O encontro entre o óvulo e o espermatozoide é o ponto de partida da vida, mas os detalhes desse processo ainda são um mistério para a ciência. Agora, um estudo revolucionário publicado na revista Cell está ajudando a desvendar essa história, com a ajuda da inteligência artificial AlphaFold. A descoberta pode contribuir para avanços no tratamento da infertilidade e no desenvolvimento de novos métodos contraceptivos, inclusive para homens.
Como a inteligência artificial ajudou nessa descoberta
O AlphaFold, uma ferramenta de inteligência artificial premiada com o Nobel, ajudou os cientistas a identificar como o espermatozoide consegue “destravar” o óvulo para que a fertilização aconteça. Segundo o especialista em reprodução humana Dr. Fernando Prado, membro da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (ASRM) e diretor clínico da Neo Vita, o estudo revelou que essa interação depende de três proteínas presentes na cabeça do espermatozoide.
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O papel das proteínas na fertilização
Duas dessas proteínas, Izumo1 e Spaca6, já eram conhecidas. No entanto, o AlphaFold ajudou os pesquisadores a descobrir uma terceira proteína, chamada Tmem81, que é essencial para a conexão inicial entre o espermatozoide e o óvulo. “Essa proteína permite a primeira conexão molecular entre os dois”, explica Dr. Fernando Prado.
Os cientistas perceberam que quando o gene da Tmem81 era deletado, os espermatozoides apresentavam defeitos semelhantes aos causados pela falta das outras duas proteínas. “Isso confirma que as três são críticas para que a fertilização aconteça”, destaca o especialista.
Um trio essencial para a reprodução
Outro achado importante do estudo foi a forma como essas proteínas interagem. A inteligência artificial previu que elas se organizam em um complexo chamado trímero, o que foi confirmado por testes laboratoriais. “Quando os pesquisadores adicionaram anticorpos para qualquer uma dessas proteínas, as três foram repelidas juntas, confirmando essa interação”, explica Dr. Fernando.
Essa descoberta foi observada em células humanas, de camundongos e peixes-zebra. “Isso mostra que essa interação entre as três proteínas é essencial para a fertilização em todos os vertebrados”, complementa o especialista.
Como essa descoberta pode impactar a medicina
A pesquisa abre portas para novas investigações sobre infertilidade. “Entender como o espermatozoide e o óvulo se conectam pode ajudar a identificar causas de infertilidade e desenvolver novos tratamentos”, afirma Dr. Fernando Prado.
Além disso, a descoberta pode contribuir para a criação de métodos contraceptivos mais eficientes. “Se conseguirmos bloquear a interação dessas proteínas, podemos impedir a fertilização sem interferir na produção de hormônios, o que é uma alternativa promissora para anticoncepcionais masculinos”, explica o especialista.
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O impacto da inteligência artificial na ciência
Esse estudo também reforça a importância da inteligência artificial na pesquisa científica. “O AlphaFold é capaz de prever a estrutura de proteínas com precisão, algo que antes exigia anos de pesquisa e testes laboratorialmente caros”, pontua Dr. Fernando. “Ele tem um grande potencial para avanços na biologia reprodutiva, principalmente em pesquisas que envolvem tecidos humanos, onde há questões éticas importantes.”
Agora, o próximo passo dos cientistas é entender como o espermatozoide penetra no interior do óvulo após essa primeira conexão. Com tantos avanços, a inteligência artificial promete continuar revolucionando o que sabemos sobre a origem da vida.