A infância é uma fase cheia de descobertas e momentos incríveis, mas por que não conseguimos lembrar de tudo isso depois que crescemos? Esse fenômeno, conhecido como amnésia infantil, intriga cientistas há anos. Agora, um estudo publicado na revista Science trouxe novas pistas sobre o que realmente acontece com as memórias dos bebê.
Como as memórias se formam nos primeiros anos
O cérebro dos bebês está em um verdadeiro ritmo acelerado de aprendizado. Desde os primeiros meses, eles absorvem informações sobre o mundo ao redor, aprendem a reconhecer rostos, sons e padrões, além de desenvolver habilidades motoras e sociais. Mas, mesmo com todo esse progresso, a maioria das pessoas não consegue se lembrar de momentos específicos da infância.
Isso acontece porque o hipocampo, a região do cérebro responsável por armazenar memórias episódicas (aquelas que guardam detalhes específicos de eventos), ainda está em desenvolvimento nos primeiros anos de vida. Isso pode fazer com que as lembranças formadas nesse período fiquem armazenadas de maneira diferente ou até mesmo se tornem inacessíveis com o passar do tempo.
O que a ciência já descobriu sobre a memória dos bebês
Estudos anteriores feitos com animais mostraram que o hipocampo infantil cria padrões de memória, mas, ao longo do tempo, essas lembranças tendem a se apagar – a menos que sejam reativadas por estímulos específicos. Esse achado levantou uma grande questão: será que nossas primeiras memórias realmente desaparecem ou apenas ficam guardadas em um lugar difícil de acessar?
A pesquisa publicada na Science revelou que os bebês são capazes de formar memórias desde o primeiro ano de vida. No estudo, os cientistas monitoraram a atividade cerebral de 26 bebês enquanto eles viam imagens de rostos, cenários e objetos. Depois de um tempo, os mesmos bebês foram expostos novamente a essas imagens para que os pesquisadores avaliassem se eles as reconheciam. Os resultados indicaram que o hipocampo já participa da formação de memórias a partir de um ano de idade, principalmente nos bebês um pouco mais velhos.

Como os pesquisadores estudam a memória infantil
Estudar a memória de bebês é um grande desafio. Afinal, eles não conseguem contar o que lembram e, muitas vezes, não conseguem ficar parados para exames de imagem. Para contornar essa dificuldade, os cientistas criam experimentos específicos, como o uso de padrões visuais e até chupetas especiais que ajudam a medir reações cerebrais.
No estudo recente, os pesquisadores registraram as ondas cerebrais dos bebês enquanto eles olhavam para imagens. Isso permitiu analisar como o cérebro processa e armazena informações, revelando que as memórias da infância podem durar mais tempo do que se imaginava.
Memórias esquecidas ou apenas inacessíveis?
Se as memórias da primeira infância são formadas, por que não conseguimos acessá-las mais tarde? Essa é uma das maiores questões sobre a amnésia infantil. Alguns pesquisadores acreditam que essas lembranças nunca chegam a ser armazenadas a longo prazo, enquanto outros defendem que elas apenas ficam inacessíveis com o tempo.
Nick Turk-Browne, um dos cientistas envolvidos na pesquisa, sugere que essas memórias podem ser reativadas de alguma forma. Em outro estudo, sua equipe investiga se crianças mais velhas conseguem reconhecer vídeos gravados de sua própria perspectiva quando eram bebês. Os primeiros resultados indicam que essas memórias podem durar até os três anos antes de se tornarem difíceis de acessar.
O estudo da amnésia infantil continua avançando e promete trazer ainda mais descobertas sobre como nosso cérebro armazena e acessa memórias nos primeiros anos de vida. Com novas tecnologias de imagem cerebral e métodos mais sofisticados, os cientistas esperam desvendar o mistério das lembranças da infância.