Acredito que a maioria dos nossos problemas é fruto de erros de comunicação, principalmente nas relações entre pais e filhos. As consequências desses erros de comunicação repercutem nas escolhas que as pessoas fazem em suas vidas e nas suas relações.
Tenho abordado, nesta coluna, os aspectos da comunicação responsável pelo surgimento desses problemas. Entendo que devemos nos aprofundar na compreensão do fenômeno da comunicação, e, para isso, recorro à metáfora dos jogos de tênis e frescobol, tema de um livro lançado recentemente pela Universidade de Pais.
Na comunicação tipo tênis, que ainda é predominante, a preocupação das pessoas está em se defender, e, para isso, precisam atacar. A pergunta inicial em um diálogo pode ser uma tentativa de “ace” — “responda se conseguir” — ou perguntas que deixam o interlocutor encurralado, de forma que, ao responder, ele se torne vulnerável a uma réplica. Busca-se, assim, a sensação de ter razão. Em síntese, na comunicação tipo tênis, o adversário é o interlocutor, embora o diálogo exista para resolver um problema, passar o tempo ou compartilhar bons momentos. Quando os pais adotam esse tipo de comunicação, eles pensam que a criança é um adulto em miniatura.
O diálogo tipo tênis gera competição, sensação de êxito para um e de fracasso para o outro, ressentimento e obstrui a comunicação. A sensação de fracasso fica com a criança, que, ressentida, pode decidir: “um dia eu vou sacar, você não perde por esperar”.
Existe um problema potencial, um perigo do qual os pais querem proteger a criança. No entanto, a forma de falar faz parecer que o problema é o “ace”, e não o perigo real.
Já na comunicação tipo frescobol, o que interessa é o diálogo, de tal forma que o adversário é o problema a ser resolvido, e não a pessoa. Se a criança não quer dormir ou comer, o problema é o sono ou a fome — questões que estão com ela, mas que não a definem. No diálogo tipo tênis, o problema passa a ser a criança, e o jogo é contra ela. No tipo frescobol, os dois jogam contra o problema, e o que interessa é resolvê-lo. Acredito que os pais, mesmo quando erram, o fazem com a intenção de ajudar ou proteger a criança contra o que acreditam ser perigoso ou danoso para ela.
Por isso, insistir em aprimorar a capacidade de se comunicar é fundamental, e a metáfora do frescobol ilustra de forma simples como deve ser o diálogo em todas as relações. Devemos fazer perguntas que favoreçam a compreensão da criança sobre o que está sendo dito, estar dispostos a corrigir respostas que venham “com defeito”, fazer perguntas que gerem desafios de acordo com a capacidade de compreensão da criança em seu momento de desenvolvimento, e acolher as incertezas. Inicialmente, podem ser frases curtas, que gradualmente se tornarão mais longas.
A experiência que venho tendo ao falar sobre essa metáfora impressiona pela receptividade e pela forma como as pessoas relatam as mudanças em suas relações, tanto com os filhos quanto no ambiente de trabalho. Afinal, o que importa é ser feliz, mesmo que não tenhamos razão.