O sucesso do filme Ainda Estou Aqui, dirigido por Walter Salles, não pode ser dissociado da brilhante performance de Fernanda Torres no papel de Eunice Paiva. Recentemente, a atriz conquistou o Globo de Ouro 2025 de Melhor Atriz de Drama, um reconhecimento mais do que merecido por sua interpretação de uma mulher que enfrenta a dor da perda e a busca pela verdade no contexto da Ditadura Militar. No entanto, o caminho para que Fernanda fosse escolhida para o papel de Eunice não foi tão simples quanto parece. A atriz foi, na verdade, a segunda opção do diretor, sendo superada inicialmente por Mariana Lima, que acabou desistindo do projeto devido a questões pessoais e de saúde. A história por trás dessa decisão nos mostra os desafios e a imprevisibilidade que fazem parte da vida de um artista.
Mariana Lima, com 52 anos, foi a primeira escolha do diretor Walter Salles para viver Eunice Paiva no filme. No entanto, apesar de sua vontade de participar, ela não pôde seguir adiante com o papel devido a momentos difíceis em sua vida pessoal e problemas de saúde. “Cheguei a ver fotos, estudar um pouquinho. Mas aí veio esse meu processo, Walter achou que eu não ia dar conta. E, realmente, eu não ia”, revelou Mariana em uma entrevista ao jornal O Globo, em dezembro de 2024. A atriz estava passando por um divórcio complicado com o ator Enrique Diaz, após 25 anos de casamento, além de enfrentar questões relacionadas à sua saúde. Diante dessa situação, ela tomou a difícil decisão de se afastar do projeto, o que abriu caminho para Fernanda Torres assumir o papel.
Mariana Lima, que sempre foi admirada por sua competência e talento, expressou em sua entrevista que ainda não havia conseguido assistir ao filme. “Não consegui. Sei que vai bater num lugar… Mas vou ver. Fico super feliz com tudo que está acontecendo com o filme, mas tenho sensação que não era para ser… Amo o Waltinho. Ele disse: ‘A gente vai fazer um filme juntos, fica tranquila’. Mas, na época, doeu bastante”, confessou ela, emocionada com o fato de o projeto ter seguido em frente e de ter sido bem-sucedido, mesmo sem ela. A relação de afeto com Walter Salles, a quem chama carinhosamente de “Waltinho”, reflete um vínculo de respeito mútuo e compreensão, mesmo após a sua saída.
Quando a oportunidade se abriu para Fernanda Torres, a atriz rapidamente se envolveu com o projeto, sentindo-se desafiada a dar vida a Eunice Paiva, uma mulher de muita força e determinação, mas também vulnerável diante da perda de seu marido, Rubens Paiva, que foi desaparecido durante a Ditadura Militar. A atuação de Fernanda, no entanto, não veio sem sacrifícios. Ela foi convidada para interpretar Odete Roitman no remake de Vale Tudo, mas optou por não aceitar o papel em função dos compromissos já assumidos com Ainda Estou Aqui. Como ela mesma explicou em entrevista ao O Globo, “Tudo é muito cansativo e não dava para eu começar um trabalho dessa responsa já cansada”, declarou.
A decisão de Fernanda em recusar o convite para Vale Tudo demonstrou seu compromisso com o papel em Ainda Estou Aqui, algo que, ao final, foi recompensado com o prêmio de Melhor Atriz no Globo de Ouro 2025. A atriz, que já possui uma longa e admirada carreira, evidenciou em sua fala que a escolha de Walter Salles por ela, embora não tenha sido a primeira, foi uma experiência gratificante e um verdadeiro aprendizado. “Eu não era a primeira opção do Walter para o ‘Ainda Estou Aqui’. Essas coisas são normais no nosso trabalho. É de quem faz no fim”, declarou Fernanda, mostrando maturidade e compreensão sobre a dinâmica do mercado de cinema.
A escolha de Fernanda Torres para interpretar Eunice Paiva foi, sem dúvida, uma decisão acertada. Sua performance no filme não só conquistou a crítica especializada como também tocou o coração do público. Ao retratar uma mulher que, apesar da dor profunda da perda e da luta pela justiça, consegue seguir em frente com força e dignidade, Fernanda deu vida a uma das personagens mais marcantes da produção nacional recente. O prêmio de Melhor Atriz no Globo de Ouro 2025 reforçou a importância de seu trabalho, que foi destacado por sua entrega emocional e sensibilidade.
Além disso, Ainda Estou Aqui aborda temas que continuam sendo relevantes para a sociedade brasileira, como a luta pela verdade e a necessidade de se manter viva a memória histórica, especialmente no que diz respeito aos períodos de repressão e violação dos direitos humanos. A relação de Eunice com seu marido, Rubens Paiva, que foi preso, torturado e morto durante o regime militar, se torna o fio condutor de uma narrativa que reverbera até os dias de hoje. A interpretação de Fernanda Torres, ao lado da direção precisa de Walter Salles, permitiu que o filme tocasse uma ferida histórica que ainda precisa ser curada.