Imagine estar no meio de uma reunião importante, talvez até nervosa por tudo que está em jogo, e de repente sentir que algo mudou. A bolsa estourou. O bebê está a caminho. Tudo o que se espera nesse momento é apoio, compreensão e, claro, a liberação imediata para ir ao hospital. Mas e se, em vez disso, você ouvisse um: “Podemos terminar a reunião primeiro?”
Pois foi exatamente isso que aconteceu com uma mulher nos Estados Unidos, segundo um relato que viralizou nas redes sociais e acendeu um debate urgente: até onde vai a pressão por produtividade, especialmente sobre mulheres grávidas?
Um parto contra uma reunião
O caso veio à tona por meio de uma postagem no X (antigo Twitter), feita por uma fundadora de empresa que compartilhou a experiência da amiga. Durante uma reunião do conselho, essa mulher – já grávida e visivelmente próxima do parto – informou que sua bolsa havia rompido e que precisava ir ao hospital. A resposta? Um dos investidores pediu que ela “terminasse a reunião antes”.
E o mais inacreditável: ela terminou mesmo. Do carro, a caminho do hospital, ainda participou do restante do encontro por chamada de vídeo. A reação da autora do post e de quem acompanhou a história foi de choque, e com razão.
Friend's water broke during a board meeting.
— Christine Carrillo (@ChristineCarril) May 21, 2021
She says, "I need to go to the hospital my water just broke!"
Lead investor from well known fund says, "Ok, but can we finish the meeting first?"
She finished the board meeting in the car while en route to the hospital.
WTF.
Pressão invisível que todo mundo sente
Apesar da indignação geral, a situação expõe uma realidade bem conhecida por muitas mães: a sensação de que não se pode parar. Mesmo quando o corpo dá todos os sinais de que precisa, o mundo corporativo parece ter dificuldade em entender que existe vida além da agenda.
Muitas mulheres relatam que continuaram respondendo e-mails durante as contrações, que voltaram ao trabalho poucos dias após o parto, ou que sentiram culpa por desacelerar durante a gestação. Tudo isso é reflexo de um sistema que ainda mede comprometimento com base em desempenho contínuo, e não em respeito aos próprios limites.
Dizer “não” é mesmo possível?
Uma parte dos comentários no post questionou por que a mulher não simplesmente encerrou a reunião ali mesmo. Mas quem já esteve em um ambiente de trabalho competitivo sabe que as dinâmicas de poder podem ser cruéis.
Em muitas situações, especialmente quando há dinheiro, carreira ou reputação em jogo, recusar uma demanda não é uma opção tão simples. E isso se agrava ainda mais para mulheres negras, latinas ou de outros grupos que enfrentam desigualdades estruturais. A cobrança por performance, nesses casos, costuma ser ainda maior.
O que esse caso nos ensina
Essa história viral não é apenas sobre um investidor sem noção. É um lembrete do quanto ainda precisamos avançar para garantir respeito e empatia no ambiente de trabalho – especialmente com quem está vivendo uma gestação, um parto ou os desafios do pós-parto.
A gravidez não é um “intervalo” ou uma distração. É um processo físico e emocional intenso, que merece acolhimento, apoio e flexibilidade. E ninguém deveria se sentir obrigada a concluir uma reunião enquanto o próprio corpo avisa que está prestes a trazer uma nova vida ao mundo.
Talvez seja hora de repensar o que realmente importa. Porque se nem o início do trabalho de parto é suficiente para pausar uma reunião, é sinal de que estamos levando a produtividade um pouco longe demais.