Uma gravidez esperada sempre gera muitas expectativas e felicidade. Mas quando ela não evolui como desejado e a mulher sofre um aborto, pode ocasionar sofrimento, insegurança e até culpa. Para algumas mulheres, o medo do aborto é maior do que a demora para engravidar, principalmente se elas passaram por abortos de repetição — casos em que ocorreram três abortos seguidos.
Uma pesquisa realizada em 2015 comprovou que entre três mulheres que sofreram um aborto espontâneo, duas não conseguem contar nem para suas melhores amigas sobre o ocorrido. A perda de um bebê pode ser traumatizante, isoladora e difícil de esquecer. Esse é um assunto muito sério e delicado, já que gera grande frustração para o casal, que está ansioso e cria expectativas para a chegada do bebê.
Os abortos são comuns em ao menos 20% das mulheres, tanto para as gestações naturais, quanto para as fertilizações. “Nem sempre o aborto acontece no primeiro trimestre, mas de fato é o período mais preocupante. O que deve ser levado em consideração é quando o aborto acontece mais de três vezes com menos de 20 semanas de gestação. Pode ter fator genético envolvido e por mais doloroso que seja o momento, a causa deve ser investigada”, afirma Dr. Ciro Martinhago, geneticista e diretor da Chromosome, clínica e laboratório especializada em medicina genômica.
Por que acontece?
“São muitos os casos e condições que podem causar um aborto espontâneo. Alguns fatores combinados, inclusive. Mas, tratando de genética, condições que podemos detectar analisando o feto, é possível identificar, prevenir e tratar alguns casos para evitar abortos futuros. Cerca de 60% dos casos de aborto que são investigados apontam como causa as alterações genéticas no embrião. Mas, as causas genéticas também podem incluir algumas anomalias monogênicas. E sempre ressalto o impacto da idade materna já que o risco de aborto devido a alteração genética é de 10% em mulheres com menos de 35 anos, e de 50% em mulheres com mais de 35 anos”, reforça o geneticista.
Além das alterações cromossômicas, que acontecem durante a divisão das células para formação dos óvulos e espermatozoides, as causas mais comuns são mudanças da anatomia do útero, miomas maiores que 4 centímetros, pacientes com trombofilia, diabetes, distúrbios da tireoide e hábitos como tabagismo, obesidade, alcoolismo ou uso de drogas.
Exames sem medo
A dor de um aborto anterior é tão grande que qualquer sinal de sangramento ou de anormalidade em uma nova gravidez já pode causar ansiedade e medo. Por isso, é muito importante investigar e saber o motivo da perda gestacional — a determinação da causa do aborto pode permitir tratamentos e intervenções clínicas necessárias para o sucesso da próxima tentativa, além de dar mais tranquilidade ao casal que lida com um aborto.
O problema é que os exames convencionais só dão resultados concretos em 60% dos casos de abortos investigados. No entanto, nos últimos anos, novos estudos e técnicas possibilitaram mais precisão para identificar os motivos da perda gestacional.
É o caso da clínica Chromosome, em São Paulo, que trouxe para o Brasil uma nova técnica, com o exame AFERO, que permite resultados assertivos em 99% dos casos. “Considerando que as alterações cromossômicas são responsáveis por 60% dos abortos, e podem chegar a 85% dependendo da idade materna, acho essencial fazer o mapeamento genético do feto”, explica o especialista.
Se você passou ou está passando por isso, temos uma informação que pode te dar esperança e alívio: mesmo após três abortos consecutivos, as chances de uma mulher ter uma gestação com sucesso são de 70%. “Um conselho que posso dar é que o casal sempre investigue a causa, mesmo que seja um momento muito dolorido. Enfrentar isso é a chance aumentada de não ter de passar por isso de novo. Além disso, é recomendado acompanhamento psicológico e estilo de vida que favoreça o bem-estar e afaste a ansiedade e a tensão”, conclui o médico.
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