A Páscoa está chegando e junto com ela vêm os coelhos, os ovos de chocolate e aquela ansiedade gostosa dos filhos. Mas, para pais de crianças com diabetes tipo 1, essa época pode causar mais apreensão do que empolgação. Será que dá para curtir a data sem comprometer a saúde? A verdade é que dá sim, de um jeito mais simples do que parece.
De acordo com o Atlas da Federação Internacional de Diabetes, cerca de 100 mil crianças e adolescentes vivem com diabetes tipo 1 no Brasil. Isso significa que milhares de famílias passam pelo mesmo dilema nesta época doce do ano, então a endocrinopediatra Mônica Gabbay e cofundadora da plataforma G7med esclarece algumas dúvidas que costumam surgir sobre o tema.

O chocolate está permitido?
A resposta é sim, com responsabilidade. “Mesmo crianças com diabetes tipo 1 (DM1) podem comer chocolate, desde que o alimento esteja incluído no plano alimentar e dentro de uma rotina equilibrada”, afirma a médica.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que o açúcar não ultrapasse 10% das calorias diárias de crianças pequenas — o que gira em torno de 25g por dia. Um ovinho de 30g pode ter cerca de 15g de açúcar, então dá para encaixar na dieta com um pouco de estratégia.
Para as crianças com diagnóstico de pré-diabetes, a dica é apostar em chocolates com 70% ou mais de cacau. Além de terem menos açúcar, esses produtos são ricos em antioxidantes que fazem bem para o corpo todo. “Evitar os picos de glicemia e ensinar uma relação saudável com os alimentos é o que mais importa”, ressalta Mônica.
Chocolate causa diabetes?
Essa é clássica, e a resposta é não. Comer chocolate, por si só, não causa diabetes. O problema está nos excessos: quando o açúcar vem em altas doses e é acompanhado de sedentarismo, o risco aumenta. A obesidade infantil é hoje um dos grandes fatores para o desenvolvimento do diabetes tipo 2.
Se a criança exagerar nos doces, vale ficar de olho em sinais como muita sede, cansaço, irritação, dores de cabeça ou urina frequente. Em crianças com DM1, esses sintomas podem indicar hiperglicemia, então é necessário conferir a glicemia e ajustar a insulina, sempre com apoio médico.
A Páscoa para além do chocolate
Mônica garante: é totalmente possível adaptar a celebração sem perder o brilho da data. “Criar momentos significativos, com atenção e afeto, ajuda a criança a perceber que a Páscoa é mais sobre amor do que sobre açúcar”, diz ela.
Algumas ideias práticas incluem:
- Trocar ovos gigantes por pedacinhos menores ao longo da semana;
- Escolher chocolates com mais cacau e menos açúcar;
- Fazer uma caça aos ovos em casa, com pistas e surpresas divertidas para tirar o foco do chocolate;
- Chamar a criançada para cozinhar receitas com menos açúcar, usando cacau natural e adoçantes seguros.

E os chocolates diet?
Pode também, mas com cautela. Chocolates diet são feitos para pessoas com diabetes, mas muitas vezes têm mais gorduras. “Diet não é sinônimo de saudável”, alerta a endocrinologista.
Prefira opções feitas com ingredientes naturais, como frutas secas mergulhadas no chocolate amargo, ou até mesmo versões caseiras com leite vegetal. Mas o segredo mesmo está no equilíbrio e no acompanhamento com nutricionista ou endocrinologista.
Afinal, o que realmente importa?
No fim das contas, a melhor Páscoa é aquela cheia de afeto, presença e cuidado. O chocolate pode estar presente, mas a saúde vem primeiro. Com um olhar atento e boas escolhas, a data pode ser deliciosa e inesquecível para todos.
Se você é pai ou mãe de uma criança com diabetes, lembre-se que a informação é o melhor presente que você pode dar. E um pedacinho de chocolate bem administrado também não faz mal a ninguém.