Não é apenas a gestante que pode dar de mama ao bebê! A amamentação induzida já é uma realidade e a qualidade do leite é tão boa nutricionalmente quanto a de quem gestou. Em matéria dada à BBC, a jornalista Camila Souza e a bibiotecária Aline Tavella contam sua experiência com o processo.
Após 13 anos de união e muito planejamento, Aline engravidou por meio de reprodução assistida, mas a esposa Camila também decidiu amamentar. Para isso, a jornalista passou por um tratamento médico chamado aleitamento induzido para iniciar a produção de leite e conseguir alimentar o filho, Nicola.

Motivada pela ideia de partilhar as atividades da maternidade, Camila decidiu dar uma chance ao método. ”Eu sabia da possibilidade porque uma amiga tinha tentado. No caso dela, não deu certo, mas eu pensei: Se existe a possibilidade, por que não tentar?”, comenta.
Nas consultas com os profissionais, eles deixaram claro que Camila provavelmente teria menos leite que Aline, já que ela era a grávida. Porém, mesmo assim ela poderia somar na nutrição do bebê. Além disso, o leite da gestante teria o mesmo teor nutricional e igualmente capaz de alimentar um recém-nascido que o de Camila.
A amamentação induzida foi um sucesso para a jornalista. ”Comecei sem muita expectativa, mas a amamentação deu muito certo para mim”, conta. Nove dia depois do começo do protocolo, as gotas de leite inicias começaram a dar sinais. De acordo com os especialistas da BBC News Brasil, a vivência dela é um pouco mais rara.

A jornalista produziu mais que o suficiente. Três meses antes do bebê nascer, a produção era tanta que ela doou para bancos de leite. Nesses locais, litros de leite são estocados para os recém-nascidos de mães que não conseguiram dar de mamá. ”No pico da produção, cheguei a doar um litro em uma semana”, detalha.
Indução do aleitamento, como funciona?
A indução da amamentação vai além da dupla maternidade, como é o caso de Aline e Camila. Pais adotivos de um bebê que ainda necessita do leite também podem avaliar a opção. Logo, o que precisa ser feito é imitar o processo biológico que ocorre em uma pessoa que está gestante.
No caso de alguém que tenha tempo para se preparar, o médico pode começar com a prescrição de terapia hormonal, com estrogênio e progesterona para disfarçar os efeitos de gravidez. Junto com isso, a substância que promove lactação, galactagogo. Presente em rémedios para enjoo, como o Plasil, a subastância domperidona é a mais comum entre as indicações médicas.
Apesar de não ser aprovado pela Anvisa com a função de um medicamento para a indução da amamentação, o Plasil tem um efeito ”off label”. Isso significa que mesmo sendo um rémedio de enjoo, a droga funciona para outro objetivo, que é a produção de leite.

É claro que nem todo mundo pode fazer usos de hormônios, por isso a prática não é recomendada para pessoas que tiveram trombose venosa profunda, hipertensão arterial não controlada, doença cardíaca, câncer de mama e outros tipos de cancêr sensíveis a hormõnios e histórico de acidente vascular cerebral.
A parte fundamental de todo processo de aleitamento é a sucção, pois esse ato é responsável pela produção de prolactina. Para isso, a sucção pode ser feita pelo bebê ou por uma bomba elétrica. A prolactina atua na produção do leite e a ocitocina faz com que os ductos mamários sejam contraídos e o leite seja empurrado para os mamilos. Essa dupla de hormônios faz com que a hipófise, uma parte do cerébro, entenda a necessidade da produção de leite.
A mãe biológica passa por uma maturação das glândulas mamárias durante a gestação. Assim, a mãe que realizou o aleitamento induzido precisa ter em mente que pode ter uma produção inferior. No caso do casal, após ter complicações no parto, Aline não produziu muito leite, assim, o leite de Camila se tornou essencial para o filho Nicola.
Importante deixar claro que o aleitamento induzido não é amamentação cruzada. A segunda prática é contraindicada pelo Ministério da Saúde e Organização Mundial da Saúde (OMS) pelo risco de passar doenças através do leite. No caso da induzida, a pessoa não gestante realiza exames para garantir a boa saúde e não há risco para o bebê.