Quando se pensa em começar uma família, a maioria das pessoas imagina fraldas, noites mal dormidas e muita energia, o que normalmente é associado a pessoas mais jovens. Mas um casal britânico provou que amor e determinação não têm idade. Com 72 anos, os dois conseguiram na Justiça britânica o direito de serem oficialmente reconhecidos como pais de um menino de 14 meses, nascido por meio de uma barriga de aluguel nos Estados Unidos. A história foi divulgada pelo site Mirror.
O processo foi analisado pela juíza Gwynneth Knowles, que aceitou o pedido de ordem parental feito pelo casal em julho de 2024, e concedido em março deste ano. Segundo a decisão, os dois usaram o esperma do marido e um óvulo doado para a concepção da criança, chamada apenas de “B” nos documentos. A gestação foi realizada com a ajuda de uma agência de barriga de aluguel na Califórnia, em um procedimento que custou mais de £150 mil (aproximadamente R$ 1 milhão).
Um vínculo construído desde o nascimento
Apesar da idade avançada, o casal acompanha o menino desde o nascimento e tem cuidado dele integralmente. Na decisão escrita, a juíza afirmou que os dois são os responsáveis legais e afetivos do menino, além de destacá-lo como um “menino muito amado e querido”.
Knowles foi clara ao dizer que não cabe à Justiça fazer julgamentos morais sobre a escolha de ter um filho em idade avançada. Para ela, o papel do tribunal é garantir que todas as medidas sejam tomadas para assegurar o bem-estar da criança, principalmente em casos onde o futuro pode trazer desafios previsíveis, como problemas de saúde ou falecimento dos pais.
A realidade do tempo
Com palavras firmes, a juíza destacou um ponto importante sobre a idade do casal e as implicações para a criança. Ela disse, ao Mirror:
“É um fato inegável que, quando B for para a escola, aos cinco anos, eles provavelmente terão 76 anos. E, quando B entrar no ensino médio, eles terão cerca de 82. Colocando de forma direta, o Sr. e a Sra. K terão 89 anos quando B atingir a maioridade.”
Ainda segundo a juíza, embora o casal esteja em boa saúde no momento, é previsível que enfrentem limitações físicas e possíveis complicações antes que B chegue à vida adulta. Por isso, o planejamento cuidadoso do futuro do menino foi essencial para a aprovação do pedido.

Luto e novas possibilidades
O casal já tinha passado por uma grande perda. Eles tiveram um filho por fertilização in vitro em 1993, que faleceu pouco antes de completar 27 anos, vítima de um câncer. No entanto, a juíza reforçou que os dois foram firmes ao afirmar que o novo filho não é uma tentativa de substituir o que se foi.
Para Gwynneth, a decisão de conceder a ordem parental foi baseada no que é melhor para o bem-estar da criança.
“A ausência de uma ordem parental negaria a B os benefícios sociais e emocionais do reconhecimento formal e informal de sua relação e vida familiar com o Sr. e a Sra. K.”
Um alerta sobre o futuro
Apesar da aprovação, a juíza também fez questão de destacar um ponto delicado: a possibilidade de B passar pela dor da perda ainda na infância.
“Essa experiência pode atingir B em um momento da infância em que ele não esteja preparado para compreendê-la ou lidar com ela, virando sua vida de cabeça para baixo e o colocando aos cuidados de adultos com os quais ele não tem vínculos emocionais fortes.”
E completou: “Não importa o quão saudável alguém da idade do Sr. e da Sra. K possa parecer agora, a saúde e a própria vida estão, sem dúvida, à mercê de um processo de envelhecimento que se torna cada vez mais cruel e imprevisível com o passar dos anos”.
EUA lideram como destino de barrigas de aluguel para britânicos
O caso do casal britânico não é isolado. Os Estados Unidos continuam sendo o destino internacional mais procurado por britânicos que desejam ter filhos por meio de barriga de aluguel. Dados do Tribunal de Família do Reino Unido mostram que cerca de 100 crianças nascidas nos EUA por esse método recebem, todos os anos, ordens parentais britânicas para garantir a cidadania e os direitos legais.
A metade das crianças que recebem esse tipo de reconhecimento legal no Reino Unido nasce nos EUA. A outra metade se divide entre dezenas de outros países, em constante mudança conforme as leis e regulamentações.