Ouvir seu filho dizer algo racista pode trazer um choque imediato: vergonha, culpa, medo do julgamento ou até confusão sobre onde ele aprendeu aquilo. Mas, por mais desconfortável que seja, esse é um dos momentos mais importantes da educação familiar. Crianças não nascem preconceituosas, elas absorvem e repetem frases, expressões e comportamentos do ambiente ao redor. Por isso, quando surge uma fala racista, discriminatória ou carregada de estereótipos, o melhor caminho não é fingir que não aconteceu, e sim conversar.
A primeira atitude é interromper a situação com calma, deixando claro que aquela frase não deve ser repetida. Explicar por que machuca, por que é injusta e por que fere a dignidade do outro ajuda a criança a compreender o impacto das próprias palavras. Essa conversa precisa ser direta, simples e adequada à idade, mas nunca agressiva, já que crianças aprendem melhor quando se sentem seguras, e não envergonhadas. “No caso do racismo, cada um de nós precisa encarar a realidade e arregaçar as mangas para mudar. Nesse processo, tudo começa por nós, os adultos”, explica Paula Batista, filha de Zélia e José Natal, e jornalista.

Depois do momento inicial, é essencial abrir espaço para diálogo. Pergunte de onde veio a frase, onde ela ouviu ou o que achou que significava. Muitas vezes, a criança nem entende completamente o que disse, ela apenas reproduz. Isso não diminui a gravidade, mas muda a abordagem: ao invés de culpá-la, você ensina. Mostrar empatia, acolher e explicar com clareza ajuda a construir consciência, responsabilidade e respeito.
Como criar um ambiente antirracista dentro de casa
Criar um ambiente antirracista dentro de casa começa pelas referências que a criança encontra no dia a dia. Ter livros com protagonistas negros, por exemplo, amplia o olhar e mostra que todas as histórias merecem ser contadas e celebradas. Da mesma forma, oferecer bonecas e bonecos diversos ajuda a naturalizar diferentes tons de pele, traços e cabelos, para que a criança cresça entendendo que não existe um único padrão de beleza.
Também é importante evitar piadas, expressões e comentários estereotipados, mesmo aqueles que parecem “inofensivos”. Eles alimentam preconceitos antigos e reforçam ideias que não combinam com o mundo que queremos construir. Valorizar o cabelo, traços e a cor faz parte dessa educação. Crianças que convivem com a diversidade aprendem a enxergar beleza, igualdade e humanidade em todos os corpos e histórias.

Quando a família demonstra, nas atitudes e nas escolhas, que a diversidade é um valor, a criança aprende muito antes de qualquer conversa formal. E, a partir desse ambiente acolhedor, falar sobre racismo se torna um processo mais natural, leve e alinhado aos princípios que ela já vive dentro de casa. Esse é um trabalho de construção, pois a criança não se torna antirracista apenas com correções por mau comportamento.
E lembre-se: criar filhos antirracistas exige constância, escuta e presença. Uma frase preconceituosa não define a criança, mas a forma como os adultos respondem define qual caminho ela aprenderá a seguir. Com diálogo, acolhimento e correção firme, é possível transformar momentos difíceis em aprendizados que acompanham para a vida inteira.








