Você acabou de almoçar, está cheia e jura que não consegue comer mais nada. Mas, de repente, passa um garçom com uma torta de chocolate e… pronto! O “estômago da sobremesa” entra em ação. Mas afinal, por que isso acontece? Um estudo do Instituto Max Planck para Pesquisa do Metabolismo trouxe uma resposta cientificamente deliciosa.
O segredo está no cérebro (e não no estômago!)
Os cientistas descobriram que nosso cérebro tem um mecanismo que incentiva o consumo de açúcar mesmo quando já estamos saciados. Isso acontece porque certos neurônios são ativados pelo açúcar e liberam substâncias que proporcionam prazer. Em outras palavras, seu cérebro gosta tanto de doce que simplesmente ignora o fato de que você já comeu o suficiente.
Henning Fenselau, líder do estudo, explica que a pesquisa teve como foco entender por que o desejo por doces persiste mesmo após uma refeição completa. E o segredo parece estar nos neurônios POMC, que regulam o apetite e o metabolismo.

Como os neurônios POMC reagem ao açúcar?
Os neurônios POMC são os “chefes” do apetite no nosso cérebro. Quando você come algo doce, eles liberam um opioide natural chamado beta-endorfina, que ativa os receptores cerebrais de prazer. Resultado? Seu cérebro adora e pede mais.
Para testar essa teoria, os cientistas fizeram experimentos com camundongos. Quando bloquearam essa resposta no cérebro dos animais, eles reduziram significativamente o consumo de açúcar. Ou seja, se seu filho pede bis do brigadeiro, agora você já sabe: a culpa é da neurociência.
Isso acontece com todo mundo?
A pesquisa também investigou se o mesmo ocorre em humanos. Voluntários passaram por exames cerebrais enquanto consumiam açúcar, e os resultados mostraram que sim: nosso cérebro reage ao açúcar da mesma forma que o dos camundongos. E tudo isso pode ter uma explicação evolutiva.
Antigamente, encontrar açúcar na natureza era raro, e ele fornecia energia rápida. Dessa forma, nosso cérebro aprendeu a valorizar esse tipo de alimento e a buscá-lo sempre que possível. Hoje, o problema é que o açúcar está por toda parte e em excesso.
Como controlar o desejo por doces?
Agora que sabemos que o cérebro tem um “modo sobremesa”, surge a pergunta: é possível desligá-lo? Algumas estratégias estão sendo estudadas, como medicamentos que bloqueiam os receptores opioides e ajudam a reduzir a compulsão por doces. Mas ainda são necessárias mais pesquisas para entender se é possível “desaprender” essa resposta ao açúcar.
Enquanto isso, a solução pode estar na moderação e no equilíbrio alimentar. Pequenos hábitos, como reduzir o açúcar gradualmente e substituir doces por frutas, podem ajudar a reeducar o paladar e minimizar o impacto dessa resposta cerebral.
Cada pessoa sente o doce de um jeito
Um ponto curioso que os cientistas ainda querem investigar é se essa resposta ao açúcar varia de pessoa para pessoa. Já percebeu que algumas pessoas são “formigas” e outras conseguem passar longe dos doces? Pode ser que algumas tenham um sistema de recompensa mais sensível ao açúcar, o que explicaria a dificuldade de resistir.
Compreender essas diferenças pode ajudar no futuro a criar estratégias personalizadas para reduzir o consumo excessivo de açúcar e combater problemas como a obesidade e o diabetes.
A ciência já mostrou que não é falta de força de vontade: seu cérebro realmente adora açúcar e faz de tudo para você querer mais. Mas, com algumas estratégias e mudanças de hábito, é possível driblar esse mecanismo e manter um consumo equilibrado.