O ano era 2016, em casa habitavam um pai, uma mãe, um menininho de seis anos e uma bebezinha com pouco mais de um. Eu, a mãe, já sentia saudades do puerpério, imersa em muito trabalho, pós licença-maternidade, agora deixando duas crianças na escola e carregando culpa, questionamentos sobre a profissão e o que realmente queria fazer com meu futuro.
O futuro! Bom, tive um encontro abrupto com ele. Era claro que a nova rotina não estava funcionando. Me sentia infeliz e o meu corpo dava sinais de que eu precisava parar. As alergias me levaram a um médico que me ajudou a repensar alimentação, produtos de higiene pessoal, maquiagem e até o esmalte das unhas! Voltei para casa com mais perguntas e o desafio de encontrar soluções naturais para suprir as demandas de uma mulher de quase 40 que carecia de saúde integral. Sim, era o começo do fim de um ciclo, ou seja, o início de um novo!

Certa noite, consegui ir para a cama mais cedo e ler uma revista. A intenção era relaxar. O título do artigo que eu tinha em mãos parecia leve: Muito Além da Ecobag. Eu que sabia bem como usar uma, e, por muitos motivos me considerara uma pessoa sustentável, não tinha a menor ideia de que estava prestes a iniciar uma jornada intensa, profunda e sem volta.
Naquele dia, pela primeira vez, li o termo Lixo Zero e fui apresentada assim a um movimento mundial que lidava com uma realidade, até então, pouquíssimo divulgada. Mas, espera aí, como assim Lixo Zero? Quem é Lixo Zero? Foi impossível prosseguir como antes. O “inocente” artigo trazia informações como:
“Em apenas quarenta anos, mais da metade da vida natural do planeta foi extinta” (Fundo Mundial para a Natureza – WWF). BUM! O “futuro” me atropelou.
Eu tinha acabado de colocar as crianças na cama, e agora me debatia com a possibilidade de não haver um futuro decente para elas. De um lado, quanto mais eu lia e pesquisava, pior ficava. Do outro, o Movimento Lixo Zero criava em mim um senso de responsabilidade pelo que estava acontecendo e, me apresentava um estilo de vida coerente com este futuro que nós desejávamos construir e compartilhar com nossos filhos, amigos e familiares.
Nasceu assim a Casa Sem Lixo, de um esforço mútuo e intencional em nos livrarmos do máximo de coisas que afetam negativamente o meio ambiente, ou que não terão um destino saudável. As mudanças foram acontecendo organicamente. Em geral, envolviam uma crescente intenção em SER, muito mais do que TER. De consumir sustentavelmente, “sem lixo”, produzindo o mínimo de rejeitos!
Lixo Zero – tradução para Zero Waste, que na verdade significa Desperdício Zero – não tem a ver com não gerar resíduos, mas com um estilo de vida que respeita os recursos naturais; mais próximo do que acontece na natureza, onde não existe lixo. Afinal, não temos planeta para desperdiçar, certo? Um simples delivery de sábado a noite, por exemplo, não deveria gerar tanto “lixo”: isopor, sachês, guardanapos, canudos, copinhos, etc., que permanecerão aqui por mais de 200 anos! A conta não fecha.

Há 5 anos fui picada pelo mosquitinho da sustentabilidade e percebi que o estilo de vida da minha família precisava mudar. Juntos, eu e o Paulo, meu marido, decidimos “olhar” para o “nosso lixo”. Durante uma semana mantivemos tudo em casa, nada de colocar “pra fora”. O objetivo era entender melhor nossas escolhas, erros e acertos: Porque não comemos todo o arroz? Porque tem tanta embalagem de comida industrializada aqui? Precisamos mesmo de todos estes produtos de limpeza?
De lá pra cá, venho compartilhando nas redes sociais nossos desafios diários, mudanças de hábitos, dicas e novas formas de viver mais conectada com nossa Casa Maior. Este se tornou meu novo trabalho. E é com muito prazer que farei isso por aqui também, com a mesma esperança de construirmos um futuro possível pra todos nós e para as próximas gerações.
Casa Sem Lixo é um lugar onde as pessoas se relacionam umas com as outras e, com o planeta de forma integral. Da lista do supermercado, ao tom de voz; da marca da roupa, às horas gastas no celular… Somos responsáveis por cada decisão e pelo impacto gerado por elas.