Tínhamos o hábito de, anualmente, passar nos Correios e escolher uma cartinha com um pedido de presente de Natal feito por uma criança. Eu lembro do meu espanto quando, de um ano para outro, as cartinhas pedindo bicicletas foram substituídas por pedidos de celulares e tablets. Isso tem 10 anos.
Este ano, voltarei aos Correios e farei novamente esta pesquisa. Meeedo de encontrar cartinhas só com Labubu. Mas quem sabe não tenho uma surpresa boa?
A gente já pode dar uma ajudinha para melhorar minha pesquisa ainda em outubro: Dia das Crianças vai chegar. Que tal um brinquedo?
A verdade é que o brinquedo deve ser um meio para a brincadeira acontecer, nunca um fim em si mesmo. Quando eu era pequena, lembro de visitar uma prima que tinha bonecas guardadas em caixas na estante. Para brincar, era preciso pedir autorização, sem tirar o plástico dos cabelos perfeitos. Aquelas bonecas estavam ali, mas não eram brinquedos de verdade. Porque brinquedo serve para brincar.
Brinquedo que não pode sair da caixa, não é brinquedo. É objeto de colecionador
E quando o brinquedo “faz tudo sozinho”, a criança vira apenas espectadora. A ciência já mostrou que, diante de muitos brinquedos, a criança até pode se perder.

Então, como escolher?
Alguns critérios ajudam:
- O brinquedo precisa ser adequado à idade e ao interesse da criança.
- Vale variar: materiais, formatos, objetivos diferentes ampliam o repertório de brincar.
- Bons brinquedos são versáteis, crescem junto com a criança e podem ser usados de várias formas.
- E, claro, precisam ser seguros.
No mercado, ainda vemos estereótipos de gênero muito fortes, dividindo brinquedos “para meninas” e “para meninos”. É hora de olhar além disso. Por outro lado, há movimentos interessantes: os jogos de tabuleiro continuam em alta, cada vez mais criativos e acessíveis, e são ótimos aliados para reunir a família em volta da mesa.
Também é importante refletir sobre o excesso. Bora adotar estratégias simples como o rodízio (guardar alguns por um tempo e reapresentar depois), promover feiras de trocas ou adotar a política do “entra um, sai um”, doando brinquedos antigos quando chega um novo.
E tem ainda uma brecha importante: as crianças de 7 a 12 anos. Só 31% delas recebem brinquedos nessa fase, justamente quando as telas começam a ocupar mais espaço. É um desperdício, porque existem brinquedos desafiadores, jogos e materiais que fazem toda a diferença para manter o brincar vivo também nessa idade.
No fim das contas, brinquedo bom é aquele que gera brincadeira, vínculo e imaginação. O valor não está no preço nem no brilho da propaganda, mas na qualidade da experiência que proporciona.