas as complicações da hospitalização. Pode ser uma condição muito desagradável.”
A vacina da GSK, por exemplo, demonstrou 94% de eficácia contra casos graves no primeiro ano e uma taxa de 62,9% de proteção ao longo de três temporadas do vírus.