Hoje, é difícil imaginar a nossa vida sem tecnologia. Celulares, tablets, computadores – eles estão em toda parte e usamos essas ferramentas todos os dias. Mas, apesar de toda essa facilidade, será que estamos pensando nos efeitos do uso excessivo que isso pode ter para os adultos, os jovens e, consequentemente, para as crianças?
Como nós, os adultos, estamos usando a tecnologia no dia a dia. Vejo muitas crianças com limites sobre o tempo de tela, o que é importante, mas e nós? Como podemos ensinar nossos filhos a usarem a tecnologia de forma saudável se a maioria das vezes estamos com o celular na mão ou no bolso e muitas vezes olhando ou checando as redes sociais? Será que estamos dando o exemplo certo?

Um filósofo francês chamado Michel Serres, aos 82 anos escreveu um livro chamado Polegarzinha (2012) e trouxe a reflexão que as crianças de hoje, que nasceram já com a internet e as telas, aprendem e se relacionam de forma diferente das gerações mais velhas. Ele não diz que a tecnologia é ruim, mas que precisamos aprender a usá-la com equilíbrio. Isso vale tanto para os adultos quanto para as crianças.
Na minha Escola e em casa, percebo que a questão das telas não é só proibir ou permitir. É mais sobre encontrar o meio-termo. A Sociedade Brasileira de Pediatria, por exemplo, recomenda que crianças de até dois anos não usem telas. De dois a sete anos, o ideal é que usem por no máximo uma hora por dia e sempre com um adulto por perto, ajudando a escolher o que ver. Já para crianças entre sete e doze anos, o limite é de duas horas por dia, também com supervisão. Mas, se os pais estão sempre conectados, como esperar que os filhos façam diferente?
Mas, em vez de culpar a tecnologia, precisamos olhar para nós mesmos. Como podemos ser exemplos de um uso responsável das telas? Como podemos ensinar nossos filhos a usarem a tecnologia de forma saudável?
Dois estudiosos falaram muito sobre isso, e de formas diferentes. Jonathan Haidt, no livro Geração Ansiosa, diz que o uso exagerado de telas pode aumentar a ansiedade, especialmente em adolescentes. Já Pete Etchells, no livro Unlocked, diz que o problema não está no tempo que passamos nas telas, mas no jeito que usamos essa tecnologia. Para ele, o uso moderado e consciente pode até ser bom. Então, o que fazemos? Talvez o segredo esteja no meio-termo: não proibir as telas, mas ensinar como usá-las com equilíbrio.

Além de controlar o tempo de tela, precisamos ser “guardiões” do que as crianças veem e fazem online. Isso significa conversar sobre o que elas estão assistindo, jogar junto, e garantir que o tempo offline seja divertido e com atividades criativas, inclusive o ócio (tão fora de moda nessa nova era). O tempo da infância é precioso, as brincadeiras, os momentos de olho no olho, as conversas sinceras, e confusões entre as crianças, os machucados, fazem parte, são riscos calculados, ensaios para a vida. Essas vivências são o que ajudam as crianças a crescerem com saúde emocional e social.
Então, deixo um convite: que tal, juntos, refletirmos mais sobre o uso das telas? Vamos tentar equilibrar a tecnologia com a vida real, aproveitando o melhor dos dois mundos? O desafio está lançado: que tal nos reconectarmos conosco e, consequentemente, com quem está perto de nós?