Em um estudo realizado pela Santé Respiratoire France em 2024, a poluição em ambientes internos foi apontada como um problema grave e muitas vezes negligenciado. De acordo com a pesquisa, a qualidade do ar dentro de casa pode ser até nove vezes mais prejudicial à saúde do que a poluição externa. E o impacto não é pequeno: a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que aproximadamente 3,2 milhões de mortes anuais sejam atribuídas à poluição do ar em ambientes fechados. Apesar dessa grave realidade, 71% dos franceses não estão conscientes dos riscos da poluição doméstica para a saúde, destacando a necessidade urgente de conscientização.
A pesquisa foi conduzida com a colaboração de 272 pacientes com doenças pulmonares e 38 cuidadores, com o objetivo de compreender como a qualidade do ar dentro de casa impacta os sintomas respiratórios dessas pessoas. Os resultados revelaram que, apesar de 97% dos entrevistados reconhecerem a relação entre o ar poluído e a piora da saúde respiratória, muitas dessas pessoas não tomam medidas suficientes para melhorar o ambiente onde vivem. Em grande parte, as mulheres, por estarem mais atentas à saúde, foram as principais participantes do estudo.

Segundo Frédéric Le Guillou, presidente da Santé Respiratoire France e pneumologista, a falta de ventilação adequada nos lares é um dos principais fatores que agrava a situação. Cerca de 36% dos domicílios não possuem um sistema de ventilação mecânica controlada (VMC), que é essencial para garantir a circulação contínua do ar e evitar a formação de umidade, bolor e fungos. Esses fatores são especialmente perigosos para quem já enfrenta problemas respiratórios.
A umidade excessiva em casa continua sendo um dos maiores riscos para a saúde dos moradores, especialmente aqueles com doenças pulmonares, como asma, DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica) e fibrose pulmonar. A exposição constante a ambientes úmidos pode favorecer o desenvolvimento de patologias crônicas e agravar as condições respiratórias existentes.
Consequências da poluição doméstica
O impacto da poluição do ar no interior das casas vai além do simples desconforto. De acordo com o estudo, a exposição contínua a fatores como a umidade, compostos orgânicos voláteis liberados pelos móveis, o tabagismo e até os produtos de limpeza pode desencadear ou agravar doenças respiratórias. A fumaça de cigarro, por exemplo, é uma fonte significativa de poluição dentro de casa, afetando não apenas os fumantes, mas também os não fumantes que convivem no ambiente.
Além disso, a poeira, pelos de animais, ácaros e produtos químicos presentes nos ambientes domésticos são outros vilões que comprometem a saúde respiratória. Esses poluentes podem agravar doenças como bronquite, alergias e asma, piorando a qualidade de vida e aumentando os riscos de complicações sérias.
Estudos indicam que a poluição doméstica é responsável por cerca de 47 mil mortes prematuras na França todos os anos, além de 20 mil novos casos de doenças respiratórias diagnosticadas. Esses números preocupantes, no entanto, não refletem o impacto total, já que as mortes prematuras estão relacionadas apenas às partículas finas e ao dióxido de azoto, e não a todos os poluentes existentes.
Medidas para melhorar a qualidade do ar em casa
Embora o cenário seja alarmante, existem várias ações simples que podem ser adotadas para melhorar a qualidade do ar dentro de casa e reduzir os riscos à saúde. Entre as principais recomendações estão a ventilação adequada e a eliminação de fontes de poluição. Abrir as janelas por pelo menos 10 minutos todos os dias é uma das medidas mais eficazes para renovar o ar. Evitar a secagem de roupas dentro de casa também é uma prática importante para reduzir a umidade e a proliferação de fungos e mofo.
É fundamental, ainda, prestar atenção à escolha dos produtos de limpeza e de decoração. Muitos produtos liberam compostos orgânicos voláteis, que são prejudiciais à saúde. Optar por produtos de limpeza naturais ou menos tóxicos e escolher móveis e tecidos com menos substâncias químicas pode ajudar a minimizar os riscos.

No caso de pessoas com doenças respiratórias preexistentes, como a asma, é essencial adotar precauções extras. Esses indivíduos possuem mucosas mais vulneráveis, o que torna mais fácil a penetração de poluentes no organismo. O uso de sistemas de ventilação eficientes, como a ventilação mecânica controlada (VMC), também pode ser uma solução eficaz para evitar a acumulação de ar viciado e garantir que o ar circulado seja mais saudável.
Prevenção e conscientização
A conscientização sobre os riscos da poluição doméstica é fundamental para prevenir doenças respiratórias e melhorar a qualidade de vida de quem já sofre com essas condições. De acordo com Frédéric Le Guillou, os pacientes com doenças pulmonares frequentemente não sabem que estão expostos a fatores de risco em suas próprias casas, e isso pode ter um impacto negativo em seu tratamento.
Além disso, os dados indicam que a educação sobre o impacto da qualidade do ar nos ambientes internos deve ser reforçada. Muitas pessoas ainda desconhecem a relação entre poluição doméstica e doenças respiratórias, o que destaca a necessidade urgente de campanhas de conscientização sobre os cuidados que devemos ter com a ventilação e a limpeza de nossos lares.