Quando falamos sobre crianças, frequentemente nos vem à mente imagens de doçura e leveza. Parece quase automático associar a infância a momentos ternos e despreocupados. No entanto, como nos lembra a música do grupo Palavra Cantada, “criança não trabalha, criança dá trabalho.” E que trabalho maravilhoso é esse! O trabalho de ser criança é o brincar, ou melhor, deveria ser. Brincar é o ofício essencial da infância, onde a imaginação ganha vida e os dias se enchem de aventuras e descobertas.
Pensando nisso, que tal considerarmos um presente especial para o Dia das Crianças? Que tal fazermos um brinquedo juntos, com nossas próprias mãos, para presentear no dia 12 de outubro? Um presente não apenas físico, mas cheio de significado e carinho.

Minha sugestão é simples: comece a juntar algumas caixinhas, tampinhas, gravetos, folhas ou flores secas, cordões, fitas, retalhos de tecidos, papéis coloridos, revistas velhas, jornais, canetas coloridas, cola, fitas adesivas, plásticos recicláveis e, é claro, disposição para criar livremente. Traga à tona a sua criança interior e compartilhe esse momento criativo com a criança que você vai presentear.
Agora que o inverno se despediu e o sol voltou a nos aquecer, os parques e praças nos convidam a explorar e brincar ao ar livre. A areia, a terra, o mar estão à nossa disposição, prontos para serem palco das nossas invenções. E, enquanto brincamos, podemos também ensinar às crianças a importância de preservar a natureza. Como? Simplesmente estando na natureza, vivenciando-a. É através dessa convivência, desse contato direto, que as crianças começam a entender e valorizar o mundo natural ao seu redor. E isso se transmite mais pela experiência compartilhada do que por palavras.

Em uma conversa recente, perguntei a duas crianças de cinco anos o que gostariam de ganhar no Dia das Crianças. Um deles, com um olhar sério, me disse que o presente que ele queria não estava disponível porque, devido às enchentes, no Rio Grande do Sul, as entregas estavam suspensas. Intrigada, perguntei o que ele desejava tanto, e ele respondeu: “um morfador furocósmico”. A resposta me arrancou um sorriso. Ao continuar o papo, sugeri que talvez ele pudesse construir o brinquedo com seus pais. Ele riu e disse que duvidava que eles soubessem como fazer, afinal, “meu pai é médico e minha mãe é psicóloga, e o morfador é de plástico duro ou de metal, com umas chaves penduradas… É meio complicado de fazer.”
A outra criança, quando perguntei se já tinha feito algum brinquedo de sucata com seus pais, disse: “Puxa vida, acho que eu nunca fiz!”. No entanto, lembrou-se de momentos na cozinha: “Ah, mas eu fiz umas comidas com a minha mãe. Já fizemos um bolinho de blueberry e framboesa e também um omelete”. E é verdade, cozinhar com os filhos pode ser um baita presente também, um daqueles momentos que ficam gravados na memória.

Tudo o que é feito junto com alguém especial ganha um significado diferente. Não importa tanto o resultado final; o que realmente importa é o tempo investido, a troca de ideias, os olhares cúmplices e a construção coletiva. É nesse espaço que a verdadeira magia acontece, onde o sentido do que é ser criança floresce.
Duas dicas importantes para quando forem criar esse brinquedo juntos: esqueçam os celulares e aproveitem o momento sem pressa. Não importa o tempo cronológico, mas, sim, o tempo de qualidade que vocês passam juntos. O brinquedo não precisa ficar pronto no primeiro ou no segundo dia; ele pode ser feito e refeito, assim como a vida. Afinal, brincar é um belo ensaio para a vida.