Se você já ouviu falar na doença celíaca, provavelmente sabe que ela tem tudo a ver com a relação nada amigável entre o organismo e o glúten — aquela proteína presente em alimentos como pães, bolos, massas e biscoitos. Mas o que pouca gente imagina é que, além dos incômodos intestinais, ela também pode interferir na fertilidade.
Sim, é isso mesmo que você leu: uma alimentação desregulada, com presença de glúten em quem tem doença celíaca não diagnosticada ou mal controlada, pode ter impacto direto na saúde reprodutiva. E esse alerta vale tanto para mulheres quanto para homens.
A conexão entre o glúten e a fertilidade
Segundo o Dr. Fernando Prado, especialista em Reprodução Humana e diretor clínico da Neo Vita, estudos mostram que a doença celíaca pode provocar alterações no período reprodutivo. “Alguns estudos mostraram uma relação da doença celíaca com alterações importantes, principalmente com relação à redução do período reprodutivo, associados inclusive com menopausa precoce. Distúrbios menstruais, como amenorreia ou ausência de menstruação, também já foram notados”, explica.
E não para por aí. No caso dos homens, a doença também pode causar disfunções. “Eles podem ter disfunção gonadal (mal funcionamento dos testículos), o que poderia levar a problemas de fertilidade”, completa o especialista.
O que está por trás dessa relação?
Mas por que o glúten teria esse poder todo de bagunçar o sistema reprodutivo? De acordo com o médico, há duas explicações principais. A primeira está ligada à má absorção de nutrientes — algo comum em quem tem a doença e não segue a dieta correta. “A doença celíaca provoca má absorção de nutrientes que são extremamente importantes para o sistema reprodutivo, dentre eles o ferro, o ácido fólico, a vitamina K, B12, B6 e outras vitaminas lipossolúveis, que poderiam ser também responsáveis por malformações congênitas”, afirma.
Já a segunda explicação tem a ver com a natureza inflamatória da doença. Os anticorpos gerados pelo organismo celíaco podem prejudicar a função placentária e o funcionamento do sistema imunológico. “Eles afetam a capacidade de adesão do embrião no útero, o que está relacionado à maior taxa de abortamento e à restrição de crescimento do feto”, alerta.

Dieta certa faz toda a diferença
A boa notícia? Quando a doença celíaca está sob controle, ou seja, quando a pessoa segue uma dieta rigorosa sem glúten, esses riscos diminuem — e muito. “Quando a doença está controlada, ela não é considerada impactante para afetar a fertilidade. Porém, quando o paciente tem a doença ativa não controlada ou não diagnosticada, é que ela se relaciona com a infertilidade”, afirma o Dr. Fernando Prado.
Por isso, atenção redobrada com a alimentação. O ideal é cortar completamente os produtos com glúten, que incluem pães, bolos, massas tradicionais, bolachas, pizzas, cervejas e outras bebidas fermentadas com cevada, trigo ou centeio. No lugar deles, entram alimentos naturalmente livres de glúten e versões específicas desenvolvidas para celíacos.
“Por conta da exclusão total de alguns alimentos ricos em carboidratos e fibras, essa dieta é composta, em sua maior parte, de gorduras (margarina, manteigas, óleos etc), proteínas (carne em geral) e, em menor parte, de carboidratos (massas sem glúten, açúcares etc)”, explica o médico.
Quando procurar ajuda especializada?
Se mesmo com a dieta certinha os problemas de fertilidade continuarem, é hora de investigar mais a fundo. “É fundamental buscar ajuda especializada para detectar as possíveis causas e o tratamento mais indicado”, orienta o Dr. Fernando.
Fertilidade pode ser um assunto delicado, mas conhecer os fatores que podem interferir nesse processo é um passo importante. E, nesse caso, ficar de olho na alimentação pode ser um verdadeiro divisor de águas.