Luzes piscando, árvores enfeitadas, família reunida e Papai Noel! Enquanto para muitos o Natal é a melhor época do ano, outros torcem para que ela nunca chegue — isso porque essa data pode trazer à tona alguns medos e traumas desenvolvidos na infância.
Em um primeiro momento, quando se ainda é bebê, o medo em relação ao Papai Noel pode surgir a partir de um não reconhecimento da figura natalina, mas quando o desconforto permanece ao longo dos anos, é possível que a criança tenha associado a figura do bom velhinho a um trauma sofrido anteriormente.
![Algumas pessoas podem ter medo do Papai Noel, e esse trauma pode vir da infância](https://paisefilhos.com.br/wp-content/uploads/2024/11/httpswww.paisefilhos.com_.brmediauploadslegacydfb7338c8ded8794d8f3fa3ad5c7058ec7f352741c.jpg)
O que causa o medo do Papai Noel?
Levando em conta que o Natal acontece uma vez por ano, a criança vai ter o primeiro contato com o Papai Noel antes do seu primeiro ano de vida — uma fase em que ela ainda está muito vulnerável e aprendendo a reconhecer a própria família. Quando em contato com algo ou alguém diferente do que estava acostumada, a criança pode não reagir bem e ficar com medo.
“Ela é colocada em frente a uma figura que apesar de ser humana é descaracterizada — porque o rosto está todo coberto por uma barba branca e por um chapéu, então uma criança que começou a identificar rostos humanos recentemente não vai conseguir identificar que figura é aquela. A imprevisibilidade causa muita sensação de insegurança, principalmente uma criança pequena”, explica a psicóloga especialista em traumas Ediane Ribeiro, filha de Maria Madalena e Antônio Xavier.
Em festas de família, em que é comum alguém se fantasiar, ou até nos shoppings na época do Natal, a criança pode ser colocada em uma situação de exposição com o Papai Noel, fazendo com que ela se sinta ainda mais insegura. Assim, o cérebro dela vai associar essa figura ao risco, ao perigo e ao medo, toda vez que ela a ver. “A criança pode ter a percepção de que foi colocada no colo de um estranho e não consegue ver por perto figuras que causam segurança. A criança se sente desamparada ao lado de uma figura estranha que ela não consegue decodificar”, diz.
Por mais que os pais gostem muito do Natal e queiram que os filhos tirem a famosa foto com o Papai Noel, se ele não quiser, você não deve insistir – não é não! ” A criança aprende a respeitar as próprias emoções quando as emoções delas são respeitadas pelos adultos próximos a ela. Quando você respeita a emoção da criança você está ensinando que a emoção dela é importante e que ela própria precisa respeitar a emoção dela no futuro”, aponta a especialista.
Ainda quando seu filho não souber falar, ele vai demonstrar que não está contente com aquela situação de outra forma. “Quando a criança sente um desconforto ela vai chorar para afetar o adulto. Com o sistema nervoso ainda muito imaturo, ela não consegue decodificar o desconforto, então ela chora. Essa é a forma que ela tem de dizer que não está segura e que está com medo daquela situação”, fala a psicóloga.
![Não insista que seu filho fique na presença do Papai Noel caso ele tenha medo](https://paisefilhos.com.br/wp-content/uploads/2024/11/httpswww.paisefilhos.com_.brmediauploadslegacyffef4912b5577b00a1ec3b2933ddc39c9337cb05e1.jpg)
Além disso, situações mais sérias e impactantes podem acabar gerando traumas profundos nas crianças. “O Papai Noel ter apertado, ter tocado de forma inadequada essa criança pode ter sido uma vivência realmente traumática”. Às vezes, a situação não acontece diretamente com uma pessoa fantasiada de Papai Noel — a criança pode ter associado o problema a essa figura natalina. “Imagine que uma criança que está deitada na cama e sofre uma agressão. No momento em que ela está sentindo dor tem um boneco de Papai Noel do lado dela. O cérebro associa esses estímulos. Ela sabe que viu o Papai Noel enquanto ela sofreu essa violência”, exemplifica Ediane.
Como o nosso cérebro assimila fragmentos das experiências no futuro, uma criança que já sofreu algum tipo de trauma e associou esse problema ao Papai Noel pode ter um medo constante relacionado a essa figura. “A junção entre uma experiência de medo e a insegurança são a receita do que a gente chama de trauma no futuro. A criança pode ver um Papai Noel e entrar numa situação de desconforto por associar com algo que já aconteceu com ela”, comenta a especialista.
Medo ou trauma?
É possível perceber a diferença entre o medo do Papai Noel e o trauma associado a ele. Quando a criança fica irritada e sente desconforto na presença dele, mas depois que ele vai embora ela volta a ter o comportamento normal, provavelmente pode ser o medo causado pelo não reconhecimento da personagem. Mas fique atento! Caso o medo persista, mesmo após a época do Natal e a saída do Papai Noel, pode ser trauma.
Pesadelos e reclamações constantes ao longo de todo o ano sobre o Papai Noel são sinais que devem deixar os pais em alerta. “Quando os sintomas começam a persistir no tempo, a gente pode pensar em uma associação com outras coisas, porque o Papai Noel foi só um gatilho que a fez lembrar de uma situação traumática”, conta Ediane.
![Pesadelos constantes são sinais de trauma](https://paisefilhos.com.br/wp-content/uploads/2024/11/httpswww.paisefilhos.com_.brmediauploadslegacy52cb64b579e2328f15108f2367b335f03792f357ca.jpg)
Vamos supor que a criança está brincando e de repente ela começa a chorar. O pai, a mãe ou o responsável que estiver por perto pergunta o que aconteceu e ela diz que se lembrou do Papai Noel do shopping, por exemplo. Isso significa que o medo persistiu, mesmo quando o Papai Noel não está presente em cena. “Esses sinais são importantes de serem observados pois podem significar uma situação mais relacionada com o trauma do que com o medo do estranho. Essas situações mais graves vão precisar de um acompanhamento profissional”, sugere a psicóloga.
Adultos também têm medo de Papai Noel?
Como a maioria dos casos, os traumas carregados para a vida adulta foram desenvolvidos durante a infância. Se a criança sofreu um trauma associado ao Papai Noel, é possível sim que quando adulto ainda sinta medo e desconforto frente a essa figura. O que muda é a forma de manifestar esse sentimento e de se comportar perto do Papai Noel.
O trauma em relação ao Papai Noel é perceptível quando essa pessoa se sente ansiosa na presença dele. “A diferença é que no adulto a manifestação do medo vai ser diferente da criança. Como tem um pouco mais de regulação emocional, o adulto já tem maturação do sistema nervoso e todas as áreas do cérebro mais desenvolvidas, que o ajudam a sentir o desconforto e não precisar colocar esse sentimento para fora em forma de choro”, diz a especialista.
![Mamãe Noel em cenário natalino](https://paisefilhos.com.br/wp-content/uploads/2024/11/httpswww.paisefilhos.com_.brmediauploads202312papai-noel-1-1.jpg)
Possivelmente, um adulto traumatizado vai ser aquele que costuma não gostar e nem frequentar festas de Natal, sem um motivo aparente. Esse desconforto pode estar relacionado a um trauma desenvolvido na infância que precisa de acompanhamento psicológico para ser superado.
Como os pais podem ajudar a criança a superar o trauma?
O primeiro passo é não insistir e nem obrigar o seu filho a tirar fotos com o Papai Noel ou ficar no mesmo ambiente que ele. “Se a criança já começa a chorar e a ficar assustada, a primeira coisa que os pais devem fazer nessa situação é se afastar do estímulo que está causando essa ativação emocional na criança. Em outras palavras: sair da frente do Papai Noel”, fala a psicóloga.
O segundo passo é a regulação emocional em crianças, principalmente as mais pequenas. É através do toque e do contato com os pais que o seu filho vai se sentir protegido e mais seguro. “A primeira regulação emocional que a criança recebe é pelo contato físico. É instintivo que quando você vê um bebê chorando você o pegue no colo para balançar. Quando a gente pega essa criança no colo, estamos ajudando a regular o sistema nervoso dela que recebeu uma carga de estresse. Dar o calor do contato e mostrar conexão ajudam a criança a se sentir em segurança”, afirma Ediane.
![Conversar sobre o medo de papai noel](https://paisefilhos.com.br/wp-content/uploads/2024/11/httpswww.paisefilhos.com_.brmediauploadslegacy68fc98917b8c1a9637653b2d26a7bfeb6fced00ed6.jpg)
Você também precisa estabelecer uma relação com a criança na qual ela se sinta confortável para conversar com você e expor os medos. Para isso, é fundamental validar as sensações e emoções do seu filho, para que ele não ache que aquele sentimento é inadequado e sinta culpa ou vergonha.
Quando perceber sinais de trauma, leve seu filho ao psicólogo. Um bom profissional pode fazer o diagnóstico e, ao longo do acompanhamento, apontar o que pode ter acontecido. “Os pais não precisam se aventurar em desvendar os traumas ou qualquer coisa dessa natureza. Se a gente tem uma situação clara de trauma, precisa de um acompanhamento profissional. O que os pais podem fazer é oferecer um vínculo de segurança e de afeto para essa crianças”, diz a especialista.