Você já parou para pensar que algumas formas de “cuidado” podem, na verdade, machucar? Não falo de maus-tratos intencionais, mas de práticas que ainda são vistas como normais em muitas famílias. A palmada “para corrigir”, o grito “para impor respeito”, o castigo “para aprender a lição”.
Uma pesquisa da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal com o Datafolha mostrou que 29% dos responsáveis por crianças de até 6 anos admitem bater, 58% colocam de castigo e 43% recorrem ao grito.
Em outro levantamento, o PIPAS*, aponta que 47% dos cuidadores ainda acham válido gritar ou bater como disciplina. Esses números assustam, mas revelam algo importante: não é falta de amor. É falta de alternativa conhecida. É o que se aprendeu e o que se repete.
A gente só precisa de outra alternativa viável
E existe também uma forma silenciosa de violência: a ausência. Sabe quando a gente deixa a criança horas e horas em frente à tela porque “ela fica quietinha”? Pois é. Segundo a pesquisa TIC Kids Online, 63% das crianças pequenas passam mais de duas horas por dia diante das telas. Nesse tempo não há troca, não há fala, não há escuta. Parece inofensivo, mas também afasta o que a criança mais precisa: a presença do adulto.

Então, como cuidar de um jeito que acolhe, protege e fortalece? A resposta está no chamado cuidado responsivo. Isso nada mais é do que estar com olhos atentos, ouvidos disponíveis e respostas coerentes aos sinais da criança. Não é técnica complicada nem manual impossível de seguir.
E sabe onde isso acontece de forma natural? No brincar. Brincar é a linguagem da criança. É como ela mostra o que sente, o que deseja, o que teme e o que sonha. Quando entramos nessa linguagem, com afeto e atenção, o brincar vira diálogo. Não precisa brinquedo caro, não precisa hora marcada: precisa de vontade de se conectar. Um dado que me marcou: 24% das crianças não brincaram em um período de três dias, segundo pesquisa da USP. Imagine o impacto disso na infância!
Por isso, nesta coluna, meu convite é claro: quando pensamos em educar com firmeza e afeto, sem gritos, sem castigos e sem telas como babás, precisamos lembrar do brincar. Não como passatempo, mas como ferramenta poderosa de cuidado. Porque cuidar é brincar. E brincar é cuidar.










