Dia 25 de julho é o Dia Mundial da Prevenção ao Afogamento, criado na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em 2021. A data traz atenção para um problema de saúde pública. Principal causa de morte entre crianças de 1 a 4 anos e segunda maior na faixa etária de 5 a 9 anos de idade, no Brasil morre uma criança afogada a cada três dias. Os dados são da Sociedade Brasileira de Salvamento Aquático (SOBRASA).
Por ano, 236 mil pessoas são vítimas fatais de afogamento e 90% das mortes acontecem em países de baixa e média rendas. Em 2023, foi adotada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) a primeira resolução para prevenir os casos.
Os afogamentos não acontecem só em mares, piscinas, rios e ambientes aquáticos de submersão, mas na verdade, muitas das vezes em situações cotidianas, como tomar banho, coletar água para uso doméstico, viajar sobre a água em barcos ou balsas e pescar.
Capacitar pessoas que possam ser observadores de água, garantir que regulamentações sobre embarcações sem cumpridas e tornar melhor a gestão do risco de inundações estão entre as medidas de baixo custo para prevenir os acidentes e são sugeridas a países e organizações para reduzir o número de vítimas.
Além disso, instalar barreiras que controlem o acesso à água, creches pré-escolares e instituições de cuidados infantis seguras construídas longe da água, ensinar natação, resgate, ressuscitação e segurança aquática são outras prevenções importantes.
A Organização Mundial da Saúde ainda sugere que os cidadãos, instituições e governos conversem, apoiem, incentivem e engajem eventos, organizações públicas, conversas e conscientizações sobre o assunto.
Como prevenir
As crianças, principalmente as menores, podem se afogar em baldes, bacias e até no vaso sanitário. Quando são pequenas, a cabeça e os membros superiores das crianças são mais pesados que o restante do corpo. Fica fácil perder o equilíbrio, cair e depois não saber como levantar. Por isso mesmo, todo cuidado é pouco.
“Cuidar não é só ficar olhando. É muito mais do que isso. Para tomar conta mesmo, é preciso abrir mão da diversão, do celular… Porque, depois que o acidente acontece, não tem mais volta”, alerta o pediatra Marco Antônio Chaves Gama, pai de Bruno e Gabriela e presidente do Departamento de Segurança da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).
Se seu filho cair na água e se afogar, é preciso ter calma. O primeiro passo é retirá-lo da água e desobstruir as vias respiratórias, colocando a cabeça um pouco para trás. Não dá para perder tempo. Logo em seguida, ligue para o serviço de emergência. Tenha o número do SAMU (192) e do Corpo de Bombeiros (193) sempre à mão e salvos nos contatos do celular. Ele pode ser útil quando você menos imaginar. “O importante é ligar para os bombeiros ou para a emergência imediatamente. Eles sabem como orientar e vão dando o passo a passo do que você deve fazer”, explica Marco Antônio.
A importância das aulas de natação
Só no Brasil, pelo menos uma criança morre todos os dias vítima de afogamento, segundo dados da Sociedade Brasileira de Salvamento Aquático (SOBRASA). E as aulas de natação são uma das formas de prevenção mais efetivas. A pratica pode diminuir em até 88% dos casos de afogamento na primeira infância, aponta a American Medical Association.
Além disso, um estudo da Universidade de Griffith (Austrália) mostrou que crianças com menos de 5 anos que já fazem aulas na piscina têm um melhor desenvolvimento motor, cognitivo, linguístico e até matemático, o que ajuda em emergências.
A dica é sempre procurar instrutores e escolas de natação especializadas. Mais do que aprender vários tipos de nado e se tornar um atleta profissional, a criança precisa saber como “se virar” se estiver em uma situação de risco.
A Safe Kids Worldwide, organização que previne lesões na infância por meio de pesquisas, divulgação comunitária, advocacia legislativa e campanhas de conscientização da mídia, recomenda que as crianças desenvolvam algumas “habilidades de sobrevivência” na água. Segundo a ONG, se a criança dominá-las, as chances de afogamento podem diminuir. Para isso, ela precisa saber:
1) Pular ou mergulhar, de forma que a cabeça afunde na água e ela saiba voltar à superfície;
2) Flutuar ou boiar, com a boca e o nariz para fora da água, por pelo menos um minuto;
3) Ter fôlego e resistência para nadar por pelo menos 22 metros;
4) Se movimentar em círculos, com a cabeça para fora da água, até encontrar um lugar seguro para sair dali;
5) Sair da água sem precisar usar uma escada.
Vale lembrar que o responsável que vai supervisionar a criança também precisa saber nadar. Todos da família devem aprender também, para saber como agir em caso de emergência. E nunca é demais lembrar: mesmo quem sabe nadar corre o risco de se afogar e as crianças precisam de supervisão o tempo todo.
Para manter as crianças em segurança
- Nunca deixe crianças sozinhas dentro ou perto da água, mesmo quando estiverem de colete salva-vidas. Um adulto deve estar a um braço de distância, no máximo;
- Ao chegar a um lugar com piscina, lago, rio ou mar, explique sobre todos os riscos e oriente que nadar sozinho, sem ninguém por perto, pode ser perigoso;
- Não superestime a habilidade das crianças. Mesmo aquelas que “sabem nadar” precisam de supervisão e orientação;
- Deixe o celular de lado. Não dá para supervisionar as crianças e responder mensagens ao mesmo tempo;
- Tenha cuidado com boias e equipamentos infláveis. Eles podem virar ou estourar a qualquer momento. Prefira sempre o colete salva-vidas;
- Tenha sempre um telefone por perto. Salvar os números do atendimento de emergência também pode ser muito útil (SAMU: 192; Corpo de Bombeiros: 193).
Em piscinas
- Evite deixar brinquedos perto da piscina ou dentro d’água. Eles podem chamar a atenção das crianças e fazer com que elas se arrisquem para pegá-los. Assim que acabar a brincadeira, recolha tudo;
- Antes de entrar na água, explique sobre os riscos de ralos e bombas de sucção. Mostre para a criança onde eles estão localizados naquela piscina. Se ela tem o cabelo mais comprido, prenda num rabo de cavalo ou use touca de natação;
- Explique que brincadeiras de empurrar, pular e prender a respiração debaixo d’água não são legais e nunca devem ser feitas;
- Se possível, instale barreiras que dificultem o acesso à piscina. Podem ser cercas, muros ou portões, que de preferência possam ser fechados com chaves ou cadeados. As capas de piscina até garantem mais proteção, mas não eliminam o risco de acidentes;
- Para crianças menores de 6 anos, prefira escolas e creches sem piscina.
Em rios, lagos, praias, cachoeiras e represas
- Antes de incentivar que as crianças entrem na água, tenha certeza que o lugar é seguro e que há salva-vidas por perto;
- Ensine a respeitar as placas de proibição e a seguir sempre as orientações do guarda-vidas. Mas lembre-se sempre: o papel de monitorar a criança é sempre dos pais e dos responsáveis, o guarda-vidas está ali apenas para ajudar em caso de emergência;
- Tenha cuidado com pedras, correntes e ondas;
- Não abuse: respeite os limites da natureza e só vá até onde tanto você como a criança consigam ficar em pé e em segurança.
Dentro de casa
- Mantenha cisternas, poços e reservatórios sempre trancados;
- Deixe baldes, bacias, piscinas infláveis e banheiras fora do alcance das crianças. Depois de usar, esvazie e guarde virados para baixo, de preferência em lugares em que elas não tenham fácil acesso;
- Tranque a porta do banheiro e da lavanderia por fora. A tampa do vaso sanitário deve estar sempre abaixada e, se possível, com travas específicas.