Ashley McKenzie, da Austrália, mãe de um menino, se deparou com uma realidade que poucas mulheres já ouviram falar. Ao confirmar sua nova gravidez, não imaginava que o embrião não estaria no útero, mas sim implantado na cicatriz deixada por uma cesárea anterior, um quadro clínico raro e perigoso.
A condição, conhecida como gravidez na cicatriz da cesárea, faz parte das chamadas gestações ectópicas, nas quais o embrião se desenvolve fora do local adequado. No caso de Ashley, a implantação ocorreu justamente sobre o tecido cicatricial de uma cesariana anterior, o que pode comprometer seriamente a saúde da mãe e do bebê.
Gravidez na cicatriz: um risco ainda pouco conhecido
Estudos médicos indicam que esse tipo de gravidez acontece em aproximadamente 1 a cada 1.800 a 2.600 casos, embora muitos especialistas acreditem que os números reais possam ser maiores por conta da dificuldade de diagnóstico precoce.
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O tecido de cicatriz não tem a capacidade de sustentar uma gravidez normal. À medida que o embrião cresce, pode haver rompimento uterino, hemorragias severas e até risco de morte.
A busca por respostas e o sentimento de abandono
Ashley relatou que encontrou pouquíssimas informações sobre sua condição nos primeiros dias após o diagnóstico. “Tentei todas as hashtags possíveis, como ‘cicatriz de cesárea‘, ‘defeito de cesárea’. Tentei todas elas. É uma loucura que, como mulheres, nem conheçamos nossos próprios corpos e como as coisas podem funcionar. É simplesmente… é uma loucura”, desabafou em entrevista ao Kidspot.
Sem referências clínicas claras e com poucos especialistas preparados para lidar com casos como o seu, ela recorreu à internet, redes sociais e fóruns de mães, mas não encontrou ninguém que tivesse vivido algo parecido.
Tratamento difícil e meses de sofrimento
Devido à gravidade do quadro, a gravidez foi interrompida logo após o diagnóstico. “Teria sido quase uma ameaça à minha vida se eu tivesse continuado a gravidez”, relatou. No entanto, mesmo após o procedimento inicial, o embrião permaneceu fixado à cicatriz por várias semanas.
Os médicos optaram pelo uso do medicamento metotrexato, utilizado para estimular a reabsorção do tecido pelo próprio corpo. No entanto, no caso de Ashley, o tratamento não surtiu o efeito desejado, resultando em sangramentos intensos e diversas idas ao pronto-socorro.
“Eu surtei um dia. Quantas outras idas de emergência ao hospital teria que passar?”, desabafou. Ela insistiu repetidamente pela realização de uma curetagem, mas os médicos se recusaram, com medo de causar danos irreversíveis ao útero.
Solução veio com cirurgia especializada
A virada no tratamento só aconteceu quando Ashley conseguiu acesso a um cirurgião particular, que realizou uma ressecção laparoscópica assistida por robô, uma técnica minimamente invasiva que permitiu a remoção segura do tecido gestacional da cicatriz.
Durante o procedimento, foi detectado um outro problema: a bexiga estava completamente aderida ao útero, dificultando até funções básicas. “Ele disse que era como se estivesse dobrada três vezes como uma sanfona e presa. Eu pensei: não é de se admirar que eu nunca tenha conseguido esvaziar completamente a bexiga depois de dar à luz”, contou.

O que esperar do futuro
Após meses de incertezas e recuperação, Ashley compartilhou sua história nas redes sociais e acabou encontrando outras mulheres que viveram situações semelhantes. A experiência, embora traumática, abriu espaço para que ela se sentisse menos sozinha.
Agora, com a saúde estabilizada, os médicos liberaram Ashley para tentar uma nova gestação dentro de alguns meses. Mesmo assim, ela confessa estar dividida: “Mas há uma chance de ser uma gravidez ectópica novamente. Não sei se sou corajosa o suficiente para arriscar. Eu quero outro bebê… mas também quero ficar viva para o que já tenho”.
O que é uma gravidez ectópica na cicatriz da cesárea?
Em situações normais, o embrião se fixa no endométrio, dentro do útero. No entanto, em casos raros, ele pode se implantar em locais como trompas, ovários ou, como aconteceu com Ashley, diretamente na cicatriz de uma cesárea anterior.
Essa forma de gestação requer diagnóstico precoce e acompanhamento especializado, já que envolve riscos elevados para a mulher. De acordo com um artigo recente da Cureus Journal of Medical Science, o aumento dos partos por cesariana está diretamente relacionado à incidência crescente desse tipo de gravidez ectópica.