O acesso à tecnologia faz parte da rotina de muitas crianças, mas o tempo excessivo em frente às telas tem levantado preocupações entre especialistas. O desenvolvimento infantil pode ser afetado em diversas áreas, como na cognição, nas habilidades sociais e na saúde física. Estudos apontam que crianças que passam muito tempo em dispositivos eletrônicos podem apresentar dificuldades na fala, problemas de concentração, alterações no sono e aumento da impulsividade.
De acordo com a pesquisa Tic Kids Online Brasil de 2024, 93% dos jovens brasileiros entre 9 e 17 anos são usuários da internet, mostrando que essa discussão é cada vez mais relevante.
“O cérebro das crianças está em constante desenvolvimento, e a interação humana, o brincar e a exploração do mundo real são cruciais nesse processo. As telas, quando usadas em excesso, podem ocupar o espaço dessas atividades essenciais, prejudicando o desenvolvimento de habilidades sociais, emocionais e cognitivas”, explica Paulo Scatulin Gerritsen Plaggert, neuropediatra na Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo.
Como o uso excessivo de telas impacta o desenvolvimento infantil
Os efeitos do tempo excessivo de tela podem afetar diversos aspectos do crescimento infantil. Confira as principais áreas prejudicadas:
Desenvolvimento cognitivo
O excesso de telas pode comprometer habilidades como atenção, memória, criatividade e linguagem. Segundo Plaggert, o consumo constante de conteúdo rápido e altamente estimulante pode afetar a capacidade de concentração e o aprendizado.
“O excesso de telas diminui as oportunidades de interação, o que pode levar a atrasos na fala e dificuldades de comunicação. Com isso, o conteúdo rápido e estimulante também pode prejudicar a capacidade de concentração, afetando o aprendizado, o desempenho escolar e o processamento de informações”, destaca o especialista.
Desenvolvimento socioemocional
O contato excessivo com telas pode reduzir a interação social e aumentar sentimentos de ansiedade e baixa autoestima. Crianças expostas às redes sociais podem desenvolver comparações prejudiciais e se sentir pressionadas pelos padrões irreais apresentados online.
“As telas em exagero levam ao isolamento social e à dificuldade de interação com outras crianças, assim como a comparação com a ‘vida perfeita’ retratada nas redes sociais, o que afeta a autoestima”, explica Plaggert.

Desenvolvimento físico
O sedentarismo é uma das maiores preocupações relacionadas ao uso excessivo de telas. Ficar longos períodos sentado pode levar a problemas posturais, aumento do risco de obesidade e dificuldades no desenvolvimento motor. Além disso, a exposição prolongada à luz azul pode prejudicar o sono e a saúde ocular.
Como equilibrar o uso de telas na infância
A tecnologia não é vilã, mas seu uso precisa ser consciente. O neuropediatra reforça que o segredo está no equilíbrio: “As telas podem ser ferramentas educativas e de entretenimento, desde que utilizadas com moderação e dentro de um contexto saudável”.
Confira algumas dicas para um uso equilibrado:
- Limite o tempo de tela: Evite o uso de telas para crianças menores de 2 anos e estabeleça limites diários para as demais idades.
- Incentive outras atividades: Estimule brincadeiras ao ar livre, jogos em grupo, leitura e atividades físicas.
- Seja um exemplo: O comportamento dos adultos influencia as crianças. Se deseja que seu filho passe menos tempo nas telas, também reduza o uso dos dispositivos.
- Supervisione o conteúdo: Acompanhe o que a criança está assistindo e certifique-se de que é apropriado para sua idade.
- Crie momentos sem telas: Reserve espaços para interação familiar, como nas refeições ou durante jogos de tabuleiro.
Plaggert finaliza: “O desenvolvimento infantil é um processo complexo e multifacetado. O uso excessivo de telas é apenas um dos fatores que podem influenciar esse processo. Estar atento aos sinais, buscar informação e oferecer um ambiente rico em estímulos e interações positivas são a chave para garantir um desenvolvimento saudável”.
Manter um equilíbrio entre tecnologia e atividades do mundo real é essencial para o bem-estar e desenvolvimento pleno das crianças.