Se você tem filhos ou convive com crianças e adolescentes, provavelmente já percebeu como o cuidado com a saúde mental se tornou uma pauta urgente e necessária. Mas o Brasil ainda está longe de oferecer o suporte ideal nessa área, principalmente quando falamos de psiquiatria da infância e adolescência.
De acordo com o estudo Demografia Médica no Brasil 2025, o país tem atualmente apenas 6,69 psiquiatras por 100 mil habitantes. Esse número está bem abaixo da média dos países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), que gira em torno de 14 profissionais para a mesma proporção de população. E a situação se agrava quando o foco é o público infantil: há somente 827 psiquiatras da infância e adolescência certificados em todo o território nacional.
Por que é tão difícil encontrar um psiquiatra infantil?
A resposta está, em parte, na formação desses profissionais. A psiquiatria infantil é uma subespecialidade que exige um caminho de qualificação ainda mais longo e desafiador. Segundo o Dr. Marcelo Generoso, médico e coordenador da Pós-Graduação em Psiquiatria da Infância e Adolescência da Afya Educação Médica, há pouca oferta de vagas para residência médica nessa área, e as que existem estão concentradas em algumas regiões específicas do país.
“Além disso, é uma área que exige competências específicas, como a habilidade de dialogar com crianças, adolescentes, famílias e instituições escolares, o que pode gerar insegurança para profissionais que não passaram por uma formação adequada”, explica o especialista.
TEA, TDAH, ansiedade e depressão: o diagnóstico precisa ser feito cedo
A falta de profissionais se torna ainda mais alarmante quando olhamos os dados do Censo 2022, do IBGE: mais de 1 milhão de crianças e adolescentes entre 0 e 14 anos foram diagnosticados com Transtorno do Espectro Autista (TEA). A maior incidência foi entre os 5 e 9 anos (2,6%), mas as faixas etárias de 0 a 4 (2,1%) e de 10 a 14 anos (1,9%) também chamam atenção.
E o diagnóstico precoce é fundamental, como destaca o Dr. Marcelo Generoso: “Sabemos que intervenções precoces, especialmente aquelas voltadas ao desenvolvimento de habilidades sociais e comunicativas, são determinantes para o prognóstico do TEA. A atuação de profissionais capacitados é essencial para garantir abordagens baseadas em evidências e ajustadas às necessidades individuais.”

E não para por aí. Além do autismo, outros transtornos como TDAH, ansiedade e depressão também são comuns na infância e adolescência. “Esse é um período crítico de formação emocional, social e cognitiva. Quando transtornos não são identificados e tratados precocemente, os prejuízos podem se agravar”, alerta o médico.
Pós-graduações ajudam a cobrir a lacuna
Diante da dificuldade de acesso à formação tradicional, os cursos de pós-graduação lato sensu têm surgido como uma alternativa viável para ampliar a atuação de médicos interessados na área. A Afya Educação Médica, por exemplo, oferece mais de 70 cursos de pós-graduação, sendo que os voltados à psiquiatria e psiquiatria da infância e adolescência estão entre os mais procurados.
Além da qualificação técnica, esses cursos têm um impacto direto na vida de muitas famílias. Em 2024, as unidades da Afya realizaram cerca de 50 mil atendimentos médicos gratuitos, sendo que aproximadamente 10% foram direcionados a crianças e adolescentes.
Enquanto o país ainda caminha para uma cobertura ideal na saúde mental infantil, iniciativas como essa são uma esperança. Mas os especialistas são unânimes: é preciso formar mais profissionais, ampliar o acesso à especialização e garantir que nossas crianças e adolescentes tenham o cuidado que merecem desde cedo.