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Da segurança à gentileza: como ensinar às crianças a serem bons cidadãos digitais

Eles estão cada vez mais conectados ao mundo online - Getty Images
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Parents

Publicado em 09/11/2020, às 10h08 - Atualizado às 11h42 por Helena Leite, filha de Luciana e Paulo


As tecnologias no geral evoluíram muito rápido. Em poucos anos vimos a chegada dos computadores, celulares, smartphones e diversos outros aparelhos. Assim como os aparelhos, a internet só cresceu durante esse período: alcançando mais lugares e pessoas e fazendo cada vez mais parte da rotina de todos. Esse mundo, tão encantador, pode trazer muitos benefícios: do melhor acesso à informação à aproximação de pessoas distantes (o que seria de nós durante a quarentena sem a internet?). Em contra-partida, ele também pode ser muito perigoso, principalmente para as crianças.

Eles estão cada vez mais conectados ao mundo online (Foto: Getty Images)

“Quando as crianças são expostas à internet, sempre haverá algum nível de risco dos efeitos da tecnologia em suas vidas, e esse risco pode mudar a dinâmica do desenvolvimento dela”, diz Yuhyun Park, Ph.D., fundadora do DQ Institute, que mede a segurança online de crianças em todo o mundo e tem a missão de tornar o mundo digital um lugar mais seguro. Infelizmente, porém, há relativamente pouco que os pais possam fazer para mudar o ambiente da Internet.

A melhor alternativa? Capacitar os filhos com as ferramentas adequadas para interagir com a tecnologia, aponta Yuhyun. “Você tem que criar seus filhos com os valores da sua família, seja no mundo online ou presencial”, diz. Aqui vão algumas dicas e coisas que você precisa saber para conseguir fazer isso:

Primeiramente: o que é cidadania digital?

Cidadania digital são seus hábitos monitorados que afetam as comunidades digitais das quais você participa ou depende, explica Yuhyun. Para criar bons cidadãos digitais, ela orienta que os pais deem às crianças o máximo possível de “inteligência digital” ou seja, um conjunto de habilidades sociais, emocionais e cognitivas que permitem aos indivíduos lidar com desafios e se adaptar às demandas da vida digital.

A Dra. Park foi a pioneira do termo inteligência digital porque queria que os filhos dela não apenas estivessem seguros ao conversar com pessoas online, mas também fossem usuários da Internet sábios em todos os aspectos. Crianças com sabedorias como essas tornam-se bons cidadãos digitais que irão melhorar as comunidades digitais das quais fazem parte, ao mesmo tempo que permanecem seguras, explica ela.

À medida que mais e mais crianças estão interagindo digitalmente – com conteúdos e entre si – o conceito de cidadania digital se torna cada vez mais importante. “Quanto mais cedo as crianças puderem dizer que as regras que têm no mundo real existem neste mundo digital amplamente invisível, elas terão uma compreensão mais profunda das implicações de longo prazo de suas ações digitais”, aponta Yuhyun Park. Veja o que fazer para criar seus filhos como verdadeiros cidadãos digitais:

Ensinando a inteligência digital

“O mundo digital é um lugar vasto para aprendizado e entretenimento. Mas é nesse mundo digital que as crianças também estão expostas a muitos riscos”, diz  Park. Os riscos incluem cyberbullying, vício em tecnologia, conteúdo obsceno e violento, radicalização, golpes e roubo de dados. Para garantir que seu filho tenha uma “inteligência digital”, você pode seguir esses passos:

É preciso ensiná-los a lidar com o mundo online (Foto: Getty Images)

Lição 1: identidade digital e inteligência emocional

É preciso falar sobre a reputação online. “Você deve ter consciência da personalidade que tem online e se isso se traduz na mesma pessoa que você é offline”, diz a psicóloga escolar Francyne Zeltser, Ph.D. O que você posta online é muito diferente da pessoa que é quando esta cara a cara com alguém? “Isso é extremamente importante para as crianças entenderem, porque você não quer que elas pensem que o que dizem ou fazem online deve ser diferente do que diriam ou fariam na vida real”, diz ela.

Indo um passo adiante, reclamar nas redes sociais ou falar mal de um amigo nunca é bom, porque o que você diz online se torna sua pegada digital da qual você nunca vai escapar ou se livrar, alerta a psicóloga. “As crianças também precisam entender que o que dizem online não vem com todas as expressões e tons que damos em conversas presenciais, portanto, pode ser mal interpretado ou entendido de forma diferente do que se pretendia”, diz o Dr. Zelster. Pessoas interagindo e tendo conversas online deixam espaço para interpretações errôneas e sentimentos que podem ser feridos.

Como ensinar: a única maneira de aumentar a inteligência emocional online é garantir que as crianças ainda estejam tendo socialização pessoal suficiente. É assim que eles vão aprender o quão fortes seus relacionamentos realmente são. Se o seu filho sempre fala com alguém que pensa ser um amigo online e nunca pessoalmente, ele entende se é realmente amigo ou não?

Lição 2: tempo de uso

Quanto do seu tempo livre, fora da escola (aprendizado remoto ou pessoalmente), você gasta em mídias sociais, jogos ou assistindo a vídeos? “É necessário sempre haver um equilíbrio saudável entre o tempo de tela e as atividades que promovam a criatividade, bem como a interação física e humana”, aponta Francyne. Não apenas os olhos precisam de uma pausa de ficar olhando para uma tela o dia todo, mas seus filhos também precisam saber como agir sem a necessidade constante de um aparelho. “Os pais precisam se certificar de que as crianças saibam viver longe dos dispositivos móveis e das telas, especialmente quando têm a oportunidade de se envolver pessoalmente, como em encontros ou na comunidade. Essas oportunidades se tornaram cada vez mais raras e, portanto, quando acontecem, crianças não deveria assistir a filmes, jogar ou assistir a vídeos no TikTok “, diz ela.

Como ensinar: se você deseja que seus filhos sejam bons cidadãos digitais, eles precisam ter uma vida fora de seus dispositivos. Isso é o que os torna quem eles são, e se eles estão apenas interagindo em um fórum digital, eles não estão se abrindo para oportunidades no mundo real, oportunidades além da tela. A exposição a diferentes atividades e ambientes permite que as crianças desenvolvam habilidades, aumentem a confiança e explorem novos hobbies e desejos.

Lição 3: segurança digital

É preciso se preocupar com a segurança online (Foto: Getty Images)

A segurança é provavelmente a questão que mais preocupa os pais quando pensam nos filhos interagindo online. Coisas como cyberbullying, comportamento sexual online ou risco à reputação, violência e obscenidades são lembretes assustadores dos problemas em que seus filhos podem se meter. Os perigos estão aí e você não poderá evitá-los a vida toda. “Você não pode proteger seus filhos das coisas que se escondem do outro lado, mas pode ensiná-los a identificar esses riscos e não se envolver”, aconselha a psicóloga.

Existem alguns métodos para ensinar segurança digital para crianças:

– Quando apropriado, discuta notícias sobre intimidação virtual e questões de privacidade com toda a família. “Use esses eventos como quebra-gelo para conversas sobre o que é ou não legal online – e o que você e seu filho podem fazer durante uma situação insegura“, explica ela. Pergunte como seu filho pode responder a certos incidentes e questione sobre como você pode ajudá-lo da melhor forma com qualquer problema online. Lembre-se de que ambas as respostas provavelmente mudarão de acordo com a idade dos seus filhos, portanto, mantenha esses diálogos sempre em aberto.

– Monitore as mudanças de comportamento e humor. Raramente é aconselhável trair a confiança de seu filho lendo as mensagens de texto dele ou comunicações privadas sem que ele saiba. Isso pode facilmente sair pela culatra e levar a um comportamento ainda mais reservado, alerta Francyne Zeltser. Em vez disso, fique atento às mudanças de humor e ao aumento da atividade online, que são sinais de alerta quando algo não está indo bem, dizem os especialistas. “Se seu filho parece ficar cada vez mais online ou emocionalmente preocupado com o telefone ou computador, pode ser um sinal de alerta”, diz ela.

– Encontre soluções contra o bullying juntos. Muitas crianças não contam aos pais que estão sendo vítimas de cyberbullying. Elas podem sentir-se constrangidas ou envergonhadas por deixar você saber que foram o alvo. Às vezes, as mais novas não reconhecem a provocação como intimidação, mas geralmente é assim que começa. Eles também podem ter medo de que seu envolvimento piore as coisas. “Certifique-se de que você e seu filho concordam sobre qual deve ser o resultado”, sugere a profissional.

– Prepare seu filho para o mau comportamento antes que ele aconteça. A Francyne sugere que você ensine seu filho a fazer o seguinte: desconectar o computador, ignorar os ataques e ir embora sempre que a provocação online começar. Não revide ou diga coisas ao seu agressor. “Eles querem obter uma reação sua, então você não quer que o plano deles funcione”, diz ela. Quando possível, “bloqueie” o agressor de se comunicar com você online ou tire-o dos amigos para evitar mais envolvimento. Se ajudar, peça a seu filho que exclua as mensagens que o agressor deixou, para não ficar revivendo essa situação. “Quando o bullying não parar, comece a imprimir e salvar mensagens e comentários como evidência. Como pai, é quando você deve intervir”, orienta ela.

– Fique de olho. Tente estar próxima do seu filho quando ele está usando os aparelhos eletrônicos o máximo o possível, para conseguir ver o que ele está fazendo. Se você não deixa ele ver certo desenho na TV, ele tem que entender que também não pode procurar coisas relacionadas a esse desenho online, por exemplo.

Lição 4: privacidade digital

Pesquisadores da Universidade de Maryland e da Universidade de Princeton, ambas dos Estados Unidos, deram às crianças uma série de cenários hipotéticos, como perguntar como elas achavam que uma criança da idade dela reagiria se, por exemplo, um irmão ou pai olhasse para o celular de um desconhecido por cima do ombro ou se algum estranho pedisse o endereço delas em uma mensagem online.  As crianças neste estudo (5 a 11 anos) geralmente compreenderam como a privacidade e a segurança funcionam online. Quando questionados sobre sites como o YouTube, eles pareciam entender que a pessoa que postava vídeos estava exibindo uma experiência pessoal para um público mais amplo ver. Portanto, o que é mostrado ou postado online não deve ser algo pessoal.

Se cavarmos um pouco, veremos que as crianças parecem entender. Os pesquisadores disseram que quase todas as crianças entrevistadas sabiam que certos tipos de informações, como senhas, eram confidenciais. Eles também reconheceram que não havia problema em compartilhar informações com certas pessoas, como pais e professores, mas não com conhecidos menos familiares ou estranhos. A maioria dos pais, no entanto, disseram que falar de privacidade online não era uma prioridade com crianças de 5 e 6 anos. Embora esses pais soubessem que essas preocupações eram reais, a maioria queria esperar até que os filhos chegassem mais perto da idade de ter os próprios smartphones ou de ter permissão para passar o tempo nas redes sociais.

Como ensinar: A psicóloga sugere começar a conversar com seus filhos sobre o mundo digital o mais cedo possível. “Mostre aos seus filhos que existe um mundo online que inclui as redes sociais como Facebook e Instagram. Deixe-os ver e ter uma opinião sobre o que você posta, especialmente o conteúdo que os inclui. Eles terão um melhor entendimento sobre como o que estão fazendo no “mundo real” está sendo mostrado online. E veja como isso os faz sentir. Respeite a opinião do seu filho e evite postar conteúdo que ele não se orgulhe de ter compartilhado “, diz ela.  “Quanto mais cedo as crianças puderem relacionar que as regras que têm no mundo real existem neste mundo digital amplamente invisível, elas terão uma compreensão mais profunda das implicações de longo prazo de suas ações digitais”, finaliza.

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