Conciliar carreira e maternidade continua sendo um grande desafio para muitas mulheres. Mesmo em pleno 2025, o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional ainda não é uma realidade para boa parte das mães brasileiras. A 31ª edição do Índice de Confiança Robert Half (ICRH) escancarou esse cenário: 64% das mulheres ainda enxergam a maternidade como um obstáculo no mercado de trabalho. Entre os homens, esse olhar é um pouco diferente: 43% deles reconhecem que essa dificuldade existe.
A pesquisa foi realizada com 387 tomadores de decisão e outros 387 profissionais empregados. Ela revelou um dado preocupante: muitas mulheres ainda sentem a necessidade de provar sua competência no ambiente profissional depois que se tornam mães. Enquanto 26% das mulheres relataram essa pressão, apenas 13% dos homens percebem isso como uma realidade enfrentada por elas.
E como se não bastasse a cobrança interna e externa, as mães ainda precisam lidar com estereótipos ultrapassados. Traços considerados tradicionalmente masculinos, como ambição e autossuficiência, ainda são vistos como características essenciais para liderar. Resultado? 35% das mulheres apontam isso como um entrave para o crescimento profissional, enquanto somente 26% dos homens percebem essa mesma barreira.
Além disso, o impacto financeiro também entra em cena. Quase metade dos homens (46%) diz acreditar que a maternidade pode gerar custos para as empresas, como licenças e horários flexíveis. Curiosamente, apenas 29% das mulheres enxergam essa questão com o mesmo peso.

As barreiras que travam o avanço das mães no trabalho
Se você está se perguntando por que as mães ainda enfrentam dificuldades no trabalho, a pesquisa trouxe uma lista que ajuda a entender o cenário. Entre os principais obstáculos, tanto na visão de recrutadores quanto de profissionais, estão:
- Percepção de que mães têm menor disponibilidade e comprometimento;
- Receio de custos adicionais com licença-maternidade ou com jornadas mais flexíveis;
- Dificuldade de conciliar carreira e família sem apoio estruturado;
- Falta de políticas de suporte, como creches e licenças prolongadas;
- Estereótipos de gênero que ainda dominam muitos cargos de liderança.
Para Ana Carla Guimarães, diretora de recrutamento executivo da Robert Half, essa situação mostra que ainda falta muito trabalho pela frente: “O meio empresarial ainda carrega algumas percepções distorcidas sobre a maternidade, o que limita o avanço feminino e evidencia uma necessidade de revisão estrutural dentro das organizações. Essa estereotipização, além de representar perda de talentos em um mercado cada vez mais competitivo, ignora as diversas habilidades desenvolvidas com a vivência de ser mãe”, destaca.
Sinais positivos e os próximos passos para o futuro
Nem tudo são pedras no caminho. Apesar do cenário desafiador, 42% dos tomadores de decisão afirmaram que já enxergam uma melhora nesse panorama. E isso tem muito a ver com as mudanças trazidas pelas novas gerações. “Temos avanços importantes, isso é inegável. As novas gerações entram no mercado já demandando equilíbrio, bem-estar e valorizam empresas com políticas inclusivas. A parentalidade passou a integrar o debate sobre cultura organizacional, mas ainda há um caminho relevante a ser percorrido”, reforça Ana Carla.
Mas como transformar esse cenário em realidade? A executiva tem algumas respostas práticas: “Podemos evoluir em direção à ampliação de medidas como jornadas flexíveis, modelos híbridos, programas estruturados de retorno após a licença e capacitação das lideranças para tratar o tema com mais empatia e inteligência emocional”, sugere.
E tem mais: um dos pontos que vêm ganhando destaque é justamente o aumento da licença-paternidade, um passo fundamental para equilibrar as responsabilidades entre mães e pais. “Outro ponto que vejo, felizmente, ganhando destaque é a licença-paternidade estendida, uma estratégia inteligente para equilibrar responsabilidades entre pais e mães, permitindo que elas avancem com mais autonomia e segurança”, finaliza Ana Carla.