O Ministério da Saúde publicou, na sexta-feira, 28 de novembro, a nova versão do Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) de Dermatite Atópica. A doença é inflamatória e crônica, deixa a pele extremamente seca, provoca coceira constante e aumenta o risco de infecções. A atualização é um marco importante para quem depende do Sistema Único de Saúde (SUS), especialmente crianças e adolescentes, porque amplia as possibilidades de cuidado desde os casos mais leves até os mais graves.
Até essa mudança, o SUS contava apenas com a ciclosporina, um medicamento oral indicado para adultos com quadros graves e três pomadas para tratar manifestações leves. No entanto, a dermatite atópica é muito mais comum do que parece: estima-se que ela atinja até 20% das crianças, 14% dos adolescentes e 3% dos adultos no Brasil. Dentro desse grupo, 7,6% das crianças apresentam a forma grave da doença.
Tratamentos modernos para diferentes faixas etárias
Com o novo PCDT, o Ministério da Saúde inicia o processo de incorporação de terapias mais avançadas. Para crianças de 6 meses a 12 anos incompletos com dermatite atópica grave, foi incluído o dupilumabe. Já adolescentes com quadros moderados ou graves terão acesso aos inibidores da Janus quinase (JAK). A lista também passa a incluir novos tratamentos tópicos, como tacrolimo e furoato de mometasona, além do imunossupressor metotrexato.
Hoje, cerca de 76% dos brasileiros dependem diretamente do SUS, o que representa aproximadamente 213 milhões de pessoas. Entre 2024 e 2025, foram mais de 1 mil atendimentos hospitalares e mais de 500 mil consultas ambulatoriais relacionadas à dermatite atópica na rede pública. Por isso, a atualização é vista como um avanço significativo por especialistas. De acordo com o Dr. Wagner Galvão, especialista em doenças dermatológicas graves e membro da equipe de dermatologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, “Os casos graves de dermatite atópica têm uma qualidade de vida muito comprometida. Depois de anos de luta, finalmente vemos o SUS reconhecer a importância de ampliar o acesso ao tratamento da doença. Este é um passo fundamental para o tratamento desses casos nas crianças e adolescentes que sofrem diariamente com os sintomas da doença.”

A dermatite atópica também pode abalar a saúde emocional e o bem-estar dos pacientes. Uma pesquisa da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) mostra que 35% das pessoas diagnosticadas já passaram por situações de discriminação, e os adultos chegam a perder até 80 noites de sono por ano. A falta de descanso não só piora os sintomas como também aumenta o risco de hipertensão, diabetes e depressão.
Próximos passos: quando os novos tratamentos chegam ao SUS?
Mesmo com a atualização, as terapias recém-incorporadas ainda não estarão disponíveis imediatamente. O Ministério da Saúde tem um prazo de até 180 dias para oferecer esses tratamentos na rede pública. Segundo o Dr. Galvão, “Esse é só o primeiro passo da nossa missão de oferecer acesso a todos os pacientes. Nosso próximo objetivo será garantir que os adultos também sejam contemplados – público que ainda não foi considerado nesse novo PCDT”.
Entenda o que é o PCDT
O Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas é o documento que define como o SUS deve diagnosticar, tratar e acompanhar cada condição de saúde. Ele padroniza o atendimento, orienta os profissionais e serve como base para a entrada de novos medicamentos e tecnologias.
Com essa atualização, o Brasil passa a se alinhar às recomendações internacionais e reforça a importância de um cuidado contínuo, integrado e especializado para a dermatite atópica.











