No artigo passado falei sobre a linguagem do” livrar-se de” a do “interessar- se por”. Aqui me aprofundo sobre a importância da comunicação entre pais e filhos na promoção da saúde, prevenção e tratamento de transtornos mentais. Não podemos esperar da criança capacidade de conduzir o diálogo, na medida que seu repertório de informações é pobre e dependente dos modelos oferecidos pelos pais. Portanto, convido aqui nestes textos que os pais reflitam sobre o modelo de comunicação que oferecem a seus filhos. Várias pesquisas mostram que crianças criadas em ambientes onde existe o diálogo verdadeiro desenvolvem maior capacidade de resolução de problemas, maior resiliência e melhores decisões acerca de si mesmo, o que repercute em melhor autoimagem, melhor autoconfiança e melhor autoestima.
Podemos dividir a comunicação pais filhos em três fases. Primeira na pré-verbal quando a criança ainda não tem a capacidade de compreender o significado das palavras. Nesta fase a melodia das falas, as expressões faciais, e o não verbal são os meios prioritários. A segunda fase é a intermediária na qual a criança entende o significado de poucas palavras e adquire progressivamente a habilidade de compreendê-las ainda com predomínio da melodia e do não verbal e a terceira já na fase verbal onde o significado das palavras passa ser compreendido, porém ainda sob grande efeito do não verbal e da melodia nas falas. A melodia que se assemelha ao conceito de prosódia e o não verbal não perdem a importância ao longo do tempo.
A capacidade de compreender o significado das palavras é que evolui com o tempo. Há muito vejo profissionais sugerindo o diálogo como meio de evitar problemas e solucionar quando estes acontecem. Não tenho a mínima dúvida sobre a validade desta sugestão. No entanto vejo com frequência pais que acreditam dialogar serem acusados por seus filhos exatamente pela falta deste. Vale também a recíproca. Então precisamos definir o que vem a ser um verdadeiro diálogo. A primeira premissa para que possamos ter um diálogo está em acreditar na possibilidade e eventualmente ambas as partes mudarem de opinião sobre o objeto do diálogo.
Os pais devem admitir que existe a possibilidade de aprender com as observações das crianças e mudarem de opinião, pois se estiverem com certezas inabaláveis, estarão fechados para o diálogo. Lembro da passagem ocorrida quando dava aula na faculdade de medicina, quando um aluno referiu a experiência que teve com seu pai, um homem esclarecido, bem sucedido, que acreditava ter um bom diálogo. Disse que num assunto importante de ser resolvido entre eles do qual o pai tinha firme convicção foi chamado pelo genitor para dialogar. Quando o jovem iniciou a argumento, seu pai cruzou os braços e disse “fala que estou te escutando”.
Quando o jovem acabou de falar seus argumentos o pai descruzou os braços e disse “então, como eu estava pensando..,” esta conversa não era um diálogo. Há uma diferença entre escutar e esperar o outro acabar de falar e nem sempre as pessoas percebem isto.
A escuta é a segunda premissa para que ocorra o diálogo. Se uma das partes não escuta e processa a informação vinda do outro, estaremos em um ou dois monólogos. Em virtude destas falhas de comunicação muitas pessoas crescem acreditando serem incompreendidas e injustiçadas. Este será o tema da nossa próxima coluna.