Quando falamos sobre comunicação como causa, solução e prevenção de problemas, devemos levar em conta o uso de grandiosidade na comunicação entre pais e filhos e em outras relações. A grandiosidade pode ser expressa tanta de forma verbal, no conteúdo de uma fala, ou como não verbal, expressa na entonação de voz, e mesmo na gesticulação que acompanham a expressão da palavra.
É curioso notar que, em certos casais, um dos parceiros exagera na grandiosidade aumentativa, utilizando palavras, como “sempre”, “toda vez”, “extraordinário”, “maravilhoso” e outros superlativos. Enquanto isso, o outro parceiro exagera na grandiosidade negativa, recorrendo a termos como “péssimo”, “terrível”, “horrível”, “nunca” e “jamais”. Outras vezes um dos parceiros responde a qualquer pergunta inicialmente com um “não”. Um vício de linguagem muitas vezes não percebido pela própria pessoa. Lembro-me de um casal que atendi, no qual o marido começava quase todas as suas respostas com um “não”, enquanto a esposa, por sua vez, iniciava a maioria das respostas com um “sim”. Assim, ao longo destes 50 anos de prática, não foram poucas as vezes em que ouvi filhos dizerem: “Nem pergunto mais ao meu pai, porque a resposta dele é sempre ‘não’.” Ou então: “Não confio na minha mãe, porque ela diz ‘sim’ para tudo.”

Crianças que se desenvolvem em ambientes onde a grandiosidade é muito presente, crescem confusas e com nível maior de ansiedade devido a um quadro de referências impreciso. Como consequência, elas necessitarão encontrar informações com maior especificidade e precisão, para que possam servir de referência para suas escolhas.
Com frequência os pais perdem a credibilidade. Uma simples febre para um dos pais pode ser um “desastre” em potencial e para o outro uma “coisinha à toa”. Mesmo que não briguem por causa disto, já estão possivelmente gerando ansiedade na criança. Durante os vinte anos em que coordenei um grupo de apoio a pais de crianças com transtornos de aprendizagem na Associação Paulista de Medicina, conheci muitos pais que, diante da possibilidade de o filho ter TDAH, entravam em conflito: alguns consideravam o diagnóstico uma bobagem, enquanto outros se atormentavam com a ideia; uns eram radicalmente contra medicamentos, enquanto outros viam neles a única solução. Esses casais em conflito acabavam agravando problemas que nem sempre eram tão sérios. Isso ocorria tanto pela demora em decidir, como tratar, quanto pelas consequências dos desentendimentos. As crianças, por sua vez, frequentemente se sentiam culpadas pelo tormento entre os pais. A orientação parental apoiando os pais, mais uma vez, se mostra extremamente importante, para que em caso de diagnóstico, o tratamento seja preciso com maior possibilidade de êxito, tendo os pais alinhados.
Ao abordar essa característica negativa nas relações, não tenho a intenção de criticar as pessoas por seus vícios de comunicação. Recomendo que quem estiver lendo este texto o utilize, primeiramente, para se auto-observar. E caso perceba essa característica em outra pessoa, seja muito cuidadosa ao mostrar a ela esta característica.