Quantas vezes já não ouvimos alguém comentar com os pais, diante de algo que os filhos fazem — seja bom ou não:
“Também, só podia ser filho de fulano!”
ou
“Sem dúvida, puxou à mãe!”
É quase automática a ideia de que virtudes ou defeitos passam dos pais para os filhos sem filtro, como se fosse algo genético. Como se eles já nascessem com uma predisposição: bons alunos, caso os pais sejam estudiosos; atletas, se os pais forem esportistas.
Lembrei de outro jargão:
“Quem nasce aos seus não degenera!”
E, quando algo contraria essa expectativa, logo vem a frase:
“Nem parece filho de fulana de tal.”
Como quem diz: “Como pode ser tão diferente dos pais?!”
Esse determinismo genético, no entanto, esbarra em inúmeros outros fatores. É simplista demais olhar para os filhos como meras reproduções de quem somos. Aliás, é até um tanto onipotente imaginar que eles são apenas frutos de nós — do que somos ou do que plantamos.
Essa lógica leva à falsa ideia de que o sucesso (ou o fracasso) dos filhos depende única e exclusivamente dos pais.
Sem dúvida, nosso papel — a forma como educamos, os valores que transmitimos e a bagagem genética que carregamos — oferece caminhos possíveis. Se quisermos recorrer à Física, é como se tudo isso representasse energia potencial: armazenada, disponível, pronta para ser transformada em energia cinética, em movimento.
Mas, na prática, quem define se essa transformação acontecerá são os próprios filhos. Eles têm autonomia para fazer ou não essa conversão de energia. E, nesse ponto, por maior que seja a “carga energética” cultivada pelos pais, nada garante que ela será transformada em ação.

Por exemplo: por mais que os pais tenham incentivado os estudos, que tenham sido gênios ou os primeiros da classe, o desempenho escolar dos filhos é responsabilidade deles. Os méritos — e os deméritos — dessa performance também.
O que quero dizer é: por um lado, não podemos nos eximir da responsabilidade de sermos geradores dessa energia potencial. Por outro, não devemos achar que o resultado é garantido — e, muito menos, que tudo o que acontecer com os filhos será mérito ou culpa nossa. Não somos tão poderosos assim!
Os americanos têm uma expressão que combina perfeitamente com esse tema: “nature versus nurture” — a eterna discussão entre o que é fruto da criação, do ambiente e dos estímulos (nurture), e o que vem da natureza, da biologia, da genética (nature). Em português, poderíamos falar da dualidade entre nutrição e natureza — ou, se preferirmos manter o paralelo físico, entre energia potencial e energia cinética.
No fim das contas, é essa combinação — o que proporcionamos e como eles, com suas individualidades, operam e transformam — que molda quem os filhos são e serão. É a bela mistura entre nutrição e natureza. A interdependência entre o que deixamos como herança e o que eles fazem com isso.
Num mundo cada vez mais interligado e colaborativo, isso faz mais sentido do que nunca.