A preocupação com as amizades dos filhos é algo que muitos pais compartilham. Quem nunca se preocupou ao ouvir que seu filho ficou sozinho na hora do recreio ou que não teve ninguém com quem brincar no final de semana? Para muitos pais, essas situações podem ser dolorosas. Afinal, as primeiras amizades são um marco importante na vida social das crianças e podem influenciar seu bem-estar emocional.
Uma nova pesquisa realizada pelo Hospital Infantil CS Mott, da Universidade de Michigan, revelou dados interessantes sobre esse tema. De acordo com a Pesquisa Nacional sobre Saúde Infantil, 20% dos pais afirmam que seus filhos não têm amigos ou não têm amigos suficientes. Este dado alarmante mostra a importância de os pais estarem atentos às amizades de seus filhos e como podem ajudar nesse processo sem exagerar na intervenção.
A pesquisa revelou que 90% dos pais acreditam que seus filhos gostariam de fazer novos amigos. Contudo, três em cada quatro pais tentam intervir para facilitar esse processo. As estratégias incluem organizar encontros, inscrever os filhos em atividades extracurriculares, permitir o uso de mídias sociais para conhecer novos amigos e até mesmo comprar itens que ajudem a integrar as crianças. No entanto, muitos pais têm dificuldades em lidar com os obstáculos sociais que seus filhos enfrentam, como timidez, isolamento ou falta de tempo para interagir com novos colegas.
É importante entender que, em um mundo cada vez mais digital, os círculos sociais das crianças não se limitam apenas à vizinhança ou à escola. A tecnologia tem transformado a forma como as crianças se conectam, muitas vezes dificultando a supervisão dos pais. Para os especialistas, a chave é equilibrar o apoio com a autonomia, permitindo que os filhos desenvolvam habilidades sociais de forma natural, mas sem deixá-los à deriva.o

Como os pais podem ajudar sem interferir demais?
Becca Wallace, psicóloga pediátrica do Children’s Hospital de New Orleans, lembra que as formas de socialização das crianças mudaram muito nos últimos anos. “As amizades e as formas como as crianças se conectam hoje em dia são muito diferentes de quando os adultos eram crianças”, explica. A tecnologia, embora traga muitas vantagens, também traz desafios para os pais que, por vezes, não sabem como se envolver adequadamente.
Uma dica importante da Dra. Brook Choulet, psiquiatra certificada, é inscrever as crianças em atividades estruturadas, como esportes ou atividades artísticas. “Compartilhar interesses comuns com colegas facilita o estabelecimento de amizades”, afirma. No entanto, ela alerta para a necessidade de não intervir de forma excessiva. “É importante dar a eles ferramentas para administrar amizades de forma saudável”, complementa. Ensinar os filhos a serem gentis, a resolverem conflitos de maneira independente e a compreenderem as diferenças nas amizades são habilidades fundamentais para o desenvolvimento social.
A conselheira Stacy Thiry, por sua vez, sugere que os pais sirvam de modelo de comportamentos saudáveis. “As crianças aprendem observando como interagimos com nossos próprios amigos”, diz ela. Ao priorizar amizades que trazem alegria e apoio, os pais ensinam aos filhos a importância de cultivar relações positivas. Além disso, a resiliência emocional deve ser trabalhada. “Quando um amigo se afasta, incentive seu filho a falar sobre como se sente e lembre-o de que isso não reflete seu valor pessoal”, recomenda Thiry.
A importância da comunicação aberta
Para ajudar seus filhos a navegar nas amizades, é fundamental que os pais criem um ambiente seguro, onde a comunicação seja livre de julgamentos. O Dr. Choulet aconselha que os pais incentivem seus filhos a falar sobre suas experiências sociais, perguntando: “Quais são os desafios que você está enfrentando nas suas amizades?” Isso abre espaço para conversas que podem ajudar a entender melhor o que está acontecendo no mundo social da criança.
Além disso, a terapeuta Rachael Jones lembra que os pais não devem projetar suas próprias ansiedades nos filhos. “Se a criança não parece preocupada com a situação social, os pais devem administrar suas próprias preocupações para não transferi-las para o filho”, orienta. Muitas vezes, é mais fácil para os pais se preocuparem com o que os filhos sentem, mas é essencial garantir que a ansiedade social venha, de fato, da criança.
Isolamento e as mídias sociais
Embora o foco esteja em permitir que as crianças façam suas próprias conexões, é vital que os pais monitorem de perto os relacionamentos online. O Dr. Choulet ressalta a importância de educar as crianças sobre segurança na internet e limites claros no uso de redes sociais. “Nem tudo online é o que parece, e se algo parecer desconfortável, deve ser interrompido imediatamente”, orienta.
É importante também estar atento aos sinais de alerta de que a criança pode estar enfrentando dificuldades emocionais. Mudanças repentinas no comportamento, como irritabilidade excessiva, tristeza ou afastamento das atividades favoritas, podem ser um indicativo de que o isolamento social está afetando o bem-estar emocional do filho. Caso a criança mostre sinais de depressão ou ansiedade, buscar ajuda profissional é essencial.

Quando procurar ajuda profissional?
Caso você perceba que seu filho está isolado socialmente ou demonstra falta de interesse nas atividades, pode ser hora de procurar ajuda profissional. Segundo o Dr. Choulet, se houver uma mudança no comportamento, como aumento da irritabilidade, tristeza ou a verbalização de sentimentos de inutilidade, é crucial avaliar a situação com um especialista. A ansiedade e a evitação social também são sinais de alerta importantes, especialmente porque nem todas as crianças expressam abertamente seus sentimentos.
A Dra. Becca Wallace também aponta que é natural que algumas crianças tenham uma quantidade menor de amigos e que isso não deve ser motivo de preocupação imediata. “Cada criança tem sua própria bateria social. Não é porque os pais têm um grande círculo de amizades que seus filhos devem ter o mesmo”, explica.