Você já parou para pensar quantas vidas seriam necessárias para assistir a todos os vídeos que fazemos, ou ver todas as fotos que tiramos dos nossos filhos e netos? Será que precisa de tanto?
Outro dia me peguei refletindo sobre isso — sobre essa ânsia de registrar tudo. Será que estamos tão ocupados em capturar a infância que estamos, sem querer, deixando de vivê-la?
Lembrei de uma palestra que assisti, antes da pandemia, com uma especialista em infância. Ela contou sobre uma exposição que visitou, feita com desenhos de crianças entre quatro e cinco anos. A proposta era simples: desenhar o rosto da mãe. Mas o que chamou a atenção de todos foi o detalhe recorrente em muitos dos desenhos — onde deveriam estar os olhos, as crianças desenharam telas.
Telas no lugar dos olhos das mães.
O que isso nos diz?
Estamos vivendo tempos em que tudo pode ser editado, até a infância. Mas a infância, não é editável. A infância, por natureza, é imperfeita, barulhenta, desorganizada. É feita de presença, de olhar nos olhos, não para as lentes.
E nós, mães? Estamos exaustas. Exaustas fisicamente, sim, mas sobretudo mentalmente. É a tal da “carga mental” que tantas vezes nos sufoca e que tão poucas vezes é nomeada. A jornalista Fátima Torri, publicou recentemente um Reels que dizia que a vida de uma mulher é como uma empresa. E eu diria mais: uma empresa que opera 24 horas por dia, sem folgas e sem plano de carreira.

Somos nós que damos conta de tudo: absorvente, pílula, sobrancelha, cílios, pele, cabelo, tintura, luzes, unhas, academia, nutricionista, ginecologista, depilação, roupas, acessórios, fisioterapia pélvica, botox… E depois que temos filhos? A lista dobra, triplica.
É oferecer colo, presença, voz suave. Amamentar, preparar mamadeiras, dar banho, vacinar, levar ao pediatra. Consolar choros, contar histórias, cantar, organizar a casa, as mochilas, os aniversários, os horários, a rotina. Ajudar nas transições: da fralda para o banheiro, da casa para a escola, do silêncio para o mundo. Planejar o futuro, lidar com o imprevisível. Escutar, orientar, repetir — incansavelmente. E tudo isso com a sensação constante de estar devendo alguma coisa.
Escrevendo essa coluna, me emocionei. Porque eu fiz — e sigo fazendo — muito de tudo isso. Meus filhos já são adultos, mas o cuidado, as preocupações seguem. E, como se não bastasse, agora lido com outra camada de cansaço: a privação de sono que a menopausa me trouxe. Mas isso é assunto para outra coluna.
Hoje, eu só quero dizer: feliz Dia das Mães, parceiras.
Tamos juntas.
Vou deixar aqui uma dica de livro infantil: “COMO AS MAMÃES AMAM SEUS BEBÊS”, da Juniper Fitzgerald e ilustrações da Elise Peterson, Editora Piu.