Seu sangue está fervendo. Fervendo! Você já disse um milhão de vezes para o seu filho que não era para sair correndo no shopping – ou entre as mesas do restaurante, ou pelo supermercado, ou qualquer outro lugar. Mas ele foi lá e fez de novo. Sua missão? Chamar sua atenção, óbvio. O desafio é fazer isso sem deixá-lo ainda mais atacado, ou triste.
Educar em público não é fácil. E em público nem sempre é em lugares públicos, pode ser na casa de parentes ou amigos. É nesses momentos que as crianças mostram os comportamentos mais criativos – e também os mais ofensivos. Você inevitavelmente verá aquela criança doce que tem em casa agindo de forma totalmente diferente: agitada, tagarela e, às vezes, ignorando todas as suas recomendações de bom comportamento. E agora, como lidar?
“O ideal é sempre elogiar em público e corrigir no particular. Porém, se for uma situação que não dá para esperar chegar em casa, o primeiro cuidado a tomar é não gritar ou reprovar em voz alta, e nunca compará-lo com outra criança que esteja no mesmo ambiente, pois isso pode derrubar sua autoestima”, orienta Daniela Masi, psicóloga, filha de Maria Christina.
Por isso, é fundamental que, antes de sair de casa, você reforce com seu filho o comportamento que espera dele fora de casa. A criança deve saber que os locais públicos pertencem a mais pessoas, e não é conveniente que se façam as coisas como cada um deseja. Conversem bastante e façam seus combinados; dependendo da idade da criança, avisos devem ser dados. Caso não sejam atendidos, voltarão para casa.
Sylvia van Enck, psicóloga especializada em famílias, mãe do Felipe, da Patrícia e avó do Thomas, reforça que a prática de impor limites deve ser diária, não apenas quando forem sair de casa. “Uma sugestão pode ser explicar o que irão fazer fora de casa e, se forem ao supermercado ou local de comércio, se não for a intenção comprar alguma coisa para a criança, dizer isso a ela e manter a palavra quando estiverem nas compras. Quero dizer que, se os pais dizem que não irão comprar nada, mantenham a palavra. Caso contrário, a criança saberá que se insistir conseguirá o que deseja. Os pais precisam ser coerentes em suas ações com os filhos”, completa Sylvia.
Hora do ataque
Começa o show. Ele faz tudo ao contrário do combinado, e é hora de agir. Qual a melhor forma de lidar com essa loucura? “É importante considerar que a criança, assim como qualquer pessoa, pode ficar constrangida ou até humilhada se for chamada à atenção em público de forma ostensiva, com gritos ou tapas”, afirma a dra. Sylvia. “Nessas situações uma ideia é pedir que se acalme, abaixar na altura da criança e, olhando bem nos olhos dela, lhe dizer que considera importante o que ela está querendo expressar e pedir que ela lhe ajude, dizendo se aquele problema é pequeno, médio ou grande. Qualquer que seja a resposta, pergunte como pode ser resolvido. Ou seja, ela deve fazer parte da solução do problema. Muitas vezes não temos ideia do quanto a criança pode colaborar nesse processo.”
Outra atitude fundamental é não deixar o passeio acabar por causa do que seu filho fez. A gente sabe que muitas vezes, depois de um “ataque” desses, nossa maior vontade é ir para casa, mas deixar o comportamento de seu filho estragar o jantar ou o supermercado fará com que ele perceba que tem poder sobre você, e pode se valer disso em outras oportunidades. E mais: não use o momento para lembrar outros comportamentos ruins do seu filho. Não vale a pena fazer uma coleção de erros. Passe uma borracha e siga em frente.
Recomponha-se
Não se deixe levar pela raiva do momento, para não perder a razão na hora de argumentar sobre o comportamento dele – você também precisa se comportar, não é mesmo? “Uma criança publicamente exposta tende a sentir- se diminuída e enfraquecida e não aprenderá nada. Chamar a atenção tem que fazer com que a criança se sinta responsável, não humilhada”, explica Blenda de Oliveira, psicanalista pela Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP) e psicoterapeuta de famílias, mãe da Caroline, da Gabrielle e da Mica. Por isso, respire fundo. Conte até 10. Não perca as estribeiras. Comportamentos explosivos incentivam outras explosões – e você não quer isso.
*Por Carolina Porne, filha de Sandra e Rubens
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