O termo “incel” voltou com força nas últimas semanas, especialmente após a estreia da minissérie “Adolescência”, da Netflix, que traz à tona questões delicada. A série fez com que muitos começassem a se questionar sobre o que, de fato, é o movimento incel, seus perigos e como ele pode influenciar a violência entre jovens.
O que é o movimento incel?
O termo “incel” é uma junção das palavras “celibatário” e “involuntário”, e é usado por um grupo de pessoas, majoritariamente homens, que se veem incapazes de estabelecer relações afetivas ou sexuais, apesar de desejarem isso. A ideia por trás do movimento é que essas pessoas não conseguem o que querem devido a fatores externos, como a “prepotência” das mulheres ou a ideia de que o padrão de beleza social não os favorece. Embora o movimento tenha surgido com uma proposta de discussão sobre a falta de relações sexuais, ele acabou se tornando, ao longo do tempo, um espaço de ódio e misoginia.

No início, o movimento incel surgiu como um projeto de uma mulher canadense chamada Alana, que queria criar um espaço para discutir o celibato involuntário. No entanto, com o tempo, o espaço foi dominado por homens que transformaram as discussões em um discurso de ódio contra as mulheres. A história de Alana, que inicialmente tentou criar um ambiente inclusivo, é um exemplo claro de como os grupos podem tomar rumos inesperados.
O que motiva os incels?
O movimento incel atrai pessoas que se sentem excluídas ou marginalizadas pela sociedade, especialmente no que diz respeito ao relacionamento com o sexo oposto. Muitos deles, como os “adolescentes de quarto”, têm dificuldades sociais e se isolam no ambiente virtual, onde se sentem mais seguros. Essa dificuldade de socialização é muitas vezes agravada pelo uso excessivo de tecnologia, como jogos de video game e redes sociais, que acabam substituindo interações reais.
Uma das principais ideias do movimento incel é que 80% das mulheres se interessam apenas por 20% dos homens, os considerados mais atraentes e dentro dos padrões de beleza estabelecidos pela sociedade. Essa crença leva ao ressentimento contra as mulheres, que, de acordo com essa visão distorcida, são vistas como responsáveis pela exclusão dos homens considerados “fora do padrão”.
Como o movimento incel se espalha nas redes sociais?
O movimento incel ganhou força principalmente por meio de plataformas digitais como Facebook, Discord e fóruns online. Nessas redes, os membros do movimento compartilham suas frustrações, criando um ambiente de reforço mútuo para discursos de ódio e comparações físicas. Muitos acreditam que sua aparência física é a principal razão de sua exclusão, e isso os leva a criticar tanto a si mesmos quanto as mulheres.
A dinâmica de engajamento nas redes sociais também tem um papel importante na proliferação desses discursos. Muitos influenciadores incels criam conteúdo online, que atrai milhares de seguidores, e não só espalham ideologias misóginas, como também ganham dinheiro com isso. As plataformas digitais, por sua vez, se beneficiam dessa interação, pois o engajamento gerado por esses discursos de ódio resulta em mais dados sendo coletados e aumenta o lucro das empresas. Ou seja, o ciclo de ódio e engajamento acaba sendo alimentado pelas próprias plataformas.
O perfil dos incels
Em sua maioria, os incels são homens com dificuldades de socialização e comunicação. Eles têm uma visão distorcida sobre o que é um relacionamento e muitas vezes se consideram incapazes de atrair mulheres, alimentando ainda mais seu ressentimento. O termo “chad” é usado para descrever homens que estão dentro do padrão de beleza e que, portanto, são vistos como atraentes pelas mulheres. Já o termo “sub-5” descreve aqueles que se consideram abaixo do padrão e, por isso, acreditam que não têm chance de encontrar um parceiro.
Embora o movimento incel tenha ganhado notoriedade com homens mais velhos, ele também atrai adolescentes que, por não conseguirem entender as dinâmicas dos relacionamentos, se veem atraídos pela ideia de que suas dificuldades são causadas por fatores externos e não por suas próprias atitudes. Esse conceito de “romantismo distorcido” é uma das razões pelas quais os adolescentes acabam se aproximando desse movimento.

As pílulas vermelha, azul e preta: o que significam?
Com o tempo, os incels começaram a usar terminologias para classificar os diferentes grupos dentro do movimento. As “pílulas vermelha”, “azul” e “preta” são conceitos que têm origem no filme Matrix, e cada uma representa uma visão distinta sobre a vida e os relacionamentos. Geralmente os termos são usados em inglês, então é comum encontrar por ai os “Red Pills”, “Blue Pills” ou “Black Pills”.
O “Red Pill” é o termo adotado pelos incels que acreditam que sua inferioridade genética é reversível, ou seja, eles podem melhorar sua aparência e aumentar suas chances de atrair mulheres. O “Blue Pill” descreve aqueles que estão “presos” em relacionamentos, enquanto o “Black Pill” é para aqueles que se consideram irremediavelmente fracassados e acreditam que nunca terão sucesso em atrair uma mulher.
Essas divisões são apenas mais um reflexo de como o movimento incel cria uma visão distorcida da realidade e dos relacionamentos. Ao invés de buscar autoconhecimento ou melhorar suas habilidades de socialização, muitos incels escolhem se apegar a essas teorias como forma de se eximir de responsabilidades.