A rejeição emocional na infância deixa marcas invisíveis, mas profundas. Quando o amor falha, o corpo aprende a se defender do afeto. Dessa forma, surge o chamado “complexo da rejeição”, um padrão emocional que molda a forma como adultos se relacionam, amam e confiam.
Esta matéria, baseada na entrevista exclusiva concedida à Pais&Filhos pelos psicólogos Andeson Carneiro, Juliana Giroldo e Alceu Martins, profissionais de da Life Saúde Mensal, mostra como a rejeição emocional cria laços frágeis e como é possível curá-los por meio da empatia e da terapia.
Como a rejeição emocional molda nossos vínculos afetivos
De acordo com o psicólogo Andeson Carneiro, “quando a criança experimenta rejeição emocional, isto é, quando seus sentimentos não são acolhidos, reconhecidos ou validados pelo cuidador, ela precisa desenvolver uma estratégia para continuar pertencendo.” Por consequência, o cérebro infantil busca o que é essencial à sobrevivência humana: o contato com o outro.
Além disso, Carneiro explica que “essa necessidade de pertencimento faz com que a criança crie formas de interação em um ambiente instável, mesmo que isso custe sua autenticidade emocional.”
Portanto, essas estratégias de defesa acabam se tornando padrões de comportamento na vida adulta. “Quando o cuidador minimizava emoções e evitava proximidade, a criança aprende a se proteger sentindo menos. Assim, na vida adulta, isso aparece como evitação da intimidade e distanciamento”, detalha.
Por outro lado, quando o afeto era inconsistente — ora presente, ora ausente — a criança internaliza o medo do abandono. “Na fase adulta, essas pessoas tendem a desenvolver apego ansioso e necessidade constante de confirmação”, completa.
O “complexo da rejeição” e as feridas invisíveis do afeto
Segundo a psicóloga Juliana Giroldo, o chamado “complexo da rejeição” surge como “um padrão emocional que se forma quando a criança repetidamente experimenta indisponibilidade, inconsistência ou desqualificação de suas necessidades afetivas.” No entanto, ela ressalta que esse padrão não aparece apenas em casos extremos de abandono, mas também em experiências sutis do cotidiano.
Por exemplo, Giroldo explica que “às vezes é um choro ignorado, uma raiva punida, uma alegria sem testemunho. A criança percebe que suas emoções não encontram acolhimento e começa a se perguntar, de forma inconsciente: ‘é seguro depender de alguém?’”.
Dessa forma, duas formas principais de lidar com o amor surgem: “Algumas crianças aprendem a diminuir suas necessidades, tornando-se controladas e independentes precoces e, na vida adulta, amar profundamente passa a assustá-las. Outras ampliam suas emoções para garantir atenção e desenvolvem um alerta hipersensível ao distanciamento, vivendo em estado de vigilância emocional”, descreve.
Rejeição emocional e a escolha de parceiros: o eco da infância
O psicólogo Alceu Martins reforça que “quando a criança cresce em um ambiente no qual suas emoções não são reconhecidas, ela não aprende apenas a lidar sozinha com o que sente, ela aprende também o que esperar das relações afetivas.” Consequentemente, o ser humano tende a se vincular a pessoas que confirmam o que aprendeu sobre o amor.
Martins continua: “Na vida adulta, buscamos, sem perceber, parceiros que reproduzem o modelo interno de apego formado na infância. Se o amor era distante, imprevisível ou condicionado, essa pessoa se sentirá atraída justamente por vínculos emocionalmente instáveis.”
Assim, essa repetição não é escolha consciente. “Relações estáveis podem parecer entediantes, enquanto vínculos turbulentos soam intensos, porque a intensidade foi o que um dia sinalizou conexão. Portanto, o que chamamos de ‘rejeição emocional’ acaba determinando como reconhecemos e buscamos o amor”, explica.
Agora é lei: abandono afetivo tem consequências legais
Por muitos anos, a rejeição emocional era vista apenas como um problema familiar, sem implicações jurídicas. No entanto, isso mudou em 28 de outubro de 2025, quando o presidente em exercício, Geraldo Alckmin, sancionou a Lei 15.240/2025, que altera o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) para reconhecer que o afastamento emocional dos filhos é uma forma de abandono afetivo.
Dessa forma, pais e mães que negligenciarem o afeto, a atenção e a presença podem responder na Justiça por abandono afetivo, inclusive com possibilidade de indenização.
Autossabotagem: quando o medo de ser deixado controla o amor
Ainda segundo Andeson Carneiro, “quando houve rejeição emocional na infância, o sistema nervoso se organiza para evitar o abandono antes mesmo que ele aconteça.” Como resultado, a criança aprende que sentir é arriscado e que depender pode machucar.
Ele explica que, na vida adulta, esse medo se transforma em estratégias de controle ou fuga. “Algumas pessoas testam o parceiro constantemente, buscando provas de amor; outras fogem de relações profundas ou rompem antes que a intimidade se consolide.”
Por isso, Carneiro enfatiza: “A autossabotagem não representa fraqueza, mas uma forma de proteger uma emoção que aprendeu a sobreviver sozinha. Assim, o que parece frieza, carência ou agressividade é, na verdade, uma tentativa de manter o vínculo possível sem sentir dor.”
Como a terapia ajuda a ressignificar a rejeição emocional
A psicóloga Juliana Giroldo reforça que “padrão de apego não é sentença, é aprendizado, e aprendizados podem mudar.” Logo, o processo terapêutico oferece algo que pode ter faltado na infância: uma relação estável e segura. “A psicoterapia fornece um espaço previsível e acolhedor, no qual a vulnerabilidade é validada, e não punida. Esse é o primeiro passo para reconstruir a confiança”, afirma.
Além disso, Giroldo detalha que terapias como Psicoterapia Analítica Funcional (FAP), Terapia Analítico-Comportamental (TAC) e Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT) ajudam a pessoa a nomear emoções, reconhecer gatilhos e praticar novas formas de vínculo. “Desse modo, o sistema nervoso aprende a confiar novamente. Não é possível mudar o passado, mas é possível transformar a forma como o presente se relaciona com ele.”
Empatia e comunicação emocional: o caminho da cura
Por fim, Alceu Martins destaca que “a cura, ou melhor, a transformação, não acontece sozinha; ela acontece entre pessoas.” Dessa forma, relações seguras e amorosas têm o poder de reprogramar o cérebro e a mente.
Segundo o psicólogo, a empatia funciona como um espelho afetivo: “Quando alguém nos diz ‘eu vejo você, seus sentimentos fazem sentido’, o corpo aprende que vulnerabilidade não leva ao abandono, mas à conexão.”
Além disso, Martins ressalta a importância da comunicação emocional: “Validar antes de orientar, descrever em vez de julgar e retomar o vínculo após o conflito cria o terreno para a intimidade florescer.” Portanto, reparar erros de forma constante transforma a rejeição emocional em confiança e possibilita vínculos seguros.
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