Com o passar dos anos, é natural que o corpo passe por algumas transformações — e isso inclui o sistema reprodutivo feminino. Uma das mudanças mais relevantes ocorre na qualidade dos óvulos. Mas você sabe por quê?
Todos os dias, nossas células sofrem pequenas agressões provocadas por fatores como exposição ao sol, poluição, estresse, alimentação e até o próprio envelhecimento. Essas agressões podem causar danos ao DNA — o “manual de instruções” que orienta o funcionamento das células. Quando isso acontece com os óvulos, pode haver impactos na fertilidade.
Segundo o Dr. Rodrigo Rosa, pai de Giovanna e Rafael, colunista da Pais&Filhos, médico especialista em Reprodução Humana, “embora o corpo possua mecanismos naturais de reparo, se o dano ao DNA for significativo, pode comprometer a qualidade dos óvulos e aumentar os riscos de infertilidade, aborto espontâneo ou alterações genéticas”.
Autofagia: um processo essencial para a saúde celular
Um dos mecanismos mais importantes para manter nossas células funcionando bem se chama autofagia. Pode parecer complicado, mas o conceito é simples: é como se a célula tivesse um sistema próprio de reciclagem. Ela identifica componentes danificados ou desnecessários e os “limpa”, mantendo o equilíbrio interno.
“Nosso corpo conta com um mecanismo de autoreciclagem chamado autofagia, que controla a qualidade celular e desempenha um papel importante na manutenção da homeostase”, explica o Dr. Rodrigo. Esse processo é essencial principalmente em situações de estresse, como infecções, falta de nutrientes ou quando há danos no DNA.
O que a autofagia tem a ver com a fertilidade?
Um estudo recente, publicado na prestigiada revista Nature, mostrou que a autofagia é menos eficiente em óvulos que sofreram danos moderados ou graves no DNA. Esse tipo de dano é mais comum em mulheres com idade mais avançada, já que, com o tempo, a capacidade do corpo de reparar esses danos diminui.
“Quando a atividade de autofagia diminui em óvulos com DNA danificado ou em óvulos com idade materna avançada, há um risco aumentado de aneuploidia, que é uma alteração no número de cromossomos”, afirma o médico. Essa condição é uma das principais causas genéticas de aborto espontâneo e de síndromes congênitas, como a síndrome de Down.

A ciência está buscando alternativas
A boa notícia é que os pesquisadores estão estudando formas de estimular a autofagia nos óvulos, com o objetivo de melhorar sua qualidade. O mesmo estudo investigou o uso de uma substância chamada rapamicina, que já havia demonstrado bons resultados em outras células. Quando aplicada aos óvulos, a rapamicina ajudou a reduzir os danos ao DNA.
“Eles descobriram que, ao aumentar ou estimular o processo de autofagia em óvulos femininos, eles foram capazes de melhorar a qualidade dos óvulos reduzindo danos ao DNA e a probabilidade de números anormais de cromossomos”, diz o Dr. Rodrigo. Isso pode abrir portas para novos tratamentos que ajudem mulheres a preservar ou até recuperar sua fertilidade.
O que esperar daqui para frente?
Apesar dos avanços, os especialistas lembram que a autofagia é apenas uma parte de um sistema bem mais complexo. “Os estudos agora devem explorar outros mecanismos que contribuem para a má qualidade dos óvulos para, em última análise, aumentar os esforços para melhorar essa questão”, finaliza o médico.
Por enquanto, o que podemos fazer é cuidar da saúde de forma ampla — com uma alimentação equilibrada, sono adequado, acompanhamento médico e informações confiáveis. A ciência continua evoluindo, e essas descobertas trazem esperança e novas perspectivas para quem deseja formar uma família.