Ansiedade é a bola da vez, mal do século ou a personagem que veio com tudo no Divertidamente 2. Mas, de certo mesmo, a ansiedade é a doença que aflige quase 10% da população brasileira, segundo dados recentes da OMS. Com prevalência tão alta, as famílias não estão ilesas e tal quadro está invadindo muitos lares. O maior problema é que, cada vez de forma mais precoce e presente, as crianças têm sido também impactadas e são vítimas dessa epidemia do século 21.
Não por acaso, o psicólogo americano Jonathan Haidt, encontrou terreno fértil com seu livro “A geração ansiosa”, lançado no Brasil há pouco menos de um ano. Em amplo trabalho com base em sua prática clínica e pesquisas, o autor investiga como a era digital, especialmente o uso excessivo de smartphones e redes sociais, contribuiu para o aumento da ansiedade, depressão e problemas de saúde mental entre os jovens. Ele comprova e escancara algo que já estava latente e consciente para muitos pais.
O que me incomoda e me leva a refletir sobre este tema é pensar qual a nossa contribuição para que essa ansiedade infantil perpetue e ganhe fôlego extra dia após dia. A ansiedade está em muitos lugares e nossas casas não são bolhas isoladas que criam uma zona imune, aliás, bem longe disso. Nós pais somos também geradores de ansiedade, mesmo sem nos darmos conta. Como mãe também me encaixo na estatística como parte da cadeia que gera ansiedade. De que formas? Possivelmente cada um de nós de alguma forma. A seguir relacionando um punhado delas, já fazendo minha mea culpa.

- Ao lotar filhos com atividades e colocá-los diante de uma agenda quase de miniexecutivos estamos criando filhos que mal têm tempo para brincar e se divertir.
- Ao cobrar que falem línguas estrangeiras precocemente, frequentem escolas bilíngues, etc. Claro, o mundo globalizado pede isso, mas até que ponto isso não é mais uma ansiedade dos pais tentando preencher lacunas que eles têm e estão transferindo aos filhos?
- Ao permitir horas e horas de telas, inclusive durante momentos que deveriam ser de convivência familiar, como na hora das refeições, só como um exemplo.
- Ao antecipar desejos de consumo mesmo antes deles serem sequer cogitados pelas crianças.
- Superprotegendo os filhos e não permitindo que eles se frustrem, experimentem desafios e aprendam a descobrir soluções.
- Cobrança por perfeição e desempenho acima da média, seja na escola, em competições esportivas e outras atividades.
- Falta de tempo dos pais para os filhos, falta de trocas e espaços para discutir sentimentos.
- A própria ansiedade dos pais, muitas vezes estressados com suas vidas, despejam nos filhos boa parte dessa carga.
Listar é bem fácil, difícil é conseguirmos sair desse círculo vicioso. Nós, pais ansiosos, estamos gerando filhos ansiosos. Claro, nenhum pai ou mãe é maluco e faz isso de forma consciente ou proposital. Somos parte dessa sociedade ansiosa que transpira pressa, pressão e performance. Infelizmente não estamos sozinhos nisso e estamos carregando nossos filhos para o mesmo abismo. Ter consciência já é um primeiro passo para interrompermos essa cadeia.