Recentemente tive o privilégio de fazer uma viagem à África do Sul onde pude ter a experiência de fazer um safári pela primeira vez. Todas as viagens são especiais, mas esta teve um motivo a mais: estava comemorando meu aniversário junto com toda a família: marido, filhos, mãe e genro. Ver filhos crescerem sendo independentes e ainda assim gostarem de estar próximos de nós é um privilégio. Dizem que a vida deve ser contabilizada não pelos anos que vivemos, mas pelas experiências pelas quais passamos. Sem dúvida, vivi excepcionalmente bem nesses 10 dias na África. Um agradecimento especial à equipe da Teresa Perez que deu forma e cor ao meu sonho.
Além disso, a África do Sul e em especial os animais, me ensinaram muito sobre a relação entre mães, pais e filhos. Muitas vezes olhava os animais em seu habitat natural e a conexão com minha própria vivência como mãe era imediata. Dedicação, colocar a necessidade dos filhos acima das nossas, paciência, a noção de timing, o carinho, tudo isso me aproximava mais e mais dos animais. Elliot Aronson, conceituado psicólogo, define os seres humanos como animais sociais. Ele nos traz a certeza de que se nós achávamos que erámos mais sociais do que animais, Aronson no livro Animal Social nos mostra o contrário. Muito mais do que imaginamos, nossos instintos de amor às crias nos aproximam de todos os bichos, dos pequenos aos grandes.

Com os impalas, aprendi como as mães precisam se cuidar para poderem ser boas mães. No reino animal, os impalas são a única espécie que prolonga a gestação a depender da estação e qualidade das pastagens. Assim, se a vegetação está ruim e ela teme não ter o suficiente para comer, ela não dá à luz, preservando o filhote na barriga por mais tempo. Isso porque, quando o filhote nascer e ela estar apta a estar forte para alimentá-lo, ela precisa garantir que tenha uma boa provisão de alimento disponível. A sabedoria animal ensina aos impalas que é preciso se cuidar primeiro para cuidar das crias. Lembrei-me de imediato do que os comissários de bordo falam sobre o uso das máscaras de emergência. Primeiro, o adulto deve colocar a máscara
para depois colocar na criança. Quantas e quantas vezes nos descuidamos, mesmo achando que estamos fazendo o melhor para nossos filhos?
Com os leões, me surpreendi muito. Achei que iria ter uma lição de força e poder, mas ao contrário, esses lindos felinos me ensinaram a descansar e poupar energia para juntar forças para caçar quando for necessário. É por isso que leões dormem aproximadamente 20 horas por dia e ficam lépidos nas 4 restantes para caçar e alimentar a família. Em nossa vida atual, poucas vezes nos damos ao luxo de ficar relaxando como fazem os leões. Nossa bateria vive descarregada e não raro, quando precisamos da energia, ela nos falta. Bem que no safári gostaria de ter visto leões e leoas em plena ação, mas os vi numa soneca de dar inveja a nós humanos. A paz de quem sabe o que está fazendo. E não a estrepolia diária de nossas vidas de equilibristas. Se os leões acompanhassem nossas vidas, diriam: “Tolinhos e tolinhas, fazem essa viagem para conviver conosco, mas não aprenderam nada com a gente!”
Os rinocerontes me deram uma lição de companheirismo, da vontade de criar um laço que dura para sempre, não importa onde estejamos. Na reserva onde estive, dois rinocerontes foram trazidos juntos por um criador e passaram a viver neste novo espaço. Eram os únicos animais que estavam com um chip, por não serem nativos do local e, por essa razão, fáceis de serem identificados. Encontrei-os em dois dias diferentes, sempre juntos e soube pelo ranger Jabu (o guia do safári que dirigia nosso carro e nos dava aulas fantásticas) que eles eram inseparáveis, aonde um ia o outro sempre estava junto. Companheiros de verdade, um cuidando do outro. Lembro dos meus filhos, já adultos e vivendo fora do país, numa mesma cidade e sempre muito próximos um do outro, geográfica e emocionalmente. Fico feliz em saber que o amor e a amizade acompanham tanto animais como também nós e que estarmos disponíveis uns para os outros é parte do que somos ou, pelo menos, do que deveríamos ser.
Isso me lembra o companheirismo dos javalis que ficaram famosos pelo Pumba do Rei Leão, o filme da Disney. Sempre andam em duplas, correndo pela savana sem parar. Quando penso na minha família acho que somos um pouco Pumbas, sempre juntinhos, mesmo quando estamos longe um do outro. Em nossas cabeças, nunca estamos solos.

Adorei ver os elefantes, gigantes animais, mas que passam uma meiguice sem fim. A mãe elefante e o filhote enroscam a tromba, ficam bem apertadinhos um ao outro, numa troca de afetos única. Com a tromba, a mãe elefante pega folhagens nas árvores e entrega na tromba dos filhotes, além de borrifar água neles para aliviar o calor exasperante da savana no verão. Muitas toneladas de amor!! Fiquei apaixonada pelos elefantes e os elegi como meus preferidos.
Poderia seguir falando de muitos outros animais e como me reconheci em cada um deles. Eu disse no início que foi uma viagem inesquecível e única. Mas foi mais do que isso. Foi uma conexão com minha natureza mais primitiva, mais animal, aquilo que é básico em todos nós. Não à toa que dizem que a natureza é sábia. Em nossas vidas corridas, muitas vezes não damos atenção a ela e certamente perdemos muito. Ao final dessas férias espero que a África do Sul e seus animais sejam sempre lembretes internos sobre o valor, acima de qualquer coisa, do amor e do cuidado. Obrigada à mãe natureza, obrigada à minha família.