Abril Azul é o mês de conscientização sobre o autismo. Mais do que uma campanha simbólica, é um momento para promover inclusão, disseminar informação e reforçar a importância do diagnóstico precoce. Para trazer essa reflexão de forma real e emocionante, a confeiteira, influenciadora e mãe solo Fernanda Bande concedeu uma entrevista exclusiva à Pais&Filhos, compartilhando os desafios e aprendizados que a maternidade atípica trouxe para sua vida. Fernanda é mãe de Marcelo, de 13 anos, diagnosticado com Transtorno do Espectro Autista (TEA), e Laura, de 7 anos.
O impacto do diagnóstico e o processo de aceitação
Receber um diagnóstico de TEA pode ser um desafio para muitas famílias, e para Fernanda não foi diferente. “Foi um susto, porque como toda mãe que se nega a achar que seu filho possa ter algo, eu também passei por isso. É um processo e esse processo é muito individual. Nesse caminho, algumas pessoas acabam se metendo, comentando algo, dando uma opinião, e a mãe entra num modo de autodefesa e de proteção. Eu pensava: ‘meu filho está ótimo, não tem nada’”.
Foi apenas quando Marcelo entrou na escola que os primeiros sinais se tornaram mais evidentes. “Na primeira semana de aula, me chamaram para uma reunião e indicaram que eu levasse ele a uma neurologista. Eu não queria acreditar, mas segui a recomendação. Ele ainda era muito pequeno, tinha dois anos, mas já estava no espectro”, conta Fernanda.
Aceitar o diagnóstico foi um processo difícil, mas essencial para dar ao filho o suporte necessário. “No começo, foi complicado, porque eu já estava condicionada a negar tudo e a viver numa bolha só eu e meu filho. Mas, quando uma profissional renomada diz que você precisa ter um olhar diferente sobre seu próprio filho, você começa um processo interno de aceitação. E a aceitação é libertadora, porque a partir dela você começa a entender como realmente ajudar”, relata.
A adaptação da rotina e os desafios diários
O diagnóstico trouxe mudanças importantes para a rotina da família. “Tivemos que tomar várias providências, como o contato visual, tratamentos médicos, terapia fonoaudiológica e psicológica, e atividades físicas. Tudo isso se tornou obrigatório e urgente”, explica Fernanda. “E não é fácil. O tempo todo eu me cobro para fazer o melhor, para estar atenta, para garantir que ele tenha todo o suporte. É uma luta diária, mas cada avanço dele é uma vitória nossa”.
Ela destaca a importância do acompanhamento precoce: “Quanto antes começa o tratamento, melhor é o desenvolvimento. Às vezes, conseguimos até reduzir o nível de suporte necessário. Isso é ótimo, porque significa mais autonomia para ele no futuro”.
Mas, como Fernanda ressalta, cada criança com autismo é única. “O processo é muito individual. Cada uma tem seu tempo e é especial do seu jeito. Não existe comparação. E isso é algo que a gente aprende no caminho. No começo, a gente quer respostas rápidas, quer ver resultados logo, mas cada pequeno progresso deve ser celebrado. E as pequenas vitórias foram chegando, e isso me deu esperança”, diz.

O futuro e o desejo de independência
Entre as preocupações de Fernanda, uma das maiores é garantir que Marcelo possa conquistar autonomia. “Minha maior preocupação com ele é que seja independente. A gente sabe que algumas crianças, alguns jovens e adultos com um nível de suporte maior talvez não consigam. Mas o Marcelo tem total capacidade de se desenvolver, no tempo dele. Eu quero que um dia ele possa estar tranquilo, fazendo as coisas dele, trabalhando, andando na rua, vivendo a vida dele, sem precisar de tanto suporte assim”, afirma.
Hoje, Fernanda equilibra a rotina profissional com o cuidado aos filhos e enxerga esse momento como crucial para o desenvolvimento de Marcelo. “Agora é justamente o momento em que consigo dar um retorno maior pra ele. Então, para poder dar um retorno maior pra ele, eu preciso também focar em mim. A minha maior preocupação é essa: conseguir estar presente da melhor forma possível para que ele cresça com as ferramentas que precisa para ser um jovem independente. Quero que ele tenha uma vida saudável, que possa simplesmente ir e vir onde quiser e que seja compreendido”, completa.
Uma mensagem de esperança
Para as mães que estão passando pelo mesmo processo, Fernanda deixa um recado de força e esperança. “Eu sei que está difícil, eu sei que você chora todas as noites, eu sei que dói, eu sei que você se sente sozinha. Mas ao mesmo tempo, você se sente abençoada por ter uma pessoa especial, maravilhosa, única ao seu lado para cuidar, né? É uma missão. E, por mais desafiadora que seja, acredite: vai valer a pena. Porque cada conquista deles é a nossa maior recompensa”, diz.
Ela reforça a importância da persistência: “O estímulo funciona, a medicina funciona, as terapias funcionam. Mas é preciso continuar. A resposta nunca é desistir, e sim se fortalecer. Mesmo que pareça difícil, mesmo que pareça longe, as evoluções acontecem. Uma hora, você olha para trás e percebe o quanto valeu a pena”.
O Abril Azul é um convite para aprender, acolher e construir um futuro mais inclusivo. A história de Fernanda Bande é um lembrete de que o amor e a informação são aliados essenciais nessa jornada.