A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou a primeira vacina contra a chikungunya no Brasil. Desenvolvido pelo Instituto Butantan em parceria com a farmacêutica Valneva, o imunizante é uma importante ferramenta no controle de uma doença que afetou cerca de 200 mil pessoas no país apenas em 2024.
Além do Brasil, a vacina já recebeu autorização de uso nos Estados Unidos, pela FDA (Food and Drug Administration), e na União Europeia, pela EMA (European Medicines Agency). A expectativa é que ela passe a integrar o calendário de imunizações do Sistema Único de Saúde (SUS) em breve.
Como a vacina age no organismo
A vacina é do tipo recombinante atenuada, ou seja, contém o vírus vivo em uma forma enfraquecida. Isso permite que o organismo reconheça o vírus e produza anticorpos, sem causar a doença. E um dos principais diferenciais é que o esquema vacinal prevê apenas uma dose.
Segundo o Instituto Butantan, essa abordagem mostrou alta eficácia, com resposta imunológica consistente e segura. A tecnologia utilizada também permite resposta rápida do sistema imune, característica essencial para regiões com alta circulação do vírus.
Resultados dos estudos clínicos
Os dados clínicos são promissores. Em um estudo de fase 3 realizado em 2024 com adolescentes brasileiros, foi observada a produção de anticorpos neutralizantes contra o vírus chikungunya em 100% dos participantes que já haviam sido infectados anteriormente e em 98,8% daqueles que nunca tiveram contato com o vírus.
Seis meses após a aplicação da dose, a proteção foi mantida em 99,1% dos participantes, indicando uma resposta duradoura. Esses resultados foram publicados em uma das mais respeitadas revistas científicas da área, a The Lancet Infectious Diseases.
Quem poderá tomar a vacina
Inicialmente, a vacina será disponibilizada para pessoas entre 18 e 65 anos. Estudos adicionais já estão em andamento para que o uso seja autorizado também em adolescentes, ampliando a cobertura vacinal para um público mais jovem.
A aplicação será priorizada em regiões consideradas endêmicas — ou seja, locais onde há maior incidência da doença. Grávidas, pessoas com imunodeficiência e imunossuprimidas não devem receber a vacina, conforme as recomendações atuais.

Quando começa a vacinação
Apesar da aprovação, a vacina ainda não está disponível nos postos de saúde. O próximo passo será a definição do valor de compra pelo SUS e a posterior incorporação ao Programa Nacional de Imunizações (PNI). Ainda não há uma data confirmada para o início da campanha de vacinação.
Produção nacional e independência tecnológica
O Instituto Butantan também trabalha no desenvolvimento de uma versão 100% nacional da vacina, com o objetivo de tornar a produção mais acessível e rápida. Essa nova formulação está em processo de análise pela Anvisa e por outros órgãos reguladores.
Essa etapa representa um avanço importante para a autonomia do Brasil na produção de vacinas, permitindo maior controle e agilidade em situações emergenciais.
O que é chikungunya e como se proteger
Transmitida pelo mosquito Aedes aegypti — o mesmo responsável pela dengue e pela zika —, a chikungunya é uma infecção viral que provoca febre alta e dores intensas nas articulações, especialmente em pés e mãos. Também podem ocorrer sintomas como dor muscular, manchas vermelhas e, em alguns casos, dores articulares crônicas.
Atualmente, não há tratamento específico para a doença, o que torna a prevenção ainda mais importante. Medidas como eliminar focos de água parada, manter lixeiras fechadas e limpar recipientes regularmente continuam sendo essenciais para evitar a proliferação do mosquito.
A expectativa é de que, em breve, a população das regiões mais afetadas tenha acesso à imunização. Até lá, manter os cuidados preventivos continua sendo a melhor forma de proteção.