Existem medos que a gente até tenta disfarçar, mas que, quando aparecem, tomam conta de tudo. Para quem tem emetofobia — um medo intenso e irracional de vomitar ou ver alguém vomitando —, situações simples podem se transformar em verdadeiros pesadelos. Embora pouco falada, essa fobia é real e pode ter impactos sérios no dia a dia, principalmente quando envolve quem a gente mais ama.
Foi o que aconteceu com Lily Lynch, uma jovem mãe inglesa, que precisou enfrentar seu maior pânico quando a filha de 14 meses passou mal em casa. A decisão que ela tomou para proteger a criança e a si mesma acabou gerando uma onda de críticas nas redes sociais — e levantando um debate importante sobre saúde mental na maternidade.
Quando o medo vira uma barreira
Lily, de 24 anos, mora em Cornwall, na Inglaterra, e convive com a emetofobia desde os sete anos de idade, depois de vomitar em uma festa de aniversário e viver uma experiência traumática. Desde então, ela criou uma série de estratégias para tentar evitar qualquer situação que pudesse desencadear novos episódios, como não consumir álcool, carne ou laticínios, além de adotar uma rotina de higiene extremamente rígida.
Mesmo com todos os cuidados, o imprevisto bateu à porta quando sua filha Willow contraiu um vírus. Ao ver a pequena vomitando, Lily teve uma crise de pânico tão intensa que precisou se trancar no quarto e pedir ajuda à própria mãe, que levou Willow para sua casa.
O que era para ser uma solução temporária acabou se estendendo por cerca de seis meses. Durante esse período, Lily visitava a filha regularmente e chegou a passar algumas noites com ela, mas precisava de tempo para se recuperar emocionalmente.
O julgamento na internet
Quando compartilhou sua história nas redes sociais, Lily não imaginava que sua experiência se tornaria viral. Junto com a visibilidade vieram também os comentários cruéis: muitas pessoas a acusaram de ser uma mãe negligente, de “abandonar” a filha e até de não merecer ter filhos por causa de sua condição de saúde mental.
Entre as críticas, surgiram acusações pesadas, como pedidos para que Lily fosse “esterilizada” e comentários dizendo que ela colocou uma “pequena fobia boba” acima do amor pela filha. Apesar da onda de ódio, houve também quem demonstrasse compreensão e apoio, afirmando que ela teve coragem em expor uma condição tão estigmatizada.

Emetofobia: o que é e por que acontece?
A emetofobia é uma condição de saúde mental caracterizada pelo medo extremo e persistente de vomitar ou ver outras pessoas vomitando. Diferente de uma simples aversão, ela pode dominar a rotina da pessoa, interferindo na alimentação, no convívio social e até na criação dos filhos. As causas não são totalmente conhecidas, mas, na maioria dos casos, estão ligadas a experiências traumáticas durante a infância ou adolescência, como aconteceu com Lily.
Além do medo em si, a pessoa com emetofobia pode apresentar sintomas físicos, como taquicardia, tremores e crises de pânico só de imaginar a situação.
Superação diária
Lily conta que fez de tudo para não deixar seu medo afetar ainda mais a relação com a filha. Para isso, adotou estratégias como reforçar a higienização em casa e trabalhar sua saúde mental para encarar situações que antes pareciam impossíveis.
Hoje, a inglesa fala abertamente sobre seu processo de superação e defende que o mais importante é buscar ajuda e não se envergonhar de falar sobre saúde mental. “Sabia que ser mãe da minha filha era muito mais importante do que tentar evitar pegar uma infecção, então tive que deixar essa fobia de lado e ser a melhor mãe que poderia ser para ela”, afirmou.
Lily também ressalta que mandar a filha para a creche foi uma decisão difícil, mas necessária para que Willow pudesse conviver com outras crianças e se desenvolver de forma saudável.
Hoje, ela continua trabalhando para conviver com a fobia e fortalecer a relação com a filha. Ela também passou a compartilhar sua experiência para ajudar a conscientizar outras pessoas sobre a emetofobia e a importância de buscar apoio psicológico.