Gravidez

Transplante de útero: o que é, como é feito e por que a técnica é promissora para casais inférteis

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Publicado em 09/02/2021, às 08h03 - Atualizado em 25/02/2021, às 19h23 por Cinthia Jardim


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O transplante de útero surge como uma opção para o sonho da maternidade que é impedido pela ausência do órgão, ou até mesmo quando ele não é saudável e impossibilita a gravidez. Apesar de ser um procedimento bastante novo e complexo, a cirurgia ainda é considerada experimental no Brasil, mas pode ser uma alternativa em breve para as famílias.

O transplante de útero é recomendado em casos em que a mulher não possui o órgão ou houve a retirada (Foto: iStock)

Em setembro de 2016, no Brasil, pelo Hospital das Clínicas da FMUSP, uma equipe com 14 médicos se preparou para anunciar um momento histórico: o primeiro transplante de útero entre uma mulher que já havia falecido e outra que conseguiu, posteriormente, engravidar devido ao tratamento.

Diagnosticada com Síndrome de Mayer‐Rokitansky‐Kuster‐Hauser (MRKH), uma doença que pode afetar uma a cada 4500 mulheres, a paciente de 32 anos recebeu o órgão de uma doadora de 45, que havia sofrido uma hemorragia entre o crânio e o cérebro. Durante a vida, a doadora já havia passado por três partos.

Após quase seis horas de cirurgia, o procedimento foi considerado um sucesso e o primeiro bebê veio ao mundo no dia 15 de dezembro de 2017. Em entrevista exclusiva com o Dr. Dani Ejzenberg, responsável por coordenar a equipe de 14 médicos, membro fundador da Sociedade Internacional de Transplante Uterino, pai de Davi e Michel, e com o imunologista Dr. Ricardo Manoel de Oliveira, fundador e diretor clinico responsável na RDO Diagnósticos Médicos, tiramos as principais dúvidas sobre transplante de útero e como o processo funciona no Brasil. Entenda como acontece a gravidez após o transplante e se existem riscos depois do procedimento para a saúde da mulher.

Como o transplante de útero é feito?

Segundo Dani, o primeiro passo é fazer uma avaliação da receptora para checar o estado de saúde. “Depois, fazemos um ou mais ciclos de fertilização in vitro para garantir que ela terá bons embriões e a partir daí, ela passa a aguardar um útero compatível. Após garantirmos que ela não terá reação ao órgão transplantado, iniciamos as transferências de embriões em busca da gestação. O processo envolve uma equipe multidisciplinar que, no caso do Hospital das Clinicas, envolveu o Centro de Reprodução Humana, a Disciplina de Transplante Hepático e a Disciplinas de Obstetrícia e Ginecologia”.

O transplante feito a partir de uma doadora falecida é mais complexo?

Depende. No caso da doadora ser falecida, não há necessidade de internação ou qualquer outro risco cirúrgico. Desta maneira, segundo o ginecologista, os custos podem ser menores. “Porém é necessário uma equipe à disposição 24h por dia para poder remover o órgão, porque nunca sabemos quando haverá uma doadora compatível. Ao falarmos de uma doadora falecida, existe um tempo maior em que o órgão fica sem receber sangue e oxigênio e por isso é mais difícil de ser executado”.

Quando o transplante de útero é recomendado?

“O transplante de útero seria recomendado para pacientes que nasceram sem útero ou com malformação uterina importante (Sindrome de Meyer Rokitansky Kuster Hauser, útero hipoplasico), que perderam o útero durante a gestação ou parto (rotura uterina, atonia uterina, infecção), que tiveram que retirar o útero por causa de algum câncer, como o de colo do útero, endométrio, ou ovariano, ou complicação de alguma cirurgia para mioma ou adenomiose”, explica Ejzenberg.

Quais os riscos para quem recebe o útero?

Como em qualquer outra cirurgia, existem riscos como reações a anestesia, infecções e sangramentos. Mas, após o procedimento de transplante de útero, pode ocorrer a trombose ou ainda rejeição ao órgão. “Até o momento não há reporte de nenhuma complicação mais grave entre os centros que participam da Sociedade Internacional de Transplante Uterino apesar da necessidade de remoção de alguns órgãos”, diz Dani Ejzenberg.

É possível engravidar de forma natural após o transplante?

Infelizmente, não. Até o momento, o procedimento é feito sem o transplante das tubas uterinas, impedindo que a gravidez ocorra de forma natural. Como alternativa, a família pode optar pela fertilização in vitro (FIV). “Isto ocorre porque não desejamos que a paciente fique muito tempo tomando os imunossupressores ate conseguir engravidar”, explica o médico.

Após o transplante de útero, a mulher precisa passar por uma Fertilização in Vitro para conseguir engravidar (Foto: iStock)

Em um útero transplantado, no entanto, é possível apenas ter aproximadamente duas gestações, para evitar assim que não haja necessidade de tomar medicações imunosupressores e evitar a rejeição do órgão.

Como fica a menstruação após o transplante de útero?

Entre aproximadamente 30 e 60 dias após a realização da cirurgia, a paciente volta a menstruar no período reprodutivo. Com o tempo, é possível ter ciclos regulares.

Quanto custa um transplante de útero?

Por ainda ser algo experimental e recente, o transplante de útero ainda é inviável para diversas mulheres por ter um custo muito elevado. Segundo dados da BBC, é estimado que o valor da cirurgia fique entre US$ 200 mil e US$ 500 mil, cerca de R$ 1,1 milhão a R$ 2,7 milhões, além de não ser coberto por planos de saúde.

Como entrar na fila de transplante de útero?

Infelizmente, no Brasil só é possível realizar o transplante de útero a partir de um protocolo de pesquisa, segundo o especialista. Até o momento, o procedimento ainda não faz parte do Sistema Único de Saúde (SUS).

Barriga solidária

No Brasil, por ainda ser um processo experimental é necessário aprovações e protocolos para o transplante de útero. Como alternativa, o Dr. Ricardo Manoel de Oliveira explica que durante as consultas os casais são aconselhados a optarem pela barriga solidária a partir de um parente próximo. “Os casos que eu tive, felizmente, quem ajudou no processo foi a mãe. Então hoje, a primeira escolha que nós damos, quando temos um problema desse tipo, é utilizar uma barriga solidária que a lei permite. Nos Estados Unidos, que é diferente daqui, você paga pela barriga, então eles escolhem um casal que já tem filhos e possui uma família bem formada”.

Sobre o trabalho de Dani, o imunologista comenta que no futuro o procedimento será promissor. “É evidente que o transplante de cadáver, que foi o que o Dani lançou no mundo, muito mais simples de fazer, se tornar-se uma rotina, vai ser a primeira opção sem dúvida alguma, porque a mulher irá gerar o próprio filho”.

“Ate o momento o transplante uterino no Brasil é considerado experimental porem com o aumento do número de casos realizados no mundo todo esperamos poder oferecer esta alternativa em breve para as nossas pacientes. Já foram realizados transplantes com sucesso na Suécia, nos Estados Unidos, no Líbano, na Índia, na China, na Alemanha e já há no mundo mais de 20 nascidos através desta técnica”, conclui o ginecologista.

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