A nostalgia de revisitar fotos de infância é algo universalmente apreciado, tanto por adultos quanto por crianças. A curiosidade sobre nossos primeiros anos de vida é natural, mas você já se perguntou por que é tão difícil lembrar-se dessa época? A psicóloga Maura de Albanesi, especialista em Terapia de Vivências Passadas e mãe de Lara e Marcela, oferece insights valiosos sobre este fenômeno.
Segundo ela, a ausência de memórias dos primeiros anos de vida pode ser atribuída a três fatores principais. Antes de completar três anos, as crianças ainda não possuem uma noção clara da própria individualidade, percebendo-se mais como uma extensão de suas mães do que como seres independentes.

“Isso dificulta a distinção entre o eu e o coletivo familiar, impactando na capacidade da criança de registrar acontecimentos como experiências individuais”, explica a especialista.
Além disso, o processo de armazenamento de memórias nesta fase inicial é diferente. Com o cérebro em intenso desenvolvimento e focado na absorção de novos aprendizados, muitas experiências são registradas apenas no inconsciente, sem formar memórias conscientes duradouras. Isso se deve, em parte, ao fato de os sentimentos associados a essas experiências não serem intensamente vivenciados naquele momento.
Outro aspecto relevante é o mecanismo de repressão psicológica. Segundo a psicóloga, experiências particularmente intensas ou traumáticas podem ser automaticamente “apagadas” pela mente como forma de autoproteção.
“É crucial compreender que apenas os eventos são suprimidos, enquanto as emoções podem permanecer, levando-nos a sentir coisas que não conseguimos racionalmente explicar”, acrescenta.

Este complexo funcionamento da memória durante os primeiros anos revela muito sobre a capacidade do cérebro humano de proteger-se e adaptar-se. O estudo das memórias infantis não apenas nos ajuda a entender melhor nosso desenvolvimento psicológico mas também destaca a importância de considerar as experiências emocionais e cognitivas nessa fase crucial da vida.
Ademais, pesquisas recentes sugerem que habilidades como a capacidade de mentir estão associadas a uma memória mais aguçada em crianças. Curiosamente, transformações significativas também ocorrem no cérebro durante a gravidez, afetando a maneira como as memórias são processadas e armazenadas.
Compreender os mecanismos por trás das nossas primeiras memórias pode não apenas enriquecer nossa percepção sobre o desenvolvimento humano mas também oferecer consolo para aqueles intrigados com as lacunas em suas recordações mais antigas. Este campo da psicologia continua a desvendar os mistérios da mente humana, revelando como nossas experiências iniciais moldam quem somos hoje.