Quando chega a hora das refeições, muitos pais se preocupam com o que os filhos vão comer. Será que eles vão aceitar os alimentos preparados ou insistir no mesmo cardápio de sempre? Para famílias atípicas, que têm crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA), essa questão se torna ainda mais desafiadora. A seletividade alimentar é um fenômeno comum entre crianças com TEA e pode impactar diretamente sua nutrição e qualidade de vida.
Por que a seletividade alimentar é comum no autismo?
Estudos apontam que entre 51% e 89% das crianças com autismo apresentam algum tipo de transtorno alimentar. Mas por que isso acontece? De acordo com a psicóloga e gerente técnica do Grupo Conduzir, especialista em Terapia ABA, Tássia Pina, há vários fatores que contribuem para esse comportamento.
“Algumas crianças com autismo têm uma necessidade maior de repetição e rituais, o que pode fazer com que se apeguem a determinados alimentos. Além disso, aspectos sensoriais, como textura, cor e sabor dos alimentos, podem ser fatores determinantes na rejeição de certos grupos alimentares. Dificuldades orais motoras também podem impactar na aceitação de novos alimentos”, explica a especialista.
Quando a seletividade alimentar se manifesta?
Os padrões restritivos de alimentação costumam surgir entre um ano e meio e dois anos de idade. É nesse momento que os pais percebem que a criança se recusa a experimentar novos alimentos e tem uma preferência exagerada por um cardápio limitado.
“Embora a intervenção possa ser feita em qualquer fase da vida, quanto mais cedo ela for iniciada, mais rápidos e eficazes podem ser os resultados. Isso porque comportamentos alimentares não adaptativos são fortalecidos com o tempo, tornando a mudança mais desafiadora”, ressalta Tássia.

Como tratar a seletividade alimentar em crianças com autistas?
Uma das abordagens mais eficazes é a terapia ABA (Análise do Comportamento Aplicada). Essa metodologia trabalha o desenvolvimento de habilidades para que a criança consiga se alimentar de forma autônoma, amplie sua aceitação alimentar e desenvolva comportamentos sociais relacionados à alimentação.
O tratamento deve ser realizado por uma equipe interdisciplinar, que pode incluir:
- Gastropediatra
- Nutricionista
- Psicólogo analista do comportamento
- Fonoaudiólogo
- Terapeutas ocupacionais
Essa abordagem integrada permite um tratamento mais eficaz, considerando os aspectos biológicos, psicológicos e sociais da criança.
O papel da família no processo
A participação da família é fundamental no tratamento da seletividade alimentar. Os pais precisam replicar as estratégias de desenvolvimento durante as refeições em casa, ajudando a reforçar os avanços alcançados na terapia.
“Cada criança é única e, por isso, o tratamento precisa ser individualizado. Algumas estratégias podem funcionar para um indivíduo, mas não para outro. O olhar atento e personalizado é essencial para o sucesso da intervenção alimentar”, pontua Tássia.
A seletividade alimentar é um desafio comum em crianças com TEA, mas pode ser trabalhada com abordagens adequadas. Com o suporte de profissionais especializados e o envolvimento da família, é possível ampliar a variedade alimentar da criança e melhorar sua qualidade de vida. Se seu filho apresenta dificuldades com alimentação, buscar apoio especializado pode ser o primeiro passo para uma mudança positiva.