No Brasil, é estimado que, a cada ano, nascem três mil crianças com a doença falciforme, ou anemia falciforme, além de outras 200 mil com traços da condição. Uma das maneiras de detectar, é a partir do Teste do Pezinho, que foi ampliado recentemente pelo SUS, e permite realizar os cuidados e tratamentos precocemente.
Para entender melhor sobre a anemia falciforme, conversamos com a Dra. Francielle Tosatti, Pediatra da Sociedade Brasileira de Pediatria, especialista em em Emergências Pediátricas pelo Instituto Israelita Albert Einstein e também com a Dra. Renata Aniceto, Pediatra da Liga da Cozinha Afetiva, mãe de Laura e Lucas.
O que é anemia falciforme?
De acordo com Francielle Tosatti, a doença afeta o formato dos glóbulos vermelhos, que são responsáveis por levar oxigênio para os tecidos e órgãos do corpo. “Um glóbulo vermelho é uma célula do sangue que normalmente tem o seu formato arredondado, já na anemia falciforme, essa célula tem um formato achatado e semelhante a uma lua crescente, ou uma ‘foice’, explica.
Sintomas de anemia falciforme
Geralmente, os primeiros sintomas começam a acontecer após os primeiros seis meses de vida, junto com a queda da hemoglobina fetal. Além disso, a doença pode vir acompanhada por fatores como:
- Crises de dor, causadas por oclusão dos vasos sanguíneos, devido o formato em foice das hemácias
- Dores ósseas, articulares e torácicas
- Situações de infecções, que podem causar uma crise hemolítica, ou seja, a quebra das hemácias com diminuição dos glóbulos sanguíneos circulantes, aumento o pigmento chamado bilirrubina
- Inchaço nas mãos e pés
- Febre
- Náuseas
- Vômitos
- Palidez
- Icterícia – saiba mais sobre essa condição
A anemia falciforme é mais comum nas crianças?
Por ser uma condição inata, Francielle comenta que a pessoa que já nasce com ela, persiste pela vida toda. Além disso, Renata Aniceto reforça que é possível descobrir a doença logo após o nascimento, a partir do Teste do Pezinho. Conheça a importância de um dos primeiros exames do recém-nascido.
Riscos da anemia falciforme
A partir de um diagnóstico precoce e acompanhamento regular com o pediatra, é possível notar um aumento da sobrevida e também a melhora na qualidade de vida da criança. “Como as complicações são agudas e obstrutivas, temos risco de perda de função ou falência de órgãos seja por obstrução ou falta de oxigenação”, comenta a Pediatra da Liga da Cozinha Afetiva.
Além disso, a Francielle completa dizendo que por uma possibilidade de rompimento, outros problemas podem acontecer: ” Em função disso, podem ocorrer situações graves como AVC, osteonecrose / infarto ósseo (causada pela falta de suprimento sanguíneo no osso ou articulação), Síndrome Torácica Aguda ( falta de ar, febre e dor torácica), crise do sequestro esplênico (dores abdominais e anemia aguda), crise aplásica ( quando a medula interrompe a produção de sangue, geralmente secundário a infecções virais – como o parvovirus b19), úlceras (feridas abertas especialmente nas pernas), pneumonias de repetição e priapismo (ereção prolongada e dolorosa)”.
Causas da anemia falciforme
Segundo Renata Aniceto, a anemia falciforme é hereditária, ou seja, passada de pais para filhos. Mas, Francielle reforça que existem possíveis gatilhos que desencadeiam uma crise falciforme. Entre eles estão: desidratação, alterações climáticas, viagens para locais de altas altitudes e, mais frequentemente, as infecções. “Contudo, elas também podem ocorrer espontaneamente, não sendo possível serem previstas. Por isso é fundamental estar sempre atento aos sintomas e sinais de alerta e manter o acompanhamento com Pediatra e Hemato Pediatra em dia”.
Como o tratamento é feito
Assim que o diagnóstico é descoberto, é muito importante que o bebê tenha acompanhamento médico pela vida inteira. Além disso, a Pediatra da Liga da Cozinha Afetiva orienta que a família também seja treinada por uma equipe para saber como lidar com os sinais de agravamento. “É importante ter consciência de medidas preventivas como, suplementação com ácido fólico e imunizações especiais”.
“É importante manter todas as vacinas em dia, especialmente antipneumococcica e vacina anti-hip. Enquanto alguns tratamentos buscam prevenir as possíveis complicações da anemia falciforme, outros são focados em aliviar a dor e as infecções”, complementa Francielle.
Anemia falciforme tem cura?
Dependendo da idade do paciente, é possível realizar o tratamento curativo. “É possível realizar o transplante de medula óssea, mas o tratamento só é indicado para pessoas com até 16 anos e com indicações específicas”, explica a pediatra pela SBP. Por isso, sempre procure um médico especialista para as recomendações certas em cada um dos casos.