Não é incomum filhos pequenos, e até alguns bem grandinhos, serem monossilábicos quando perguntamos como foi o dia, como foram na escola ou o que mais curtiram no passeio. Muitas vezes a resposta fica limitada à: “legal”, “tudo bem”, “bom”. Além disso, cada vez mais me preocupo com o desenvolvimento da capacidade argumentativa dessa nova geração. Economizam palavras para falar e mais ainda para escrever. Mal alfabetizados são e já começam a abreviar palavras.
Na minha geração era a língua do P que dominava, em especial entre meninas. Pensando hoje, até que era uma forma avançada de linguagem, pois exigia um certo nível de elaboração gramatical já que precisávamos saber separar as sílabas. Por exemplo, para falar “girafa”, falávamos “P-Gi, P-Ra, P-Fa”! Alguém se lembra disso? Só de escrever começo a rir, acho que nunca fui muito boa na língua do P mas tinha amigas feras.
Hoje, a língua é outra, o que vale é a forma mais abreviada possível, seja na escrita ou na fala. Escreve-se vc, gte, kd, blz, bdg, tmj, agr, aq, n ou s (para quem não está familiarizado com essa língua, numa tradução livre, significam respectivamente – você, gente, cadê, beleza, obrigado, estamos juntos, agora, aqui, não ou sim). Na linguagem falada a coisa não fica muito distante, tipo isso, tipo aquilo é bem comum e muitas crianças e jovens vão limitando seus vocabulários.
Sim, estou parecendo uma senhora chata e velha falando, talvez seja um pouco isso mesmo, mas me preocupo de verdade em sermos pais que educam filhos para serem bons argumentadores, bons escritores, bons defensores de suas ideias. Seja lá o que vier a ser cada criança no futuro, vendedor, médico ou agricultor, isso será fundamental.
Voltando ao que queria falar de fato, vejo muitos pais tendo dificuldade em fazer trocas com seus filhos, conversarem, debaterem ideias e pontos de vista. Abrir espaço para uma conversa que vá além das cobranças do dia a dia, saber se fez lição de casa, se escovou os dentes ou guardou os brinquedos. Seja porque as agendas de pais e filhos são intensas e sobra pouco tempo para essas trocas mais livres, seja porque o digital tomou conta e, quando juntos, cada um se fecha em sua tela.
Acredito que esses momentos de trocas mais livres são importantíssimos para o desenvolvimento não só da linguagem, mas dos vínculos afetivos. Criam não só repertório, mas também afinidades, proximidade. Recentemente tive acesso a uma caixinha que contém um baralho. Em cada carta há uma pergunta adaptada à linguagem infantil e que são pontos de partida para conversas (ou conversinhas, como os criadores da iniciativa o chamam – @conversinhas.oficial). “Por que é importante ir à escola? Se você pudesse voar, para onde iria primeiro? Se nossa família fosse uma banda, qual seria o nome e quem tocaria o quê?
Só sei uma coisa, papear é bom demais e não devemos perder essa chance com nossos filhos. Afinal, como diz o ditado: é de pequeno que se torce o pepino! Se queremos ter diálogos e trocas com nossos filhos, em especial quando eles crescem e seguem suas vidas de forma independente, nada melhor do que ir alimentando esse hábito desde cedo. Isso fará bem demais para nós pais, mas com certeza fará muito bem para os filhos também! Que tal hoje no jantar?