“A saúde das crianças e a saúde da Terra são inseparáveis.”
– Richard Louv, A Última Criança na Natureza.
Será que a responsabilidade de cuidar do planeta recairá sobre os ombros da geração que ainda mal chegou ao mundo? É justo esperar que elas resolvam desafios que nasceram de escolhas feitas por nós e pelas gerações anteriores?
Como podemos ensinar nossas crianças a gostar e respeitar a natureza?
Acredito que não é apenas com palavras, mas com presença: quem sabe levando-as para a natureza, estando juntos nela. Assim como se constrói uma relação com uma pessoa, cultivando vínculos, também se constrói uma relação com o meio ambiente. Espaços abertos, com diferentes terrenos, cheiros, sons, texturas, lugares para explorar novas possibilidades e uma diversidade de pessoas, despertam nas crianças um fascínio e assim vão construindo um senso de pertencimento. É sabido: cuidamos daquilo que nos faz sentido.
Na escola onde trabalho, levamos as crianças com frequência para uma praça próxima. Sempre que posso, acompanho esses passeios. E me encanto. Elas brincam livremente, interagem com colegas, fazem novas amizades. É lindo observar como descobrem novas formas de brincar: se sujam, catam pedrinhas, folhas e galhos, fazem bolos de areia, sobem em árvores. Um dos momentos mais esperados é o piquenique, compartilhado no chão com os amigos e as professoras. Sempre que voltamos, a pergunta vem logo:
— Profe, quando a gente vai de novo?

Lembro de um desses passeios e de uma menina que tinha muita dificuldade em ficar sentada. Fazia tudo em pé e pulando: lanche, pintura, histórias. Quando a mãe soube que iríamos à praça, me procurou apreensiva, com medo de deixar a filha ir. Acolhi seus receios e pedi que confiasse. Estaríamos juntas, atentas. Felizmente, ela autorizou. E eu vi aquela passarinha literalmente voar. Foi um divisor de águas. O antes e o depois daquela experiência de liberdade. Sim, havia riscos — mas eram calculados. E no outro dia, ela conseguiu sentar para pintar.
Em outra ocasião, período pós pandemia, algumas crianças levaram sacolas para trazer folhas, galhos e pedrinhas, que depois usariam nas criações da sala de artes. Encontraram sementes caídas de uma árvore, com um formato que lembrava o coronavírus. Foi impressionante ver como representaram, conversaram, maldisseram, brincaram… Um verdadeiro desabafo coletivo. Ao mesmo tempo, celebramos estarmos juntos novamente, ao ar livre.
Cuidemos das crianças que estão ao nosso redor — elas, bem cuidadas, cuidarão do planeta.